Hoje, escrevo a biografia de um piloto que tinha imenso potencial, quer em termos de rapidez, quer em termos de consistência, para ser um campeão na Formula 1. E vindo de um país como a França, é da mesma geração de Henri Pescarolo, Gerard Larrousse e Francois Cevért, cujo expoente máximo era Jean-Pierre Beltoise. Tinha fama da “enfant terrible”, e de playboy, que mais se importava com a boa vida do que propriamente com a competição. Foi protegido pela Matra e correu na Tyrrell, experimentando o MS84 de quatro rodas motrizes (o único que conseguiu pontos num carro desse tipo), cedo saiu da Formula 1, devido à sequelas de um acidente, que lhe incapacitou parcialmente a sua visão. Três anos após a sua morte, hoje falo de Johnny Servoz-Gavin.
Nascido a 18 de Janeiro de 1942 como George-Francois Servoz-Gavin, ganhou a alcunha de “Johnny” quando era instrutor de ski, nos Alpes franceses. Amante da velocidade, decidiu ser piloto após ter frequentado o curso de pilotagem na Escola de condução de Magny-Cours. Competiu em ralies, na Coupe des Provinces, antes de passar para a Formula 3 francesa, em 1965. O seu quinto lugar final, nos seus tenros 23 anos, atraiu a atenção de Jean-Luc Lagardére, o patrão da Matra Sports, que lhe deu um lugar na equipa oficial no ano seguinte. Nesse ano, as suas prestações valem-lhe o título de campeão nacional, á frente de Jean-Pierre Beltoise.
Sendo assim, passou para a Formula 2 em 1967, ao volante do Matra, e no Mónaco, inscreve-se num desses carros no Grande Prémio de Formula 1, onde não conseguiu qualificar-se. No ano seguinte, volta ao Mónaco, integrado na equipa oficial da Matra, para substituir Jackie Stewart, que se tinha lesionado em Jarama e ficaria ausente por duas corridas. Ao lado de Beltoise, surpreende tudo e todos, ao ser segundo classificado na grelha de partida, ao lado de Graham Hill. E na partida, Servoz-Gavin surpreende ainda mais quando fica na frente da corrida após a curva Ste. Devote, batendo Graham Hill. Mas é sol de pouca dura, pois bate na terceira volta da corrida.
Após o regresso de Stewart, Servoz-Gavin volta a Formula 2, mas a Matra inscreve um terceiro carro para ele e corre na etapa italiana. Como na altura a equipa francesa tinha duas equipas, uma oficial com motor francês e outro inscrito por Ken Tyrrell, com motor Cosworth, Servoz-Gavin vai ser o segundo piloto de Stewart, com o motor inglês, enquanto que Beltoise corre com o motor francês. Partino de 13º na grelha, a sua rapidez faz com que chegue ao segundo posto, atrás de Jacky Ickx e á frente de Dennis Hulme, da McLaren. Correu mais duas corridas nesse ano, mas não terminou em nenhuma delas. No final do ano, conseguiu o 13º lugar da geral, com seis pontos.
Em 1969, Servoz-Gavin continuou na Formula 2 europeia, ao volante de Matra, e não correu muito na Formula 1. As suas performances e a sua rapidez foram tantas que se tornou no campeão europeu da categoria, enquanto se esforçava em testar o Matra-Simca 630-650 de Sport-Protótipos para as 24 Horas de Le Mans. No meio do ano, também foi encarregado de desenvolver o protótipo Matra MS84 de quatro rodas motrizes, que se tornou num dos muitos projectos de pista que tentou dar tracção integral, mas que se revelaram um fracasso. Servoz-Gavin testou o carro e considerou-o como “inguiável”, mas experimentou-o durante as três últimas corridas do ano, na América do Norte. O francês conseguiu um sexto lugar no Canadá, mas acabou… a seis voltas do vencedor. Acabou nas outras duas provas do ano, mas nas últimas posições.
Servoz-Gavin tinha boas perspectivas para 1970. Estava na equipa Tyrrell, com Jackie Stewart, que iria correr com chassis March, dado que o acordo com a Matra tinha ficado sem efeito, depois desta ter pedido a Tyrrell e a Stewart para correr com o motor francês. Mas um acidente durante á época de Inverno afectou-lhe a visão do seu olho esquerdo, e a sua condução ficou irremediavelmente afectada. Mas as pessoas não sabiam disso, e foi correr com o March nas três primeiras provas do ano: Africa do Sul, Espanha e Mónaco.
