Por estes dias todos falam sobre isso: a assembleia geral da Liga de Futebol decidiu ontem que o campeonato de futebol seria alargado para 18, com a agravante de que nenhum clube desça de divisão e que os dois clubes primeiros classificados da II Liga subam de divisão no final da época. Para "melhorar" as coisas, também decidiram que essa mesma II Liga passasse a ter 22 equipas, colocando ali as equipas B de Sporting, Braga, Benfica, Porto, Maritimo e Vitória de Guimarães. As medidas acontecerão a partir da temporada de 2012-13.
Nestes últimos dois ou três dias, toda a gente urra de indignação, e expressões como "vergonha" estão a ser usadas a torto e a direito, afirmando que isso coloca o futebol português num bueiro digno de um campeonato qualquer no Corno de África ou das Ilhas Falkland. Pessoalmente, eu já esperava isto tudo. Esperava desde o momento em que elegeram o novo presidente da Liga Profissional de Futebol, Mário Figueiredo. No inicio do ano, quando este presidente foi eleito, apoiado pelos clubes pequenos como Gil Vicente, Vitória de Setubal ou o Feirense - que foram os mais vocais nessa eleição - eu sabia que as consequências seriam estas. E essa gente tem a sua própria agenda, e um dos seus objetivos era um alargamento imediato, sem descidas, e não descansou ate conseguir.
O problema é que aquilo que eles queriam era subverter a maneira como este campeonato se iria decidir. Mudar as regras a meio do ano, fazendo com que este seja um campeonato onde ninguém desce, à boa maneira americana, e onde até o último classificado tinha garantido mais uma temporada na I Divisão, logo, recebendo "os três grandes", não se vê nas principais ligas europeias. E este alargamento contraria tudo o que se escreveu e se mostrou, em vários estudos feitos por instituições como a Delloitte: o alargamento é mais um prejuízo do que um lucro, e que idealmente, a I Liga portuguesa seria lucrativa se tivesse 12 equipas, no máximo, jogando a três voltas, como acontece na Escócia, por exemplo.
Contudo, esta decisão contraria a realidade portuguesa. Uma realidade onde, numa era de "vacas magras" ouve-se cada vez mais que há salários em atraso nas equipas quer da primeira divisão, quer da segunda, onde se tenta contratar barato, principalmente no Brasil, preterindo o jogador português, que não tem outra opção senão emigrar para outros campeonatos, como o romeno e o cipriota. Há quem diga que por essas bandas hajam mais jogadores portugueses a jogar do que no próprio campeonato nacional. É a consequência de vivermos na União Europeia, é certo.
Mas o que esta decisão da Liga demonstra é que passou-se de uma hegemonia para outra: a hegemonia dos grandes para a dos pequenos. E se um já era mau, o segundo tende a ser pior. É que agora, eles querem negociar em bloco as transmissões televisivas, como se faz em vários sitios na Europa, como Inglaterra, França, Espanha ou Alemanha. Uma iniciativa louvável, é certo, mas quanto é que vão pedir à Olivedesportos ou a outra cadeia de TV que esteja interessada no negocio?
Exemplos: o Benfica não quer ganhar menos de 40 milhões de euros por ano, e rechaçou recentemente uma proposta de 22,5 milhões, e era maior do que o que o Porto ganha (18 milhões), o que o Sporting ganha (13 milhões). Ocontrato acaba em 2013, creio eu, e Luis Filipe Vieira muito provavelmente vai esperar que o contrato chegue ao fim para negociar os seus termos e condições, provavelmente com um "plano B" na manga.
É certo que esse bloco não vai querer valores tão altos assim, mas vamos supor que dez clubes pequenos exigam 10 milhões de euros por ano à Olivedesportos. São cem milhões de euros que essa entidade iria pagar a cada temporada, e não estou a ver que eles tenham esse dinheiro, ainda mais quando os grandes querem ser principescamente pagos para se mostrarem na montra europeia. O Benfica só recebe oito milhões das receitas televisivas, a sorte é que tem imensas outras fontes de receita, como a publicidade e o "merchandising".
Em suma, tudo tem a ver com o dinheiro. E visibilidade. Estando na II Divisão não são nada, na I Divisão, recebem os "grandes", logo, os seus estádios enchem e recebem dinheiro da TV. Na II Divisão, os estádios estão vazios, não há receitas, logo, o dinheiro acaba antes do final do mês. Mas toda a gente sabe que o alargamento, ainda mais com a mudança das regras feita a meio do jogo, só faz mais mal do que bem.
P.S: No momento em que escrevo isto, a Federação Portuguesa de Futebol, na pele do seu presidente (e ex-presidente da Liga), Fernando Gomes, já afirmou que irá vetar esta decisão do alargamento, alegando que há um protocolo que foi assinado pelas anteriores direções da Federação e da Liga, válido até 2013. Um veto que os clubes grandes aprovam, mas que os mais pequenos já responderam, ameaçando parar o campeonato. De fato, esta história não acabará por aqui nos próximos dias, mas sinceramente, não acredito nas ameaças urradas, por exemplo, por um "analfabruto" como o António Fiúza, o presidente do Gil Vicente.
P.S: No momento em que escrevo isto, a Federação Portuguesa de Futebol, na pele do seu presidente (e ex-presidente da Liga), Fernando Gomes, já afirmou que irá vetar esta decisão do alargamento, alegando que há um protocolo que foi assinado pelas anteriores direções da Federação e da Liga, válido até 2013. Um veto que os clubes grandes aprovam, mas que os mais pequenos já responderam, ameaçando parar o campeonato. De fato, esta história não acabará por aqui nos próximos dias, mas sinceramente, não acredito nas ameaças urradas, por exemplo, por um "analfabruto" como o António Fiúza, o presidente do Gil Vicente.
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