Há alguns dias atrás, comemoraram-se dois aniversários importantes: os 70 anos da morte de Bernd Rosemeyer e 107º aniversário natalicio de Rudolf Caracciola. Grandes pilotos das "Flechas de Prata" nos anos 30, embora correndo em equipas diferentes, ambos foram grandes pilotos, embora tenham corrido sob o regime totalitário de Adolf Hitler, outro grande fã do automobilismo (foi ele que teve a ideia do Carocha...).
Mas hoje, é dia para falar de Bernd Rosemeyer, e amanhã falarei de Rudi Caracciola.
Nascido a 14 de Outubro de 1909 em Lingen, na região da Baixa Saxónia (teria agora 98 anos), Rosemeyer era filho de um mecânico, dono da garagem da cidade. Após os estudos, ele e o irmão, Job, foram ajudar o pai na oficina. O seu amor pela velocidade fê-lo experimentar, desde cedo, carros e motos. Em 1930, com 21 anos, e depois de dar nas vistas em corridas locais, foi contratado pela Zundapp para ser o seu piloto no campeonato Speedway (corridas em circuito, de terra). Logo na sua primeira corrida, ele venceu, e nas 11 provas seguintes, o seu nome constava na lista de vencedores...
No ano de 1931, passou a ocrrer em asfalto, primeiro pela BMW, e dois anos mais tarde, pela NSU, tendo dominado as pistas alemãs. Em 1934, depois de ganhar mais um campeonato, A Auto Union, uma das quatro marcas que compunha o grupo, tal como a NSU (as outras duas eram a Wnderer e a Horch), convida Rosemeyer para uma bateria de testes no seu novo e radical carro de corridas, desenhado por Ferdinand Porsche: um carro com motor na traseira.
Os responsáveis da Auto Union achavam que tendo experiência nas motos, poderia facilmente domar um carro de motor traseiro, já que este tendia a fugir de traseira. Os testes foram em Nurburgring, circuito do agrado de Rosemeyer, que em apenas meia dúzia de voltas ,marcou tempos semelhantes a Hans Stuck, bem mais experimentado. No final do dia, A Auto Union contrata-o como "piloto junior", ou seja, como suplente.
Em 1935, começa nas boxes, a parender a dominar o carro, mas estreia-se em Berlim, no AVUS Circuit, onde se mostra, antes de abandonar com um pneu furado. Contudo, na corrida seguinte, em Nurburgring, luta animadamente pela vitória com o Mercedes de Caracciola, que perde por apenas 1,9 segundos devido a ter engatado demasiado cedo uma marca do seu Auto Union. Contudo, vai ser a partir dali que a sua popularidade vai aumentar. No final do ano, ganha a sua primeira corrida, no circuito checo de Brno.
Nessa corrida, conhece o amor da sua vida: a aviadora Elly Beihorn (1907-2007). Cedo namoram, e o regime nazi propagandeia bem este romance, entre um piloto de automóveis e uma das maiores aviadoras de então. Por causa dela, Rosemeyer foi um dos primeiros pilotos a ter um avião privado, tendo tirado o "brevet" necessário para tal. Ao mesmo tempo, Heinrich Himmler, o temido chefe das SS, aproveita a popularidade de Rosemeyer e "convence-o" a juntar-se à força, o que fez contrariado, já que ele nunca gostou muito nem do regime, nem de Hitler...
A 13 de Julho de 1936, casa-se com Elly Beinhorn, numa cerimónia altamente publicitada na Alemanha. Ao contrário de muitos, o numero 13 era o de sorte para o piloto alemão, já que tinha conhecido Elly num dia 13. Treze dias mais tarde, irá ganhar o Grande Prémio da Alemanha, uma das vitórias mais memoráveis, pois foi corrido debaixo de nevoeiro, o que deixava uma visiblidade de apenas 30 metros para os pilotos. Por causa disso, deram-lhe o apelido de "Nebelmeister" (o mestre do nevoeiro). Esta foi uma das cinco vitórias que Rosemeyer alcançaria nesse ano. As outras quatro foram os GP's da Suiça, da Checoslováquia, a Coppa Accerbo, em Itália e o GP de Itália, em Monza. Resultado: Campeão Europeu de Pilotos, pela Auto Union, pois nessa altura não havia Mundial de Formula 1.
