Todos os anos é isto: sempre que chega uma nova temporada de Formula 1, os jornais arranjam sempre duas, três ou quatro páginas, ao longo dos dias anteriores à primeira corrida da temporada, para falar sobre a Formula 1. Sobre as equipas, sobre os pilotos, sobre as máquinas. Algo que nós, "petrolheads" discutimos todos os dias nos nossos fóruns, nos nossos cantos. De uma certa maneira, eles lembram ao "mainstream" o que vêm aí e percebem a razão pelo qual o marido, namorado ou irmão - também há senhoras e casais - que se levantam a meio da noite para ir ver 24 tipos a acelerar que nem doidos, às voltas num circuito.
Esta temporada tem um atrativo do qual Bernie Ecclestone esfrega as mãos de contente: seis campeões do mundo na grelha de partida, todos eles com carros relativamente competitivos. Sebastian Vettel é o alvo a abater, e este quer estar concentrado para conseguir vencer mais corridas e bater recordes de precocidade: se acabar campeão do mundo, será o tri e será o mais novo de sempre a alcançá-lo, batendo o recorde de Ayrton Senna, que o conseguiu aos 31 anos. E claro, este é a temporada do regresso de Kiki Raikkonen, depois de dois anos bem razoáveis nos ralis.
O jornal português i coloca na sua edição de hoje, através do seu jornalista Rui Catalão, uma matéria sobre os campeões do mundo presentes e as suas expectativas para a temporada que irá começar.
FORUMLA 1. 2012 É O ANO DOS CAMPEÕES
Por Rui Catalão, publicado em 15 Mar 2012 - 03:10 | Actualizado há 13 horas 5 minutos
Com o regresso de Kimi Raikkonen, esta temporada vai haver pela primeira vez seis campeões do mundo a correr no Mundial – ou seja, um quarto dos pilotos que estarão em pista. Do mais recente (Sebastian Vettel) ao mais antigo (Michael Schumacher), há razões para esperar um dos anos mais interessantes de sempre na Fórmula 1. Entre estes seis homens há 14 títulos, 186 vitórias e 160 pole positions. Quem vai repetir a conquista? Ou será que aparece um novo campeão?
Sebastian Vettel. A correr, a cantar, o miúdo já só sabe é ganhar
No meio da festa do segundo título de campeão, em Suzuka, Sebastian Vettel deu largas à veia de cantor e entrou num karaoke – onde também estavam os patrões Christian Horner e Adrian Newey. Vettel, fã assumido dos Beatles, cantou “Hey Jude”. Já Newey preferiu “Yellow Submarine”. Diz quem viu e ouviu que foi um espectáculo bonito. Mas o fim-de-semana no Japão já lá vai, agora há que arranjar motivos para novo karaoke. O RB8 tem dado sinais de estar pronto para o ataque ao terceiro título consecutivo e Vettel cumpriu a tradição de lhe dar um nome particular. Depois de Kate (2009), Luscious Liz (2010) e Kinky Kylie (2011), o piloto de 24 anos optou por baptizar o novo Red Bull de Abbey. Mas garante que nada tem a ver com a música dos Beatles nem com a chicane de Silverstone. “É só um nome fixe.” Para já, o bicampeão tem um desafio: ser capaz de seguir a mesma cantiga de Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher, os únicos pilotos da história da Fórmula 1 a ganhar três títulos consecutivos. Ayrton Senna e Alain Prost, por exemplo, nunca o conseguiram.
Jenson Button. O playboy que se transformou em gentleman
As mulheres adoram-no. Começou a carreira como um playboy que adorava festas e coleccionava companhias femininas de alto gabarito. Isso já passou. Agora, Jenson Button é o protótipo do gentleman, o piloto cuja postura agrada à equipa sem pôr em causa a relação com os adversários. O ponto de viragem foi o Inverno de 2008 para 2009. A Honda desistiu da Fórmula 1 e o britânico ficou sem equipa, depois de ter sido 18.º no Mundial. O cenário era pouco animador, mas apareceu a Brawn. Button endireitou-se e ao fim de mais uma época era campeão. Na McLaren, foi o primeiro piloto a afirmar-se perante Lewis Hamilton, o protegido que se habituou a ser o preferido. Mais consistente do que o colega, Button até foi destacado por Christian Horner como o maior perigo para os seus Red Bull. Pelos vistos, também está mais confiante. Diz-se mais feliz do que há um ano e reclama parte da atenção: “Toda a gente é comparada ao Seb[astian Vettel] porque ele ganhou dois títulos consecutivos. Mas antes dele ganhei eu o campeonato do mundo.”
