segunda-feira, 20 de julho de 2009

Walter Cronkite e o jornalismo do século XX (1ª parte)




Walter Leland Cronkite (1916-2009) é considerado como muitos um dos ícones do jornalismo americano na segunda metade do século XX. Jornalista desde muito cedo, cobriu a II Guerra Mundial como correspondente da UPI (United Press International) e após o final da guerra e uma breve passagem por Moscovo como correspondente da UPI, juntou-se a Edward P. Murrow na CBS em 1950, altura em que a televisão ainda gatinhava, quer nos Estados Unidos, quer no resto do Mundo.


Ao longo dos anos 50 apresentou vários programas informativos, até que em 1962 passou para a CBS Evening News, o noticiário mais importante do dia. Nessa altura, o noticiário tinha apenas 15 minutos de duração, mas a crescente importância da infirmação fez aumentar a sua duração para 30 minutos, ainda nesse mesmo ano. Nos 19 anos seguintes, a sua reputação, bem como a da estação televisiva, aumentou consideravelmente, ajudando a noticiar, e consequentemente influenciar, toda uma geração de americanos, fazendo com que se tornasse, anos depois, no “Homem mais confiável da América”.


"A noticia, aparentemente oficial: John F. Kennedy está morto"


O seu primeiro momento marcante da carreira é definitivamente o dia 22 de Novembro de 1963. Nesse dia, o presidente John F. Kennedy faz uma visita de dois dias ao Texas, e nessa sexta-feira visita a cidade de Dallas. Existiam alguns receios sobre a forma como ele seria recebido, pois semanas antes, outros políticos democratas tinham sido insultados e até agredidos. Mas em Dallas, foi o contrário: Kennedy, que trouxera a sua mulher Jackie consigo, foi calorosamente recebido pela população local. Mas pouco depois do meio-dia, quando o Lincoln Continental presidencial desce a Elm Street, ouvem-se três tiros, disparados por um homem de 25 anos chamado Lee Harvey Oswald, atingindo Kennedy no pescoço e na cabeça, ferindo-o mortalmente.


Nos minutos a seguir à noticia do tiroteio, uma nação em choque segue colada à televisão às angustiantes noticias vindas da cidade texana de Dallas, numa altura em que não havia CNN, directos sobre directos do local X ou Y ou helicópteros a sobrevoar. Na CBS via-se Cronkite numa mesa da redacção, de mangas de camisa, a ler os relatórios vindos das agências noticiosas, à medida que a situação se tornava negra, e os rumores sobre a sua morte se tornavam cada vez mais insistentes. Às 14:38 da tarde, chega a noticia que todos temiam, e Cronkite coloca os óculos e lê-la com visível emoção:


"De Dallas, no Texas, a noticia aparentemente oficial: Presidente Kennedy morreu às 13 horas locais, 14 Horas na costa Leste, há uns 38 minutos atrás". Vê-se a olhar para o relógio e tira os óculos por um momento, enquanto tentava manter a compostura, para referir a seguir: "O Vice-Presidente Johnson já abandonou o hospital em Dallas, mas desconhece-se onde de dirige. Presumivelmente, vai tomar juramento em breve para se tornar no 36º Presidente dos Estados Unidos". Dois dias depois, seria ele mesmo a anunciar a morte, em plenas cerimónias fúnebres de Kennedy, do seu assassino: Lee Harvey Oswald, quando este se transferia da cadeia central de Dallas para uma prisão estatal.


"Não procurarei, nem aceitarei, a nomeação democrata para um novo mandato como Presidente"


Com os anos, quer o prestígio de Cronkite, quer o do CBS Evening News subiam, e mais momentos decisivos da sua carreira viriam a surgir, especialmente num ano marcante como foi o de 1968. O primeiro foi quando rumou ao Vietname do Sul para assistir, "in loco", à Ofensiva do Tet, que ocorrera no início de Fevereiro de 1968. O exército Vietcong (os "VC's" ou "Charlies" no calão militar) planou meticulosamente um plano que visava apanhar os americanos e os sul-vietnamitas "com as calças na mão" surpreender os americanos nesse preciso dia, pois normalmente havia um acordo tácito de cessar os combates nessa ocasião festiva.


Os VC's conseguiram os seus intentos: nos vários dias a seguir, a guerra tinha chegado ao centro de Saigão, com combates a decorrer, imaginem-se, dentro da embaixada americana! A ideia era tentar ganhar aos americanos no seu próprio terreno e infligir um poderoso golpe não só à América, como ao mundo ocidental, numa altura de Guerra Fria. Não o conseguiram, mas o embaraço foi o suficiente para, por exemplo, os soldados americanos andarem mais de um mês a tentar escorraçar os VC's da cidade imperial de Hué, perto do famoso paralelo 17.


Cronkite foi nessa altura a Hué, para ver os combates "in loco", e chegou à conclusão que aquela guerra não estava a ser ganha, nem se ia a lado nenhum com um conflito que só trazia mortos e estropiados para casa, e que já era um desperdício de meios militares, começando a ser contestada em casa. No final de um "Special Report" feito por ele, no regresso ao seu estúdio em Nova Iorque, afirmou que aquele conflito só seria resolvido numa mesa de negociações, pois uma maior escalada da guerra seria como abrir numa perigosa "Caixa de Pandora" que poderia resultar, num caso extremo, "um conflito de proporções cósmicas". Numa altura de Guerra Fria, isso significava muito...


Ao ouvir estas palavras, o presidente Johnson terá dito: "Se perdi o Cronkite, então perdi a América". Poucos dias depois, a 31 de Março de 1968, fez um discurso à Nação onde disse uma frase que chocou muitos: "Não procurarei, nem aceitarei, a nomeação democrata para um novo mandato para ser Presidente dos Estados Unidos da América". Quase a seguir, o senador Robert Kennedy (RFK), irmão de John Kennedy, anunciou que iria concorrer a presidente.


(continua no próximo capitulo)

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