quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pedro Matos Chaves sobre Armindo Araujo, e outras coisas mais

Sobre Armindo Araujo, já falei muito sobre o facto de se correr muita tinta sobre os seus feitos nos ralis, sobre o facto de muita gente querer o impossivel ao piloto de Santo Tirso que é pera poderem destilar o seu ódio a ele, especialmente nos Fóruns de automobilismo, quase parecendo que existe da parte de alguma gente uma campanha para o desacreditar, baseado numa irritação qualquer pessoal. E como sabem, a persistência dessa gente, aliado às expectativas demasiadamente altas que muita gente poderia ter sobre ele, faz com que a tempestade aumente, em vez de ser ao contrário. Na sua segunda temporada completa a bordo dos carros do WRC, e provavelmente a alcançar os seus melhores resultados da sua carreira, ao volante do seu Mini John Cooper Works WRC, as criticas não deverão calar-se tão cedo, apesar de se saber que quase nenhumas delas se devem a ele.

Interessante é ler a Autosport deste mês, onde o Pedro Matos Chaves faz um comparativo entre os pilotos de ralis e os de velocidade. Ele que esteve nos dois mundos - e alcançou títulos em ambos - afirma certas coisas que são verdadeiras. Primeiro, que são poucos os pilotos de ralis que tentaram uma carreira verdadeiramente internacional, num país onde se adora esta modalidade e há excelentes exemplos em termos de organização e tradição. Ou seja: muito umbigo. Somente nos anos 90, com pilotos como Antonio Coutinho e Rui Madeira, é que se começou a olhar para a internacionalização com "olhos de ver". E claro, foi neste inicio do século que houve pilotos como Bruno Magalhães, Bernardo Sousa e Armindo Araujo, com os melhores resultados a caírem para o piloto da Santo Tirso.

Eis alguns extratos:

(...) "Será que os portugueses são melhores pilotos de velocidade do que de ralis? A frieza dos numeros pende os pratos da balança para a velocidade, mas para além de não concordar, a questão não pode apenas ser respondida com resultados...


Ao contrário da velocidade, poucos portugueses tentaram uma carreira internacional em ralis. Recordo-me do Francisco Romãozinho, António Borges, Carlos Torres (este com um programa internacional mais completo) e, mais recentemente, do Rui Madeira, António Coutinho, Adruzilio Lopes, Miguel Campos e do Bruno Magalhães. Não incluo neste lote o João Silva, por só agora estar a começar.

E porque apesar do talento de cada um, só muito pontualmente conseguem brilhar? Porque é que, de forma consistente, não conquistam resultados como o Pedro Lamy, Tiago Monteiro, João Barbosa, Alvaro Parente, Filipe Albuquerque ou Antonio Felix da Costa, só para citar estes exemplos? Por terem um talento interior? Não concordo! Por terem desenvolvido projetos para várias épocas? Também, mas não apenas...


Falo por experiência própria: os ralis exigem que um piloto guie pelo instinto, com improviso, com confiança nas notas. Quando cheguei ais ralis, chegava a treinar 15 dias. Era de loucos! Havia classificativas que percorria como uma rampa, porque decorava cada curva. E havia ralis que se assentavam em três troços, percorridos três vezes! Ou seja, os nossos pilotos nasceram, cresceram e tornaram-se adultos com essas condições. E isso ajudou à sua evolução? Não! (...)

"Nos ralis não há formação e os pilotos deixam-se moldar pelos vícios. Talvez isto ajude a justificar, de alguma forma, os resultados do Armindo. Mas com o respeito e a admiração que me merece, corro o risco de dizer que não justifica tudo.


O que lhe falta ao Armindo? O material traz os tempos, mas os tempos também trazem material. Não raras vezes é perferível fazer dois ou três tempos excepcionais, correndo o risco de ir contra uma árvore, do que fazer todo um rali no anonimato. Se calhar, o que falta ao Armindo é que os ´titulos mundiais tivessem sido na categoria S1600 e não na Produção, um campeonato que não é, nem nunca foi, reconhecido como escola de talentos. O que talvez falte é o regresso da confiança e a estabilidade de uma equipa genuinamente oficial ou simplesmente privada" (...)

Em muitos aspectos, Pedro Chaves pode ter razão. De facto, o limbo da Mini neste ano de 2012 não ajuda muito o piloto de Santo Tirso, ao contrário que se julgava anteriormente. Aliás, toda a gente afirma a pés juntos - uns julgando-se em comunicação directa com Munique, outros julgando-se senhores de dotes adivinhatórios, outros por puro "achismo" - que a BMW irá puxar o tapete no final de 2012, justificando a razão pelos fracos resultados obtidos. Pode ser que aconteça, mas estamos em Maio e não há sinais nesse sentido, apenas meia dúzia de estúpidos rumores.

Mas noutros aspectos, os que apontam defeitos a Armindo só fazem isso: apontar. Mostrar soluções, não mostram. E claro, a razão está à vista: o panorama nacional dos ralis está pobre, ninguém rola em máquinas de S2000, não há campeonatos de promoção - a crise também não ajuda - e o Open é a única categoria que mostra vitalidade. Mas um campeonato para iniciados, como havia nos anos 90, com ajuda da Federação para os colocar num WRC Academy, por exemplo, não existe neste momento. E Portugal, país pequeno e algo mesquinho de mentalidades, continua a viver da "geração espontânea". Culpam o Armindo? Ora, ao fazê-lo estão apenas a culpar a vocês mesmos. Por inação.

Sem comentários: