(continuação do capitulo anterior)
Beaufort caminhava de forma calma rumo as boxes, acenando aos populares que o aplaudiam à medida que passava. Alguns seguem-no, pedindo por um autógrafo ao qual ele assina alguns dos papéis que as pessoas estendem, como gesto de simpatia e um sorriso nos lábios. Chega às boxes, onde é cumprimentado por alguns mecânicos da Temple-Jordan e depois da Apollo. Vê Pete, os Alex, Pam e Teresa na boxe, e cumprimenta-os um a um. Os homens cercaram-no e perguntaram.
- O que se passou?
- Foi o motor. Fiquei de repente sem potência.
- Mas não se viu fumo...
- Mas sei que foi. Carregava no acelerador e o motor calou-se. "C'est la vie".
- Até podes dar ao luxo de desistir.
- Ganhe aqui ou em Monza... o título mundial é uma questão de tempo. Bom, tenho de ir ter com eles, senão ainda pensam que estou a negociar um contrato com vocês.
- Falamos depois, então.
- "Au revoir, à bientôt, mes amis.", despediu-se Beaufort.
Pouco depois, na boxe da Matra, estava a dar a mesma explicação à TV local. Felizmente, o reporter sabia falar francês.
- Não, eu simplesmente perdi potência, senti que algo se tinha quebrado quando carregava o pedal do acelerador e este não respondia. Foi pena.
- E agora, isso não pode afectar as suas hipóteses de campeonato?
- Veremos como é que isto acabará. Pode ser que nada se altere, mas sei que talvez em Monza tudo se decida.
- É na casa da Ferrari...
- Não tenho de vencer. Basta pontuar para ser campeão. Aqui ou em Mont-Tramblant, por exemplo.
- Uma ultima pergunta: caso vença o bicampeonato, quais são os seus planos futuros?
- Ainda não penso nisso. Quando acontecer, veremos.
- Fala-se que pode abandonar a competição...
- Sobre isso não falo. Quando for a altura, saberão dos meus planos futuros, afirmou com um sorriso nos lábios.
- Muito obrigado, sr. Beaufort.
Na pista, a cavalgada solitária dos Ferrari continuava. Precisos como relógios suiços, Patrick Van Diemen e Toino Bernardini seguiam um atrás do outro, enquanto que atrás, Michele Guarini pressionava Carpentier no sentido de o passar e de se livrar do grupo que se formava atrás dele. Solana e Turner aproximavam-se, e não muito longe vinham os Jordan de Kalhola e Reinhardt, que continuava a recuperar daquele pneu furado no inicio.
O motor rebentado de Beaufort acontecera mais ou menos a meio da corrida, na volta 32, mas parece que o final dela tinha acontecido, pois à medida que as voltas passavam, Van Diemen e Bernardini mantinham-se a uma distância respeitável, sem atacarem um ao outro. Apenas mantinham o seu ritmo, que era superior ao da concorrência. E esse melhor exemplo era o que havia no grupo perseguidor, com o Ferrari do novato Guarini a pressionar o segundo Matra para conseguir o terceiro posto. E por muito que tentassem, nem o Apollo e o BRM, nem os dois Jordan não conseguiam apanhar os carros com motor V12.
Na volta 40, Guarini saiu melhor numa das curvas interiores e passou Carpentier, conseguindo o terceiro lugar e o monopólio da Ferrari no pódio. O francês tentou reagir, apanhando-o e voltando a ultrapassar quatro voltas mais tarde. O duelo continuava nas voltas seguintes, enquanto que na mesma volta, o radiador de Reinhardt cede, consequência do pneu furado no inicio da corrida, e ele encosta à berma, restando a Antti Kalhola salvar a honra do convento negro e dourado. Aparentemente, aproximava-se de Solana e Turner, mas não conseguia velocidade suficiente para os passar.
Mas a sorte daqueles três estava para acontecer naquela tarde. Na volta 51, Carpentier estava no seu limite na curva final quando a sua traseira escapou de forma que ficaria para além do seu controlo. Guarini, em vez de travar, manteve a velocidade, esperando passar por ele sem dificuldades. Mas à medida que o fazia, Carpentier torcia o volante para a direita e ao voltar, toca na suspensão do Ferrari na parte traseira direita, fazendo com que os dois carros ficassem irremediavelmente danificados. Ambos foram para a direita, a caminho das boxes, com a roda de Guarini segura por arames, enquanto que Carpentier batia no guard-rail, incólume, mas a sua corrida acabaria por ali. E a Matra marcava zero pontos em Zeltweg.
Todos viram o incidente das boxes. Nas bancadas, ouvia-se um "ohhhh" de emoção, com muitos a meterem as mãos à boca e uns gritos aqui e ali, receando o pior. Mas quando logo depois, viu-se Carpentier a levantar-se do seu carro sem ferimentos aparentes, o público aplaudiu.
Quanto a Guarini, conseguiu levar o seu carro à boxe, que estava diante de si mas quando chegou, os mecânicos nada podiam fazer.
