sábado, 24 de julho de 2010

Extra-Campeonato: Recordando Peter Sellers



Há alguns anos vi um bom filme chamado "Life and Death of Peter Sellers" - que em Portugal chegou aqui com o título de "Eu, Peter Sellers" - com o Geoffrey Rush no papel do actor britânico. Se estivesse vivo, Peter Sellers teria 84 anos, mas hoje comemora-se o 30º aniversário da sua morte, vítima de um ataque cardíaco tido três dias antes, em pleno átrio do Dorchester Hotel, em Londres.

Provavelmente deve ter sido um dos melhores comediantes da sua geração. Sempre fui admirador dos seus trabalhos, primeiro como desastrado Inspector Closeau, nos vários filmes da saga "Pantera Cor de Rosa", mas mais tarde, descobri a sua enorme versatilidade quando fez "Dr. EstranhoAmor", de Stanley Kubrick, em que faz três papeis diferentes: o coronel Mandrake da RAF, o presidente americano Merkin Muffey e o Dr. Estranhoamor, um cientista com um forte sotaque alemão e com uma tendinite no braço esquerdo, que compulsivamente queria fazer a saudação nazi.

Anos depois, Sellers disse que a sua relação com Kubrick (que tinha trabalhado com ele em Lolita, dois anos antes, no papel de Claire Quilty, o "nemesis" de Humbert Humbert, no romance de Vladimir Nabokov) tinha sido uma das mais recompensadoras da sua carreira, pois ele incentivava Sellers a improvisar e a trabalhar nas suas personagens, especialmente quando se tratava dos sotaques. Inicialmente, ele deveria ter sido também o Major T.J. "King" Kong, o louco texano que acaba por cavalgar o missil atómico, numa das cenas mais memoráveis da história do cinema, mas Kubrick decidiu escolher o actor Slim Pickens, porque o sotaque texano de Sellers não era suficientemente convincente. No final, devido aos seus papeis, Sellers conseguiu aqui a sua primeira de duas nomeações para o Oscar de melhor actor, a segunda das quais em 1979, no filme "Bem-Vindo, Mr. Chance" (Muito Para Além do Jardim, na versão brasileira).

Ao longo da sua carreira, Sellers fez inumeras imitações de personagens que conheceu, primeiro quando improvisava nos salões de teatro da zona de Southsea, em Southampton, e depois na Royal Air Force, em plena II Guerra Mundial, e intrincou todas essas personagens de tal forma que nunca se descobriu quem era o verdadeiro Peter Sellers. E provavelmente, nem ele sabia...

Depois do seu sucesso no "The Goon Show", na Grã-Bretanha, a sua fama catapultou-se nos Estados Unidos, onde chegou a ser o primeiro homem a aparecer na capa da Playboy, em Abril de 1964, por alturas do filme "Dr. EstranhoAmor". Talvez tenha sido este sucesso e os problemas em lidar com ela que pode justificar de uma certa forma a vida agitada que teve: casou-se por quatro vezes, teve três filhos, era apreciador da boa vida (adorava carros potentes, por exemplo), e teve o seu primeiro ataque cardíaco aos 38 anos. Para piorar as coisas, esteve sempre relutante em ir para a mesa de operações, que provavelmente encurtou em muito a sua vida. Só depois de um segundo ataque cardíaco, em 1977, é que se dignou em colocar um "pacemaker".

No seu testamento, Sellers pediu expressamente que colocassem a musica "In The Mood" de Glen Miller, no seu funeral. Quando os seus amigos descobriram isso, viram que era uma forma de sarcasmo além-túmulo, porque ele detestava esta musica em particular.

Teve três filhos, e num acaso cruel do destino, o seu filho Michael morreu numa mesa de operações em 2006, num 24 de Julho, exactamente 26 anos dpeois do seu pai. Apenas viveu menos dois anos do que ele.

No final, ao ver as suas performances, deixa-nos intrigados e fascinados ao mesmo tempo. Intrigados no sentido de saber quem ele realmente era, e fascinados pela sua capacidade inigualável de caracterizar a maior quantidade de personagens possivel.

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