Este foi um fim de semana sem grande competição, excepto as corridas quer do WTCC, quer da Formula 2, que aconteceram em Marrocos. O circuito de Marrakesh, feito nas rectas enormes das ruas dessa cidade de muralhas vermelhas, foi palco de mais acidentes do que se pode esperar numa corrida feita na malha urbana de qualquer cidade da Europa, Asia ou as Americas. Não tem nada a ver com o continente em si, mas sim com os pilotos e o seu estilo de condução nos dias de hoje, pois é aí que mora o perigo.
Digo isto não só por causa das duas corridas do WTCC terem acontecido mais vezes com o Safety Car em pista do que a competição propriamente dita, mas também porque a prova de Formula 2 ter sido polvilhada por fortes acidentes, o pior deles todos foi o vôo do piloto luso-angolano Ricardo Teixeira, que no dia anterior foi quinto classificado, o melhor lugar de sempre na sua carreira, provavelmente.
Mas não estou aqui a falar sobre o Deletraz dos nossos dias, não. Falo sobre o facto de Ricardo Teixeira ter sido protagonista involuntário de um espectacular vôo na segunda corrida do fim de semana em Marrakesh, envolvendo mais quatro carros. Confesso que me arrepiei ao ver aquilo. Pensei logo no pobre Henry Surtees, morto por uma roda de outro concorrente, dez meses antes em Brands Hatch, e comecei a pensar se a loucura que estes jovens rapazes (e há uma rapariga), de 17, 18, 19 anos, vale vidas humanas. O automobilismo é competição? É sim senhora, mas não serve para colocar a cabeça no cepo. Inconscientemente (ou não) é isso que está a acontecer.
Neste mesmo fim de semana, no outro lado do Mundo, um acidente semelhante colocou todos os dispositivos de segurança à prova... e a nossa sorte. Aquela linha vermelha que nos separa a sorte da morte foi testada no circuito de Barbagallo, no Queensland australiano, quando o Mini Cooper S do piloto local Kain Magro se despistou na corrida da Mini Challenge e passou a rede que delimita os espectadores, ferindo apenas duas pessoas... de forma ligeira. O piloto, claro, escapou ileso.
Tenho a sensação de que os pilotos em geral estarem a puxar pelos seus limites de forma muito perigosa. Neste inicio de século XXI, os carros de competição são mais fortes do que nunca. Os chassis são feitos de fibra de carbono, testados incessantemente e aprovados com o selo da FIA, os pilotos usam o sistema HANS nos seus pescoços, para evitar fraturas fatais na base do crânio, e os circuitos, agora, tem escapatórias em asfalto, para em teoria, corrigir os erros de pilotagem e dar aos pilotos uma chance de voltar à pista. Em suma, tudo para proteger o piloto e reduzir as chances de acidentes graves.
Mas isto tudo causou um efeito preverso: nas corridas de acesso e até na Formula 1, os pilotos estão cada vez mais agressivos, cada vez mais dispostos a tudo para conseguir passar o seu concorrente. E na Formula 1 de 2010 em que ultrapassar é uma saga, ainda pior.
Hoje em dia, se forem ver as corridas nas categorias de formação, o estilo dos pilotos é completamente agressivo. São corridas curtas, onde ser o mais rápido é mais importante do que chegar ao fim, e sendo pilotos jovens e de pavio curto, tem de lutar, literalmente, por cada curva e cada centímetro, para ganhar posições. E em todas estas categorias, para haver um equilibrio (artificial, diga-se), nos fins de semana duplos, as grelhas são invertidas nos oito primeiros para que os carros mais rápidos cheguem à frente o mais possivel. Nem sempre conseguem, porque o tempo é curto para alcançar essa posição.
Muitos criticam, por exemplo, o estilo de condução de Lewis Hamilton. Ele é assim porque foi ensinado a sê-lo: no karting, na Formula 3 e GP2, porque isso é o "pão nosso de cada dia" e não aprendem a se comportar na Formula 1, pois é outro mundo. Não são corridas de "sprint", são corridas onde a inteligência é o que conta, pois numa era sem reabastecimento, o que interessa é chgar ao fim inteiro, e não contornar as regras para passar o adversário. Não é por acaso que o lider é Jenson Button, um piloto que usa a cabeça para vencer.
Nos bilhetes dos circuitos ingleses está escrita a seguinte frase: "motorsport is dangerous". Isto serve para os espectadores, mas eles estão protegidos por redes muito mais altas daquelas de Barbagallo. O problema são os pilotos, que acho que devem ter aulas não só de condução, como também aulas para dosear a sua agressividade em pista. Não creio que todos tenham de ser Gilles Villeneuve, pois caso não saibam, ele terminou muito mal a sua carreira. Quero ver competição e vencedores, não candidatos a mitos. Apesar dos avanços, os carros continuam a não ser cem por cento seguros.
