O destino inicial deste artigo de opinião era o site Pitstop, do Gustavo Coelho. Mas ontem à tarde, o próprio Gustavo colocou uma mensagem afirmando que a sua colaboração iria terminar, pois tinha abraçado um novo desafio profissional, e em consequência, o site seria encerrado. Assim sendo, e sem sitio para colocar, achei por bem colocar aqui a minha opinião sobre as mais recentes decisões de Max Mosley, presidente da FIA, depois de ouvir "a maioria das pessoas", provavelmente, os "yes-man" do Conselho Mundial da FIA e as 34 personalidades que Bernie Ecclestone leva na sua cabeça... Aqui vai:
"A decisão desta terça-feira, na sede da FIA, em Paris, de valorizar as vitórias em detrimento do pontos conquistados, no campeonato de Formula 1 de 2009, demonstra mais uma vez que Max Mosley toma decisões cada vez mais baseadas na sua agenda pessoal, e cada vez menos no bem geral do automobilismo, na pessoa das equipas, dos pilotos e dos espectadores espalhados pelo mundo fora.
Precisamente duas semanas após a decisão da Formula One Teams Association (FOTA) de propor um sistema de pontos diferente, para combater a ideia de um sistema de medalhas idealizado por Bernie Ecclestone, de valorizar a vitória, a decisão da FIA, na pessoa de Max Mosley, tem pouco de bom senso e muito de desafio a um novo bloco que se ergue, depois de anos de mandos e desmandos ao serviço da entidade máxima do desporto automóvel. Max Mosley está no lugar há 17 anos e meio, desde 1991, e tenciona candidatar-se a mais um mandato, não se importando de ficar lá perpetuamente no poder, como um dia o seu pai, Oswald Mosley, sonhou para a sua Inglaterra natal.
A maioria das pessoas, adeptas da Formula 1, não compreende o porquê de Mosley ter decidido desta maneira. Dar uma lição aos Construtores, a coberto da crise mundial? Não sei. Satisfazer um capricho de Bernie Ecclestone? Eventualmente. Nos últimos anos, cada vez menos gente compreende a razão porque é que os circuitos de Formula 1 saem cada vez mais dos seus centros tradicionais, a Europa e os Estados Unidos, para ir a sítios mais estranhos, sem tradição automobilística, como a China, Singapura, Bahrein ou este ano, os Emirados, e deixam cair países com tradição como a França, o Canadá e os Estados Unidos. A Europa está cada vez a ficar mais vazia, para se tornar uma competição mais globalizada, é certo. Mas… o que é que Abu Dhabi ou Singapura tem para oferecer senão dinheiro e um punhado de espectadores?
Estamos a chegar a este ponto: o dinheiro. Cada vez mais a FOM pede aos organizadores dos circuitos mais dinheiro para ter a Formula 1 nos seus circuitos. Em média, na Europa, por ano, um organizador cobra 20 milhões de euros para ter a Formula 1 no seu circuito. Fora da Europa, é ainda mais: fala-se que Singapura irá pagar 50 milhões de dólares por ano para ter o seu Grande Prémio até 2011. A China já pensa se valerá a pena ter Formula 1 em Xangai, já que no ano passado, boa parte das bancadas ficaram vazias durante o fim-de-semana. Os bilhetes são caros, e se em muitos casos os autódromos enchem, é porque a maior parte das pessoas junta dinheiro para comprar o bilhete, muitos meses antes. E no fim de semana do Grande Prémio, muitos tem de levar a carteira recheada, para poder comer ou comprar “souvenirs” das equipas ou dos pilotos.
Em tempo de crise, o cinto aperta para todos: equipas, pilotos e organizadores. Pistas como Spa-Francochamps ou Hockenheim correm o risco de fazerem a mesma coisa que fez Magny-Cours no ano passado: renunciar à organização de um Grande Prémio, para evitar a falência. E o mais cruel é a indiferença que Mosley e Ecclestone têm em relação a isto: “o show tem de continuar”, devem dizer eles. É por isso que não se importam de se livrar de Silverstone e esventrar Donington, sem gastar um único tostão por parte deles, só porque assim o entendem.
