Esta é a história de mais um fracasso na Formula 1. Talvez seja o projecto mais mal sucedido na carreira da Brabham, que precipitou o seu declínio e posterior desaparecimento, e de Gordon Murray, um dos melhores projectistas que a Formula 1 connheceu nos últimos trinta anos. Mas o irónico é que o Brabham BT55 "Skate", apesar do seu fracasso, deu origem a um dos mais bem sucedidos chassis de sempre: o McLaren MP4/4 de 1988, que ganhou 15 das 16 corridas daquele ano...
Desde que Murray tinha desenhado o vencedor Brabham BT53, em 1983, que Murray procurava um chassis tão bom aerodinamicamente, no sentido de aproveitar da melhor maneira o centro de gravidade dos carros, logo, procurar maior aderencia ao solo, quatro temporadas depois da então FISA ter banido o efeito-solo...
Após o semi-fracasso do BT54, em 1985, Gordon Murray decide passar para algo radical: decide descer o centro de gravidade para muito perto do solo, no sentido de haver um fluxo constante de ar apra o motor, melhorando assim a eficiência aerodinâmica. Os pilotos guiavam quase deitados, daí que a alcunha de "Skate" tenha ficado.
Enquanto isso, a Brabham estava numa fase de transição: na temporada anterior, a equipa tinha ganho somente uma corrida (em Paul Ricard) e tinha perdido o seu piloto-estrela, Nelson Piquet, que tinha ido para a Williams. Logo, precisava de um projecto que valese a pena apostar, pois Ecclestone, que tomava conta da equipa há quase 15 anos, já começava a manifestar vontade para mais altos vôos...
Sendo assim, sem Piquet, a Brabham contrata um italiano e faz regressar outro: Riccardo Patrese, que tinha ficado desempregado com a retirada da Alfa Romeo da Formula 1, no final da temporada anterior, e Elio de Angelis, que corria pela primeira vez em sete temporadas sem ser na Lotus, depois de ter sido ultrapasado por um novato brasileiro chamado Ayrton Senna...
Nos testes, cedo se viu que o carro gerava uma enorme "downforce", tal como Murray previra. Mas também se viu que os niveis de arrasto eram perigosamente altos, prejudicando as performances do carro. Os testes cedo revelaram esse problema, e logo Patrese e De Angelis tomaram consciência de que esta seria uma temporada com dificuldades, pois tudo era novo. Até na maneira como os pilotos deveriam conduzir...
Quando a temporada começou, as desistências eram normalmente o destino dos carros de Patrese e De Angelis. Eventualmente, o piloto de Pádua foi sexto em Imola, e o de Roma foi oitavo em Jacarépaguá. Para piorar as coisas, a 15 de Maio, o desastre acontece: numa sessão de testes privados, no circuito francês de Paul Ricard, o carro de Elio De Angelis perde o controlo no final da Recta Mistral e fica de cabeça para baixo, sufocando-o. quando os socorros chegaram, o italiano tinha sofrido danos cerebrais irreversíveis e morreira no dia seguinte, aos 28 anos.
Em choque, a Brabham tinha que procurar um substituto. Essa vaga foi colmatada pelo inglês Derek Warwick, que estava na equipa de sport-Protótipos da Jaguar, depois da retirada da equipa de fábrica da Renault, no ano anterior. Contudo, pouco ou nada trouxe de novo na equipa, e terminou sem pontos.
Ao longo da época, as várias falhas sucediam-se: o motor BMW Turbo nunca tinha funcionado bem na sua nova posição, a caixa de velocidades, que tinha sofrido alterações radicais, era pouco fiável. Assim sendo, as desistências eram normais. E para piorar as coisas, as relações entre Murray e Ecclestone tinham-se degradado, especialmente depois da morte de Elio de Angelis. No final da época, Murray, que estava na equipa há 16 anos, sai de vez para a Brabham, aceitando o convite da McLaren. Ecclestone, por sua vez, decide dedicar-se mais tempo à então FOCA, e irá vender a equipa. A BMW, por seu turno, aproveitou o fracasso para abandonar oficialmente a Formula 1, como fornecedora de motores (na verdade, ficou mais uma temporada, sob o nome de Megatron)
Anos mais tarde, Murray justificou o fracasso do BT55:
"Tive uma abordagem demasiado ambiciosa em relação ao carro. O motor era demasiado alto para aquilo que queremos, e quando baixamos o motor, não funcionava tão eficazmente quanto queriamos. Para além disso, tivemos demasiados problemas com o Turbo, com incontáveis falhas de óleo, e uma má distribuição de peso.
Para piorar as coisas, ao longo da temporada, Ecclestone, que nada percebe de técnica, decidiu interferir nos aspectos técnicos. Eu, que nos 15 anos anteriores nunca tinha tido uma conversa desse calibre... provavelmente devia ter sido devido ao seu envolvimento na direcção da Formula 1. Sendo assim, no final da temporada, aceitei o convite da McLaren e terminei a minha colaboração com a equipa." (isto é uma tradução mais ou menos bem feita do original inglês. Se quiserem ler, carreguem aqui)
O BT55 "Skate" pode ter sido um fracasso, mas as lições para o futuro foram aprendidas. Dois anos mais tarde, Murray aproveitou muitos dos conceitos desse carro para construir outro que teve um destino inverso: o McLaren MP4/4, que deu um título mundial a Ayrton Senna e 15 vitórias à McLaren, em 16 possiveis...
Ficha Técnica:
Carro: Brabham BT55 "Skate"
Projectista: Gordon Murray
Motor: BMW Turbo de 4 cilindros
Pilotos: Riccardo Patrese, Elio De Angelis (4 corridas), Derek Warwick (12 corridas)
Corridas: 16
Vitórias:0
Poles:0
Voltas Mais Rápidas:0
Pontos: 2 (Patrese)
3 comentários:
É um carro bonito, ainda que trágico. Quer dizer então que é o embrião do carro vencedor da Mclaren de Senna? Putz, vivendo e aprendendo. Obrigado Speeder.
Bela matéria, excelente escolha de fotos (como sempre) e obrigado por lembrar do "gentiluomo" Elio de Angelis.
Só acrescentando um detalhe: O Paul Rosche aceitou na época de colocar o motor em um angulo inclinado ao lado (teria que verificar quantos graus) o que acabou gerando uma série de problemas, tanto termicos como de presão de oléo, sendo que as Benetton com o motor convencional andavam mais que as Brabham com motores "oficias".
Belo texto, obrigado por lembrar do Elio De Angelis, só gostaria de fazer uma observação, no fato de Senna ter vencido o De Angelis, a Lotus tinha escolhido beneficiar Senna, até o momento da escolha ser feita por parte da equipe, Elio estava a frente de Senna.
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