Pois é. Este Domingo não foi só o GP do Mónaco. Tivemos também as 500 Milhas de Indianápolis, onde este ano se comemora o centenário da pista (mas não da prova, que só vai acontecer dentro de dois anos). Infelizmente não vi a corrida, por motivos profissionais, mas contaram-me que o Hélio Castro Neves conseguiu vencer a prova, mais de dois meses depois de um tribunal o inocentar das acusações de evasão fiscal, e que o colocaria em risco de ficar alguns anos numa prisão americana, para além de ver a sua carreira terminada.
A corrida tinha o piloto brasileiro na "pole-position", e no momento da largada, manteve a dianteira, com Ryan Briscoe e Dario Franchitti logo atrás, mas logo na segunda curva (!) aconteceu a primeira situação de bandeiras amarelas: o braileiro Mario Moraes e o americano Marco Andretti tocaram-se, com o brasileiro a terminar a sua corrida por ali, e Andretti ainda a chegar às boxes e a volta com 61 voltas de atraso, acabando por depois desistir da corrida.
Pouco depois, na relargada, Franchitti passou Castro Neves e ficou na liderança, com Briscoe logo a seguir e o brasileiro na quarta posição. As coisas continuam assim até perto da volta 97, quando Tony Kanaan tem um acidente com o seu Andretti-Green, sem consequências fisicas.
Perto do final da corrida, na volta 173, um acidente grave entre brasileiros (Raphael Matos e Vitor Meira) fez com que este último tivesse que ser transportado para o centro médico do circuito, sofrendo de fortes dores nas costas, devido ao facto do carro ter-se arrastados por algumas dezenas de metros no asfalto do circuito. A corrida só recomeçou na volta 182, apenas a 18 do fim, com Castro Neves na liderança, com Dan Wheldon, da Panther, em segundo, e Danica Patrick em terceiro. Esta ordem se manteve até à bandeira de xadrez, dando ao Brasil a sua sexta vitória na história das 500 Milhas de Indianápolis, tornando-se cada vez mais no pais estrangeiro com mais vitórias. Agora, Helio Castro Neves é tri-vencedor de Indianápolis, depois de ter ganho em 2001 e 2002, desempatando com Emerson Fittipaldi, que já venceu em 1989 e 1993.
No final, depois de comemorar à sua maneira, pendurando-se nas redes de protecção, exclamava: "Muitos amigos e fãs não deixaram de acreditar. Só tenho de agradecer minha familia. Estou sem palavras. Eles ficaram rezando e nunca vou esquecer dessas pessoas", comemorou Castro Neves. "Sou uma pessoa melhor. Tudo está entrando no caminho certo. Não é por que eu tive de passar por isso para ganhar, mas o carro está muito bom, e dou o crédito para todos os outros pilotos", analisou, em declarações captadas pelo site brasileiro Tazio.
E em relação a esta vitória, faço minhas as palavras do Flávio Gomes, quando colocou um post sobre a vitória de um piloto brasileiro na mítica prova americana, depois de Emerson Fittipaldi:
"É a maior volta por cima de um atleta brasileiro em todos os tempos, algo que talvez só tenha paralelo com o que aconteceu com Maurren Maggi e Ronaldo — uma que ficou suspensa por doping um tempão para virar campeã olímpica, outro que arrebentou o joelho três vezes, saiu catando travecos e se transformou em ídolo do Corinthians.
Helinho, dois meses atrás, tinha como perspectiva de vida passar alguns bons anos na cadeia, tamanhas as dimensões do processo movido contra ele nos EUA. Estava fora da Penske, era dado como futuro presidiário, estava condenado à falência. Mas foi inocentado, correu no mesmo fim de semana, chegou o maio das 500, fez a pole e ganhou a prova.
É um espanto, e é muito bacana ver alguém renascer assim. O que aconteceu hoje em Indianápolis, diante de centenas de milhares de pessoas no autódromo e milhões pela TV, é muito mais significativo do que a vitória de Button em Mônaco, do que qualquer resultado no futebol (exceto a vitória da Lusa ontem), do que qualquer outra coisa que tenha acontecido no esporte mundial neste fim de semana. Primeiro, pela importância que as 500 têm naturalmente. Depois, pela incrível história recente de Helinho.
Leite nele, pois!"
Como hoje vi o clube da minha terra a voltar à I Divisão do futebol, acho que de uma certa forma até está a ser um dia feliz para os meus lados. Afinal de contas, gostamos sempre de finais felizes, não é?
2 comentários:
Acredite, não é por ser brasileiro. O cara poderia ser togolês. Mas a vitória do Helinho, diante de todo o contexto de sua vida nos últimos 40 dias, foi uma das mais emocionantes que vi na carreira.
E olha que não tenho o menor saco pra essas corridas em circuitos ovais.
Foi realmente sensacional.
O acidente entre os brasileiros, Meira e Matos, ajudou Castroneves na tática do combustível, pois teve permissão para continuar a acelerar tudo e ninguém conseguiu alcançá-lo.
Simplesmente uma vitória épica e a felicidade do Helinho, da família, do Roger Penske, foi transmitida ao mundo inteiro e contagiou a todos.
Abraços.
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