E agora estamos neste ponto. Evidentemente ainda é uma decisão fresca, com poucos dias. Mas acontece a pouco mais de dez dias do inicio do Mundial de Formula 1, depois de um dos mais longos defesos de que há memória, sem corridas extra-campeonato pelo meio, com um novo regulamento, que privilegia as ultrapassagens, e que tenta cortar nos custos das equipas. E ainda por cima, existe a possibilidade de uma surpresa no ar já em Melbourne, na figura da Brawn GP.
Como é que a FOTA irá reagir a esta posição? Não vão reagir imediatamente, isso é certo. Vão ler aquilo que se decidiu em Paris, e vão explorar uma reacção. Esta Quarta-feira, Luca di Montezemolo, o presidente da FOTA, reagiu num comunicado oficial, demonstrando a sua “preocupação e desapontamento” pelas decisões tomadas no dia anterior. O dirigente italiano disse que o organismo que defende os interesses das equipas irá "estudar cuidadosamente a nova situação e fazer tudo, em especial nestes tempos difíceis, para manter um regulamento estável sem modificações contínuas, que podem ser confusas e desinteressantes para os construtores, equipas, para o público e para os patrocinadores".
Na minha óptica, eles sabem que esta decisão pode ser encarado como uma declaração de guerra por parte de Mosley, contra a FOTA. A ideia deverá ser, provavelmente, testar a coerência das equipas. Mosley sempre usou o esquema “dividir para reinar” durante anos, e deu resultado, pois quer os regulamentos actuais, quer os “ziguezagues” dos últimos anos são obra dele, e sempre reinou sem oposição. O escândalo do ano passado, da orgia nazi com prostitutas, causou uma tempestade mediática, mas Mosley aguentou-se na cadeira, resistindo às pressões para que se demitisse.
Agora é ano de eleições. Mosley quer candidatar-se de novo, para outro mandato, numa ideia de que irá ficar enquanto a sua saúde o permitir, pois tem actualmente 69 anos. Como é que a FOTA deveria reagir? Na minha opinião, deveria escolher um candidato para o lugar (desde que não seja o Flavio Briatore) para combater contra Mosley de igual para igual, nas eleições para a presidência da FIA. Depois, caso elegesse um novo nome na presidência, fazer as coisas de forma a afastar (ou neutralizar) Bernie Ecclestone dos centros de decisão. É outra personagem que está a mais na Formula 1, e as suas declarações e recomendações já fazem mais mal do que bem. Acho que a FOTA deveria recordar a ele que tem quase 80 anos, e já não tem muito tempo de vida para gozar os milhões que tem no banco.
Só depois, caso essa hipótese falhar, e como último recurso, se deve avançar para uma cisão. Aliás, tal coisa deveria ser evitado o mais possível, pois seria prejudicial para a imagem da Formula 1. Ter duas séries, ou então retirar a Formula 1 da alçada da FIA, seria algo que nunca teria acontecido na história desta categoria. Teve a guerra FOCA-FISA, em 1979-82, com Jean-Marie Ballestre e Bernie Ecclestone como protagonistas, mas apesar das polémicas, e de uma tentativa frustrada, no início de 1981, nunca tinham ido tão longe. O caso americano, das duas séries CART/IRL, que existiu de 1996 a 2007, deveria ser uma lição a estudar por ambas as partes, caso queiram partir para a decisão mais radical existente. Curiosamente, a Formula 1 está a correr sem um Acordo da Concódria desde o final de 2007, e um novo acordo acabou de ser negociado, mas ainda não foi assinado. Um bom pretexto?
Espero que não se chegue a este ponto. Mas uma coisa é certa: isto foi uma declaração de guerra. E o tiro de partida foi dado. Veremos as consequências que vai ter para a Formula 1."