- Michele, finito. Finita la macchina, diziam os mecânicos, abandando as cabeças.
- É vero?
Michele olhou para trás e viu a suspensão totalmente torta e com as marcas do choque com o Matra francês. Olhou para o estrago durante um momento e saiu do seu carro. A sua boa corrida acabava ali mesmo, e o seu ar resignado dizia quase tudo. Tirou o capacete e disse para si mesmo. "Finito". Alguns dos mecânicos deram palmadas nas costas, em sinal de encorajamento pelo que tinha feito naquela corrida.
Agora, Bob Turner era o terceiro, mas Solana e Kalhola estavam colados a ele. Restava apenas a experiência do veterano para ter o maior sangue-frio possivel e os aguentar o quanto pode. Na volta 53, o motor de Kalhola perdia alguma potência e descolava-se de Solana e Turner. O mexicano, que agora se via no quarto posto, por seu turno, tratou de encontrar uma fraqueza em Turner para alcançar o lugar mais baixo do pódio. Mas o tempo estava a chegar ao fim, pois quando passou pela meta, próximo dele, a placa indicava "LAP 58". Tinha três voltas à pista para fazer algo.
Sabia que nas rectas, o motor V12 da BRM era superior, mas contava com a velocidade nas curvas para o apanhar. Contudo, a unica coisa que sabia fazer era aproximar-se do BRM, pois ultrapassar era complicado, dada a velocidade e a estreiteza da pista. Contudo, quando faziam uma das curvas interiores, na volta 59, Turner travou tarde e saiu um pouco da trajectória. Solana viu a oportunidade e tentou aproveitá-la, mas não conseguiu mais do que ficar lado a lado. Tentou ficar no cone de aspiração do britânico, mas não conseguiu mais do que ficar colado, sem hipóteses para o ultrapassar.
Com a bandeira de xadrez à vista, os dois Ferrari fizeram formação, com Van Diemen à frente de Bernardini, e foi assim que cruzaram a meta. A Ferrari conseguia 15 pontos na Austria e Van Diemen era mais do que um vencedor neste circuito, tinha conseguido reduzir em nove pontos o seu atraso para Beaufort e marcar pontos quando os seus rivais mais directos não conseguiram: Monforte e Reinhardt. Ambos saudaram a multidão ao longo do circuito e dirigiram-se ao pódio para receberem as honrarias devidas. Depois dos Ferrari, Turner e Solana cruzaram a meta, a uns distantes 59 segundos da dupla de Maranello.
Os três pilotos subiram ao pódio, onde receberam uma enorme coroa de louros cada um, mais as respectivas garrafas de champanhe, antes de se colocarem em sentido e ouvirem os respectivos hinos: o belga para o vencedor e o italiano para o construtor. Ao longo da pista, algumas bandeiras da Scuderia se viam, agitadas com os acordes do hino nacional. Depois, Van Diemen, Bernardini e Turner comemoraram a corrida, jorrando champanhe para cima de toda a gente, antes de embarcarem no carro da organização para darem uma volta final ao circuito para saudar os presentes.
Com tudo isto, Solana saiu do carro e saudou os seus membros de equipa. O quarto lugar poderia não ter dado um pódio, mas deu pontos para a Apollo, que viu o seu principal piloto de fora muito cedo na corrida. Pete estava sorridente, mas estava à espera de mais.
- Não posso me queixar, sei que é perferivel ter pontos do que nada. Olhem a Matra.
- É verdade? O Beaufort não pontuou?
- Não. Rebentou o motor, respondeu Alex.
- Mas ele é o campeão, praticamente...
- Basta ganhar uma das quatro provas que aí vem, e é campeão.
- Tinhas razão, quando estivemos à conversa sobre o campeonato, ontem.
- Sim, é verdade. E Monza vai ser a mesma coisa...
- Já agora, quem ficou atrás de mim?
- Os Jordan do Antti e do Pieter.
- Temos de aguentar, rapazes, respondeu Pete.
- Pete, se a Ferrari meter três como fez agora, e se estiverem nesta forma, só lutaremos pelo sexto lugar...
- Sim, se os Matra continuarem assim... continuou Teddy.
- Pois, temos confiar que estejam pouco fiáveis, rapazes.
- E só podemos usar "aquilo" no The Glen...
- Tenhamos paciência, então. Este ano não viemos lutar pelos títulos. Apenas vitórias, sorriu Pete.
- Se ganharmos lá, quanto é que vale? perguntou Alex, curioso.
- 60 mil dólares. Dá para comprar uma mansão aqui na Europa.
Os dois pensaram por um momento e disseram:
- OK, esqueçamos o título. Temos de ganhar no Glen, custe o que custar, respondeu Alex.
Todos abanaram a cabeça em sinal de concordância.
- E agora, Alex, mais logo vais apagar a posta. Portanto, graças aos meus três pontos, tu vais lavar a loiça e fazer o jantar para e equipa, afirmou Teddy, dando uma palmada forte nas costas.
- Pois é, já me tinha esquecido dessa treta... rapazes, preparem os vossos estômagos.
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