Na primeira corrida do ano, Servoz-Gavin foi 17º em 23 pilotos inscritos, e desistiu na volta 57 devido a problemas de motor, quando rodava atrás no pelotão. Em Espanha, acabou no quinto posto, conquistando dois pontos. Mas tinha sido o último a cortar a meta, e tinha acabado a duas voltas do seu companheiro Stewart, o vencedor da corrida. Para piorar as coisas, em Jarama houve o acidente entre o Ferrari de Jackie Ickx e o BRM de Jackie Oliver, que resultou no incêndio dos dois carros. Aparentemente, o receio de uma morte horrível invadiu-lhe a mente (ou pelo menos foi assim que transpirou), e após uma não qualificação no Mónaco, Servoz-Gavin abandona definitivamente a competição.
O seu palmarés: 13 Grandes Prémios, em quatro temporadas (1967-70), um pódio, nove pontos.
Quando Servoz-Gavin se retirou, Ken Tyrrell precisava de um substituto francês devido aos seus compromissos com a petrolífera Elf. Calhou-lhe um jovem que se destacara no ano anterior num duelo com Stewart, de seu nome Francois Cevért. Quanto a Sevoz-Gavin, viveu uma existência algo reclusa, na sua Grenoble natal, mas também virou-se para outra paixão: a vela. Viveu num barco e participou em regatas à volta ao mundo em solitário até 1982, altura em que uma explosão de gás lhe causou algumas queimaduras no corpo. Durante muitos anos, Servoz-Gavin foi considerado como um dos pilotos que fez a famosa sequência de Paris a alta velocidade na curta-metragem “C’etait un Rendez-Vous”, filmado em 1976 pelo cineasta Claude Lelouch.
Servoz-Gavin acabou por morrer a 29 de Maio de 2006, com 64 anos na sua Grenoble natal, vítima de embolia pulmonar. Tinha sobrevivido a três ataques cardíacos e estava gravemente doente do coração.
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Johnny_Servoz-Gavin
http://www.grandprix.com/gpe/drv-sergeo.html
http://www.grandprix.com/ns/ns16905.html
http://www.guardian.co.uk/news/2006/jul/26/guardianobituaries.motorracing
http://mestrejoca.blogspot.com/2009/04/o-enfant-terrible-frances.html
Nascido a 18 de Janeiro de 1942 como George-Francois Servoz-Gavin, ganhou a alcunha de “Johnny” quando era instrutor de ski, nos Alpes franceses. Amante da velocidade, decidiu ser piloto após ter frequentado o curso de pilotagem na Escola de condução de Magny-Cours. Competiu em ralies, na Coupe des Provinces, antes de passar para a Formula 3 francesa, em 1965. O seu quinto lugar final, nos seus tenros 23 anos, atraiu a atenção de Jean-Luc Lagardére, o patrão da Matra Sports, que lhe deu um lugar na equipa oficial no ano seguinte. Nesse ano, as suas prestações valem-lhe o título de campeão nacional, á frente de Jean-Pierre Beltoise.
Sendo assim, passou para a Formula 2 em 1967, ao volante do Matra, e no Mónaco, inscreve-se num desses carros no Grande Prémio de Formula 1, onde não conseguiu qualificar-se. No ano seguinte, volta ao Mónaco, integrado na equipa oficial da Matra, para substituir Jackie Stewart, que se tinha lesionado em Jarama e ficaria ausente por duas corridas. Ao lado de Beltoise, surpreende tudo e todos, ao ser segundo classificado na grelha de partida, ao lado de Graham Hill. E na partida, Servoz-Gavin surpreende ainda mais quando fica na frente da corrida após a curva Ste. Devote, batendo Graham Hill. Mas é sol de pouca dura, pois bate na terceira volta da corrida.
Após o regresso de Stewart, Servoz-Gavin volta a Formula 2, mas a Matra inscreve um terceiro carro para ele e corre na etapa italiana. Como na altura a equipa francesa tinha duas equipas, uma oficial com motor francês e outro inscrito por Ken Tyrrell, com motor Cosworth, Servoz-Gavin vai ser o segundo piloto de Stewart, com o motor inglês, enquanto que Beltoise corre com o motor francês. Partino de 13º na grelha, a sua rapidez faz com que chegue ao segundo posto, atrás de Jacky Ickx e á frente de Dennis Hulme, da McLaren. Correu mais duas corridas nesse ano, mas não terminou em nenhuma delas. No final do ano, conseguiu o 13º lugar da geral, com seis pontos.
