quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Annus Horribilis: Francois Cevért, Watkins Glen, 1973

Sábado de manhã. Chega ao circuito. Assina uns autógrafos, vai às boxes, entra no carro, colocam-lhe o cinto de seis pontos, carrega o botão para fazer funcionar os mais de 400 cavalos do seu motor Cosworth de 3 litros. Vai dar umas voltas de aquecimento, volta às boxes, troca algumas impressões com Ken Tyrrell e Derek Gardner, volta à pista, dá algumas voltas, tem um acidente e morre. Foi assim o dia 6 de Outubro de 1973 para Albert Francois Cevért Goldenberg, nascido 29 anos antes, a 22 de Fevereiro de 1944, em plena ocupação nazi de Paris. Um local perigoso para um judeu se viver. E ainda por cima daqueles que fazia parte da Resistência, como o seu pai Charles.

Cevért era uma pessoa confiante naquele fim de semana de Watkins Glen. Ele já tinha uma ideia de que o seu amigo Jackie Stewart iria retirar-se após aquele fim de semana. O fim de semana onde faria o centésimo Grande Prémio da sua carreira, provavelmente o último. E depois, ele seria o primeiro piloto da Tyrrell, a melhor equipa de então, e onde ele podia aspirar ao título mundial tão sonhado por ele, e pelo qual toda a França automobilistica sonhava, desde 1950.

Cevért lutava pela pole-position com o Lotus de Ronnie Peterson, seu amigo pessoal. O sueco fez a pole-position e venceu a corrida nesse fim de semana, mas fê-lo com tristeza nos olhos, como já leram no post anterior. Uma das pessoas que lá estava nesse dia fatídico ouviu-o dizer o seguinte: "Este é o chassis 006, na minha sexta corrida, a seis de Outubro. Este deve ser o meu dia de sorte". Nao foi, como sabemos.

Um dos fotógrafos que lá estava, Manou Zurini, recordou de ter pedido noticias sobre Cevért a Jacky Ickx, que nesse fim de semana corria pela Iso-Marlboro de Frank Williams. Sobre isso, disse: "Jacky tinha chegado à boxe e tinha chegado junto a ele quando reparei que estava a chorar. Não o questionei mais, pois notei que não havia nada a fazer. E sabia que Jacky não era homem para chorar".

Se alguém tiver a vontade de ler os livros de história, irão descobrir que esse foi o mesmo dia em que começou a Guerra do Yom Kippur, a guerra onde as tropas egipcias atacaram de surpresa as posições israelitas na Peninsula do Sinai. A guerra não durou muitos dias, mas as consequências foram fortes: foi aqui que começou o primeiro choque petrolífero, e foi aqui que terminou o mito do petróleo barato, dos carros beberrões de gasolina como os "muscle cars" americanos. Dodge Charger. Ford Mustang. Chevrolet Camaro, e outros. Beberrões enormes com blocos V8 com cinco e sete litros, que alcançavam mais de 200 km/hora, mas que bebiam trinta litros aos cem quilómetros.

O choque petrolífero colocou esses carros no canto da história e faz com que todos começassemos a pensar na volatilidade de um bem tão precioso e a sua respectiva finitude. E apesar do choque ter passado e as previsões catastrofistas não terem acontecido nesses dias, foi aqui que se começou a pensar, pesquisar e procurar por energias alternativas. Afinal, depois disto, descobrimos que o nosso planeta, a nossa casa, é mais frágil do que julgávamos.

Tal como a vida. A vida de um "Principe", que desde 6 de Outubro de 1973 irá ter 29 anos para toda a eternidade.

1 comentário:

Unknown disse...

Forever in our memories.He would be one of the best in F1.