quarta-feira, 22 de novembro de 2023

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O Top Gear não é um espetáculo feito por três pessoas que faziam muito mais que rever automóveis. Três adultos que tinham mente de pré-adolescentes e faziam coisas absolutamente sem freio, para gosto de imensos, que no fundo, não deixaram de ser rebeldes, crianças que nunca cresceram. Existia um programa antes disso, mas foram quatro pessoas que mexeram ao ponto de se tornar naquilo que marcou uma geração.

E quando eles foram embora, todos notaram que o programa ficou vazio, uma casca sem interior, que demorou até encontrar um trio que parecia poder recuperar algum do seu brilho anterior. Mas quando estavam ao ponto de lá chegar, um acidente estragou tudo. E um ano depois desse acidente, a BBC decidiu que o programa seria cancelado. 

Tudo começou em dezembro de 2022 quando gravavam um episódio para a temporada de primavera quando Freddie Flintoff, ex-internacional de cricket por Inglaterra e um dos apresentadores, ao lado de Chris Harris e Paddy McGuiness comediante e apresentador, sofreu um acidente e ficou ferido no rosto. Por causa disso, recebeu uma indemnização de nove milhões de libras pelos danos físicos causados por esse acidente. A BBC decidiu abrir um inquérito interno para saber as condições em que os programas estavam a ser feitos, se violavam as leis locais para a segurança no trabalho e agora que o inquérito terminou, decidiram que o programa não voltaria ao ar.  

Sabemos que interromper o programa será uma notícia dececionante para os fãs, mas é a coisa certa a fazer”, disse a BBC no seu comunicado oficial. “Todas as outras atividades do Top Gear permanecem inalteradas, incluindo formatos internacionais, digitais, revistas e licenciamento.” Ou seja, as versões internacionais do programa, como as revistas, continuam. 

O Top Gear apareceu em 1977, e foi um programa de automóveis como todos os outros. Teve ligações ao automobilismo - o rali RAC chegou a ser transmitido através desse programa - mas em 1988, contrataram um jovem alto, então com 27 anos, e com língua afiada. O seu nome era Jeremy Clarkson. Pouco depois chegou um amigo dele da escola, chamado Andy Wilman, que se tornou produtor do programa, e eles começaram a combinar algumas coisas para que o programa se tornasse mais sedutor e mais arriscado, saindo fora da caixa. Em meados da última década do século XX, existiam uma quantidade de apresentadores como Quentin Wilson, o ex-piloto Tiff Needell, uma apresentadora, Vicky Butler-Henderson, e em 1997, apareceu outro jovem, de seu nome James May

Em 2001, a BBC decidiu cancelar o Top Gear, devido às baixas audiências, mas no ano seguinte, um novo Top Gear aparecia, determinado a ser algo bem diferente do anterior. Ali, Wilman estava atrás das cenas, e quem dava a cara era Clarkson, que tinha com ele Richard Hammond, um misterioso piloto de testes chamado The Stig (de preto, era outro ex-piloto, Perry McCarthy) e... Jason Mawe. Hein? Pois é, os Três Estarolas não apareceram logo no primeiro programa. Na primeira temporada, hoje pouco falada, existiu um terceiro apresentador que não fez muita história e não deu grande química. No inicio da segunda, em 2003, May reapareceu e o resto foi história nos 11 anos seguintes.

Até o dia em que Clarkson deu um murro num produtor, num dia muito exaustivo de filmagens. O "orangotango", que tinha detratores tão fortes como admiradores, foi despedido da BBC, depois de um inquérito e os outros dois, em solidariedade com ele, também seguiram a sua vida.

Existiram muitas tentativas. Gente como Rory Reid, Sabine Schmitz, Eddie Jordan, e sobretudo, o ator Matt LeBlanc, o Joey de "Friends", tentaram preencher o vazio, mas o único que ficou até aos dias de hoje foi Chris Harris, apesar de LeBlanc não ter sido mau no lugar de apresentador. Mas quase dois terços do público seguiu os Três Estarolas e a BBC nunca gostou muito da nova versão. Contudo, com a semi-reforma dos três, depois de três temporadas de "The Grand Tour", na Amazon Prime, parte do público regressou ao Top Gear, depois de os novos apresentadores terem começado a ganhar uma química entre eles, que fazia lembrar algo do passado. Até ao dia de um acidente onde o canal de televisão achou que o melhor é dar por terminada toda uma aventura com quase meio século. 

Sem data para voltar, ficam as recordações de algo único, que marcou uma geração e criou imensos "copycats", quer na televisão, que no Youtube, pois afinal, falamos de três rapazes com amor pelos automóveis, passeando carros exóticos (ou não) mas sobretudo, passando um bom bocado.          

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