Em 1969, Servoz-Gavin continuou na Formula 2 europeia, ao volante de Matra, e não correu muito na Formula 1. As suas performances e a sua rapidez foram tantas que se tornou no campeão europeu da categoria, enquanto se esforçava em testar o Matra-Simca 630-650 de Sport-Protótipos para as 24 Horas de Le Mans. No meio do ano, também foi encarregado de desenvolver o protótipo Matra MS84 de quatro rodas motrizes, que se tornou num dos muitos projectos de pista que tentou dar tracção integral, mas que se revelaram um fracasso. Servoz-Gavin testou o carro e considerou-o como “inguiável”, mas experimentou-o durante as três últimas corridas do ano, na América do Norte. O francês conseguiu um sexto lugar no Canadá, mas acabou… a seis voltas do vencedor. Acabou nas outras duas provas do ano, mas nas últimas posições.
Servoz-Gavin tinha boas perspectivas para 1970. Estava na equipa Tyrrell, com Jackie Stewart, que iria correr com chassis March, dado que o acordo com a Matra tinha ficado sem efeito, depois desta ter pedido a Tyrrell e a Stewart para correr com o motor francês. Mas um acidente durante á época de Inverno afectou-lhe a visão do seu olho esquerdo, e a sua condução ficou irremediavelmente afectada. Mas as pessoas não sabiam disso, e foi correr com o March nas três primeiras provas do ano: Africa do Sul, Espanha e Mónaco.
Na primeira corrida do ano, Servoz-Gavin foi 17º em 23 pilotos inscritos, e desistiu na volta 57 devido a problemas de motor, quando rodava atrás no pelotão. Em Espanha, acabou no quinto posto, conquistando dois pontos. Mas tinha sido o último a cortar a meta, e tinha acabado a duas voltas do seu companheiro Stewart, o vencedor da corrida. Para piorar as coisas, em Jarama houve o acidente entre o Ferrari de Jackie Ickx e o BRM de Jackie Oliver, que resultou no incêndio dos dois carros. Aparentemente, o receio de uma morte horrível invadiu-lhe a mente (ou pelo menos foi assim que transpirou), e após uma não qualificação no Mónaco, Servoz-Gavin abandona definitivamente a competição.
O seu palmarés: 13 Grandes Prémios, em quatro temporadas (1967-70), um pódio, nove pontos.
Quando Servoz-Gavin se retirou, Ken Tyrrell precisava de um substituto francês devido aos seus compromissos com a petrolífera Elf. Calhou-lhe um jovem que se destacara no ano anterior num duelo com Stewart, de seu nome Francois Cevért. Quanto a Sevoz-Gavin, viveu uma existência algo reclusa, na sua Grenoble natal, mas também virou-se para outra paixão: a vela. Viveu num barco e participou em regatas à volta ao mundo em solitário até 1982, altura em que uma explosão de gás lhe causou algumas queimaduras no corpo. Durante muitos anos, Servoz-Gavin foi considerado como um dos pilotos que fez a famosa sequência de Paris a alta velocidade na curta-metragem “C’etait un Rendez-Vous”, filmado em 1976 pelo cineasta Claude Lelouch.
Servoz-Gavin acabou por morrer a 29 de Maio de 2006, com 64 anos na sua Grenoble natal, vítima de embolia pulmonar. Tinha sobrevivido a três ataques cardíacos e estava gravemente doente do coração.
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Johnny_Servoz-Gavin
http://www.grandprix.com/gpe/drv-sergeo.html
http://www.grandprix.com/ns/ns16905.html
http://www.guardian.co.uk/news/2006/jul/26/guardianobituaries.motorracing
http://mestrejoca.blogspot.com/2009/04/o-enfant-terrible-frances.html
2 comentários:
Apesar da carreira pequena na Fórmula 1, os resultados foram bons. Claramente se percebe o potencial do Servoz-Gavin.
Infelicidade ter problemas com as vistas e interessante saber que foi assim que Cevert chegou ao lado de Stewart.
Veio a calhar o texto, para mostrar um pouco mais da tradicão francesa nas pistas, o que não está refletido na F1 atualmente.
Abraços.
Parabéns, por este relato interessante, uma história sensacional deste Piloto de F1 arrojado e capaz.
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