Lewis Hamilton. O prodígio que agora é mais um bad boy
O talento está lá. Não foi por acaso que a McLaren gastou 5,5 milhões de euros em Lewis Hamilton desde o dia em que o piloto teve a audácia de se meter com Ron Dennis, com 13 anos, até ao momento em que subiu à Fórmula 1. Mas o estatuto de prodígio tem dado lugar a um certo ar de bad boy. Em 2011, Hamilton coleccionou mais um punhado de conflitos em pista e fora dela. O caso mais emblemático deu-se no Mónaco, quando foi punido por forçar as desistências de Massa e Maldonado. Saiu do carro, abriu a boca e disse: “Se calhar é porque sou preto.” A cor fará pouca diferença para quem manda na McLaren. Os responsáveis querem é um piloto que ganhe (como ele fez em 2008) e seja regular, que responda com velocidade no carro e não com agressividade fora dele. Agora vai começar a sexta época na Fórmula 1 na Austrália, onde tudo começou. Também foi lá que armou mais uma das boas: em 2010 andou a fazer piões no meio da estrada, depois da sessão de qualificação. Na altura, o ministro das Estradas até disse bem alto: “Hamilton é um jovem muito tonto.”
Kimi Raikkonen. As corridas são o vício que lhe alimenta a loucura
A paciência para falar com os jornalistas é inversamente proporcional ao salário que recebia quando deixou a Fórmula 1, em 2009. Nesse ano ganhou 31 milhões de euros, o reflexo do título conquistado na época anterior. Luca Di Montezemolo, presidente da Ferrari, tinha apostado tão forte no finlandês que, pelo caminho, nem se importou com a saída de Michael Schumacher. Mas Kimi Raikkonen foi campeão apenas uma vez, o que soube a pouco à Ferrari. Acabou dispensado, para dar lugar a Alonso, e mudou de ares. Passou para os ralis, onde competiu durante os últimos dois anos. Ainda assim, já se sabia que um dia regressaria à disciplina que o fez feliz. E aí está ele, na Lotus, no lugar que maior curiosidade gera à partida para a nova temporada. O que vai ser capaz de fazer? Por agora promete intrometer-se no grupo dos Red Bull, McLaren e Ferrari. O Iceman, como o conhecem no mundo do automobilismo, não vive sem corridas, tanto assim que já fez uma num barco, mascarado de gorila da cabeça aos pés. É esta a realidade de Raikkonen, o louco.
Fernando Alonso. A seca de títulos chegou à boca: agora não fala
A Renault de Flavio Briatore, com a qual foi campeão em 2005 e 2006, está cada vez mais perdida nas memórias da Fórmula 1. E, se excluirmos os anos de ausência de Michael Schumacher, ninguém está há mais épocas sem ganhar do que Alonso. O espanhol tem tido problemas para recuperar o caminho das vitórias. Em 2010, o primeiro ano com a Ferrari, esteve perto, mas já sabe como acabou: em Abu Dhabi, saiu de uma paragem nas boxes atrás de Vitaly Petrov e nunca o ultrapassou. O erro estratégico da equipa custou caro, mas a temporada passada ainda foi pior. Tanto assim que, a meio do ano, a Ferrari já pensava em adiantar trabalho para 2012. E as perspectivas também não são melhores. Por isso é que nem Alonso nem Felipe Massa falam aos jornalistas. Declarações só mesmo ao site da escuderia; de resto, o silêncio é rei. Por outro lado, durante os testes de Barcelona, o espanhol esteve junto à pista a gravar a passagem dos outros carros com o iPhone, protegido por uma capa do Homem-Aranha. Mas não passou despercebido.
Michael Schumacher. O campeão que deixou de ganhar
Há uma batalha interior no génio de Michael Schumacher. Foi o piloto que mais ultrapassou em 2011 – 116 vezes –, mas apenas porque falhou na qualificação prova atrás de prova. O engenho ainda lhe dá o charme dos campeões, a classe de quem tem mesmo mãos para guiar um Fórmula 1 sem tremer por todos os lados. Por outro lado, Schumacher já tem 43 anos e o corpo lida cada vez pior com o desgaste de uma corrida. E o alemão admite que só regressou, em 2010, porque os testes durante a época tinham sido banidos – no fundo, a F1 roubar-lhe-ia muito menos tempo do que antes. Os resultados têm sido pouco simpáticos: já passaram 38 grandes prémios desde a última vez que Schumi subiu ao pódio. Para esta época, o desafio passa por subir mais uns degraus, talvez chegar ao patamar dos mais fortes. O heptacampeão acredita nessa hipótese, pelo menos. “Sei que ainda sou um dos melhores do mundo, que estou motivado, que me divirto e que a maioria está feliz por ainda me ter na Fórmula 1.” Só falta a Mercedes dar-lhe um carro vencedor.
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