O ano de 1937 foi mau para Rosemeyer: num espaço de poucos meses morre-lhe a mãe e o irmão, mas em compensação, o seu filho, Bernd Jr., nascerá nesse ano. Em termos competitivos, não foi assim tão bom de inicio, mas ganhará o GP da Alemanha (a 13 de Junho...) e a Taça Vanderbildt, em Nova Iorque. Depois, na Coppa Accerbo, ganha a prova... em apenas três rodas, pois na última volta, toca o seu carro na berma e o pneu fura e sai dos eixos. O seu equilibrio, adquirido nas motos, faz com que ele leve o carro até à meta.
A sua última vitória vai ser em Donnington Park, no GP da Inglaterra, perante 50 mil chocados ingleses, que nunca tinham visto ao vivo tamanha superioridade das "Flechas de Prata" alemãs, sobre os pequenos ERA de competição.
Em 1938, a Auto Union e a Mercedes decidiram competir em outra prova: o recorde mundial de velocidade em terra. A melhor marca pertencia desde o ano anterior a Rosemeyer, quando colocou o recorde na marca dos 400 km/hora. Isto tinha acontecido no troço de auto-estrada entre Frankfurt e Darmstadt. A 28 de Janeiro de 1938, Mercedes e Auto Union estavam de volta ao mesmo troço de auto-estrada, no sentido de conseguir um novo recorde de velocidade. Rosemeyer, agora com um filho recém-nascido a seu cargo, não gostava deste tipo de provas, afirmando que eram "mais desgastantes que uma prova inteira".
A Mercedes levara Rudi Caracciola para ver se ficava com o recorde do mundo. Ele cumpriu, alcançando a espantosa velocidade média de 428 Km/hora. A Auto Union, a observar tudo, decidiu reagir. Rosemeyer cumprimentou Caracciola a congratulá-lo pelo seu feito, e disse: "Agora é a minha vez!". Pelas 10 da manhã, partiu na tentativa de retomar o recorde às mãos da Auto Union.
Só que nessa manhã, os serviços metereológicos do Aeroporto de Frankfurt tinham avisado da possibilidade de ventos cruzados na zona. Caracciola tinha se queixado disso mesmo, mas Rosemeyer decidiu partir na mesma. Na corrida de ida, o alemão da Auto Union tinha superado o recorde da Mercedes, mas quando se preparava para regressar, pediu para que as suas rodas fossem cobertas, pois julgava que assim ganharia velocidade de ponta. Isso só contribuiu para o desastre...
Mo percurso de volta, ao quilómetro 9,2 do troço da auto-estrada, um vento cruzado foi demais para conseguir manter o carro direito. Guinou para a esquerda e o carro capotou várias vezes antes de parar. Rosemeyer foi projectado para fora do carro e acabou por morrer dos ferimentos. Tinha 28 anos.
"Bernd não conhecia o medo", disse depois Rudolf Caracciola, "e isso às vezes não é bom. Nós temiamos pela sua vida cada vez que corria. Tinha a sensação de que ele não viveria por muito tempo, e que tal acidente aconteceria mais cedo ou mais tarde..."
Bernd Rosemeyer teve um funeral de estado, dado por Adolf Hitler e pelos membros do Partido Nazi. Contudo, para a viúva Elly, tal demonstração foi demais, e abandonou-a a meio. A Auto Union teve que arranjar um substituto para Rosemeyer, e foi buscar Hans Stuck e... Tazio Nuvolari.
Fontes:
Bandeira da Vitória - Ed. Autosport, Lisboa, 1996
http://en.wikipedia.org/wiki/Bernd_Rosemeyer
http://jcspeedway.blogspot.com/2008/02/o-primeiro-astro-alemo.html
http://www.ddavid.com/formula1/rose_bio.htm
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