Digo isto não só por causa das duas corridas do WTCC terem acontecido mais vezes com o Safety Car em pista do que a competição propriamente dita, mas também porque a prova de Formula 2 ter sido polvilhada por fortes acidentes, o pior deles todos foi o vôo do piloto luso-angolano Ricardo Teixeira, que no dia anterior foi quinto classificado, o melhor lugar de sempre na sua carreira, provavelmente.
Mas não estou aqui a falar sobre o Deletraz dos nossos dias, não. Falo sobre o facto de Ricardo Teixeira ter sido protagonista involuntário de um espectacular vôo na segunda corrida do fim de semana em Marrakesh, envolvendo mais quatro carros. Confesso que me arrepiei ao ver aquilo. Pensei logo no pobre Henry Surtees, morto por uma roda de outro concorrente, dez meses antes em Brands Hatch, e comecei a pensar se a loucura que estes jovens rapazes (e há uma rapariga), de 17, 18, 19 anos, vale vidas humanas. O automobilismo é competição? É sim senhora, mas não serve para colocar a cabeça no cepo. Inconscientemente (ou não) é isso que está a acontecer.
Neste mesmo fim de semana, no outro lado do Mundo, um acidente semelhante colocou todos os dispositivos de segurança à prova... e a nossa sorte. Aquela linha vermelha que nos separa a sorte da morte foi testada no circuito de Barbagallo, no Queensland australiano, quando o Mini Cooper S do piloto local Kain Magro se despistou na corrida da Mini Challenge e passou a rede que delimita os espectadores, ferindo apenas duas pessoas... de forma ligeira. O piloto, claro, escapou ileso.
Tenho a sensação de que os pilotos em geral estarem a puxar pelos seus limites de forma muito perigosa. Neste inicio de século XXI, os carros de competição são mais fortes do que nunca. Os chassis são feitos de fibra de carbono, testados incessantemente e aprovados com o selo da FIA, os pilotos usam o sistema HANS nos seus pescoços, para evitar fraturas fatais na base do crânio, e os circuitos, agora, tem escapatórias em asfalto, para em teoria, corrigir os erros de pilotagem e dar aos pilotos uma chance de voltar à pista. Em suma, tudo para proteger o piloto e reduzir as chances de acidentes graves.
Mas isto tudo causou um efeito preverso: nas corridas de acesso e até na Formula 1, os pilotos estão cada vez mais agressivos, cada vez mais dispostos a tudo para conseguir passar o seu concorrente. E na Formula 1 de 2010 em que ultrapassar é uma saga, ainda pior.
Hoje em dia, se forem ver as corridas nas categorias de formação, o estilo dos pilotos é completamente agressivo. São corridas curtas, onde ser o mais rápido é mais importante do que chegar ao fim, e sendo pilotos jovens e de pavio curto, tem de lutar, literalmente, por cada curva e cada centímetro, para ganhar posições. E em todas estas categorias, para haver um equilibrio (artificial, diga-se), nos fins de semana duplos, as grelhas são invertidas nos oito primeiros para que os carros mais rápidos cheguem à frente o mais possivel. Nem sempre conseguem, porque o tempo é curto para alcançar essa posição.
Muitos criticam, por exemplo, o estilo de condução de Lewis Hamilton. Ele é assim porque foi ensinado a sê-lo: no karting, na Formula 3 e GP2, porque isso é o "pão nosso de cada dia" e não aprendem a se comportar na Formula 1, pois é outro mundo. Não são corridas de "sprint", são corridas onde a inteligência é o que conta, pois numa era sem reabastecimento, o que interessa é chgar ao fim inteiro, e não contornar as regras para passar o adversário. Não é por acaso que o lider é Jenson Button, um piloto que usa a cabeça para vencer.
Nos bilhetes dos circuitos ingleses está escrita a seguinte frase: "motorsport is dangerous". Isto serve para os espectadores, mas eles estão protegidos por redes muito mais altas daquelas de Barbagallo. O problema são os pilotos, que acho que devem ter aulas não só de condução, como também aulas para dosear a sua agressividade em pista. Não creio que todos tenham de ser Gilles Villeneuve, pois caso não saibam, ele terminou muito mal a sua carreira. Quero ver competição e vencedores, não candidatos a mitos. Apesar dos avanços, os carros continuam a não ser cem por cento seguros.
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