Precisamente duas semanas após a decisão da Formula One Teams Association (FOTA) de propor um sistema de pontos diferente, para combater a ideia de um sistema de medalhas idealizado por Bernie Ecclestone, de valorizar a vitória, a decisão da FIA, na pessoa de Max Mosley, tem pouco de bom senso e muito de desafio a um novo bloco que se ergue, depois de anos de mandos e desmandos ao serviço da entidade máxima do desporto automóvel. Max Mosley está no lugar há 17 anos e meio, desde 1991, e tenciona candidatar-se a mais um mandato, não se importando de ficar lá perpetuamente no poder, como um dia o seu pai, Oswald Mosley, sonhou para a sua Inglaterra natal.
A maioria das pessoas, adeptas da Formula 1, não compreende o porquê de Mosley ter decidido desta maneira. Dar uma lição aos Construtores, a coberto da crise mundial? Não sei. Satisfazer um capricho de Bernie Ecclestone? Eventualmente. Nos últimos anos, cada vez menos gente compreende a razão porque é que os circuitos de Formula 1 saem cada vez mais dos seus centros tradicionais, a Europa e os Estados Unidos, para ir a sítios mais estranhos, sem tradição automobilística, como a China, Singapura, Bahrein ou este ano, os Emirados, e deixam cair países com tradição como a França, o Canadá e os Estados Unidos. A Europa está cada vez a ficar mais vazia, para se tornar uma competição mais globalizada, é certo. Mas… o que é que Abu Dhabi ou Singapura tem para oferecer senão dinheiro e um punhado de espectadores?
Estamos a chegar a este ponto: o dinheiro. Cada vez mais a FOM pede aos organizadores dos circuitos mais dinheiro para ter a Formula 1 nos seus circuitos. Em média, na Europa, por ano, um organizador cobra 20 milhões de euros para ter a Formula 1 no seu circuito. Fora da Europa, é ainda mais: fala-se que Singapura irá pagar 50 milhões de dólares por ano para ter o seu Grande Prémio até 2011. A China já pensa se valerá a pena ter Formula 1 em Xangai, já que no ano passado, boa parte das bancadas ficaram vazias durante o fim-de-semana. Os bilhetes são caros, e se em muitos casos os autódromos enchem, é porque a maior parte das pessoas junta dinheiro para comprar o bilhete, muitos meses antes. E no fim de semana do Grande Prémio, muitos tem de levar a carteira recheada, para poder comer ou comprar “souvenirs” das equipas ou dos pilotos.
Em tempo de crise, o cinto aperta para todos: equipas, pilotos e organizadores. Pistas como Spa-Francochamps ou Hockenheim correm o risco de fazerem a mesma coisa que fez Magny-Cours no ano passado: renunciar à organização de um Grande Prémio, para evitar a falência. E o mais cruel é a indiferença que Mosley e Ecclestone têm em relação a isto: “o show tem de continuar”, devem dizer eles. É por isso que não se importam de se livrar de Silverstone e esventrar Donington, sem gastar um único tostão por parte deles, só porque assim o entendem.
E agora estamos neste ponto. Evidentemente ainda é uma decisão fresca, com poucos dias. Mas acontece a pouco mais de dez dias do inicio do Mundial de Formula 1, depois de um dos mais longos defesos de que há memória, sem corridas extra-campeonato pelo meio, com um novo regulamento, que privilegia as ultrapassagens, e que tenta cortar nos custos das equipas. E ainda por cima, existe a possibilidade de uma surpresa no ar já em Melbourne, na figura da Brawn GP.
Como é que a FOTA irá reagir a esta posição? Não vão reagir imediatamente, isso é certo. Vão ler aquilo que se decidiu em Paris, e vão explorar uma reacção. Esta Quarta-feira, Luca di Montezemolo, o presidente da FOTA, reagiu num comunicado oficial, demonstrando a sua “preocupação e desapontamento” pelas decisões tomadas no dia anterior. O dirigente italiano disse que o organismo que defende os interesses das equipas irá "estudar cuidadosamente a nova situação e fazer tudo, em especial nestes tempos difíceis, para manter um regulamento estável sem modificações contínuas, que podem ser confusas e desinteressantes para os construtores, equipas, para o público e para os patrocinadores".
Na minha óptica, eles sabem que esta decisão pode ser encarado como uma declaração de guerra por parte de Mosley, contra a FOTA. A ideia deverá ser, provavelmente, testar a coerência das equipas. Mosley sempre usou o esquema “dividir para reinar” durante anos, e deu resultado, pois quer os regulamentos actuais, quer os “ziguezagues” dos últimos anos são obra dele, e sempre reinou sem oposição. O escândalo do ano passado, da orgia nazi com prostitutas, causou uma tempestade mediática, mas Mosley aguentou-se na cadeira, resistindo às pressões para que se demitisse.
Agora é ano de eleições. Mosley quer candidatar-se de novo, para outro mandato, numa ideia de que irá ficar enquanto a sua saúde o permitir, pois tem actualmente 69 anos. Como é que a FOTA deveria reagir? Na minha opinião, deveria escolher um candidato para o lugar (desde que não seja o Flavio Briatore) para combater contra Mosley de igual para igual, nas eleições para a presidência da FIA. Depois, caso elegesse um novo nome na presidência, fazer as coisas de forma a afastar (ou neutralizar) Bernie Ecclestone dos centros de decisão. É outra personagem que está a mais na Formula 1, e as suas declarações e recomendações já fazem mais mal do que bem. Acho que a FOTA deveria recordar a ele que tem quase 80 anos, e já não tem muito tempo de vida para gozar os milhões que tem no banco.
Só depois, caso essa hipótese falhar, e como último recurso, se deve avançar para uma cisão. Aliás, tal coisa deveria ser evitado o mais possível, pois seria prejudicial para a imagem da Formula 1. Ter duas séries, ou então retirar a Formula 1 da alçada da FIA, seria algo que nunca teria acontecido na história desta categoria. Teve a guerra FOCA-FISA, em 1979-82, com Jean-Marie Ballestre e Bernie Ecclestone como protagonistas, mas apesar das polémicas, e de uma tentativa frustrada, no início de 1981, nunca tinham ido tão longe. O caso americano, das duas séries CART/IRL, que existiu de 1996 a 2007, deveria ser uma lição a estudar por ambas as partes, caso queiram partir para a decisão mais radical existente. Curiosamente, a Formula 1 está a correr sem um Acordo da Concódria desde o final de 2007, e um novo acordo acabou de ser negociado, mas ainda não foi assinado. Um bom pretexto?
Espero que não se chegue a este ponto. Mas uma coisa é certa: isto foi uma declaração de guerra. E o tiro de partida foi dado. Veremos as consequências que vai ter para a Formula 1."
2 comentários:
- Confesso que estava esperando ansiosamente pelo inicio do campeonato, as mudanças nas regras em relação do carro deixaram a F1 com um cenario de misterio sobre quais seriam as equipes que vão andar na frente, no meio e atras do pelotão. A surpresa da BrawnGp e a Mclaren aumentaram mais ainda essa ansiendade. Faltando poucos dias pro ínicio do campeonato, a Fota se reune e opina sobre um novo sistema de pontuação que valoriza o primeiro lugar sem desvalorizar os pontos conquistados ao longo do ano. A Fia-Mosley se reune logo depois e o Grande Imbecil que rege a Fia decide valorizar as Vitorias e desvalorizar os pontos conquistados, pessima decisão de um velho que num tem mais boas ideias pra F1, que manda e desmanda nas regras como quer. Espero que na eleição de Presidente da Fia desse ano esse mocorongo perca o seu lugar na regencia e surja um novo lider pra entidade, mas até agora não vejo ninguem com status e vontade de se opor a ele.
Perfeito texto.
Parabens !
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