segunda-feira, 14 de maio de 2012

Historieta na Formula 1: os primeiros tempos de Bernie na Brabham


Confesso que tenho uma admiração fixa pela Motorsport britânica, pelo simples facto de ser muito rica em tudo: nas histórias que conta, nos carros que são mostrados e até na… publicidade. Os anúncios de leilões de automóveis clássicos são muitos, bem como os dos eventos que movimentam esse tipo de automóveis, que na Grã-Bretanha são uma industria tão rica que representa já um pequeno pedaço do seu PIB – Produto Interno Bruto.

Uma das secções que a revista tem é “Um almoço com…” e este mês de maio convidou Keith Greene e Chris Craft, que foram pilotos e diretores de corrida entre os anos 60 e 90, correndo ou treinando todo o tipo de carros, em todos os tipos de competições, desde os Turismos bitânicos até, claro, a Formula 1. Passando por Le Mans, pois ambos correram com Alain de Cadernet, nos anos 70. Ambos tiveram participações esporádicas na Formula 1. Greene com a Gilby, propriedade do seu pai, Syd Greene, e Craft com a Ecurie Evergreen, de De Cadernet, que ao contrário do que se pensa, é cidadão britânico.

Mas o que me chamou a atenção foi uma histórieta que Greene conta da sua participação na Formula 1, em 1972, ao serviço da Brabham. Apanhou um jovem Bernie Ecclestone, que, segundo ele conta, era bem mais duro a negociar do que é hoje. “Bernie telefona-me um dia e me diz ‘acabei de comprar a Brabham’, como se tivesse a dizer que tinha acabado de comprar um maço de cigarros. ‘Gostarias de tomar conta dele? Vem ter comigo amanhã às dez’. Digo-te: lidar com Bernie era bem mais duro então do que agora. Hoje em dia está bem mais domesticado.

Não dormia mais do que quatro horas por noite e comia que nem um passarinho – mas comia em restaurantes de três estrelas da Michelin. Tinha uma mesa tão grande no seu escritório que até podias jogar futebol em cima dela, mas nunca havia nada. Tinha quatro telefones e chegava a falar com quase todos ao mesmo tempo, para ver como andavam as coisas. Tinha uma mente prodigiosa e não esquecia nunca, mas nunca, do que as pessoas fizeram ou disseram dele. Tinhas de lembrar tudo o que falaste com ele, e tudo que já tinhas esquecido, porque ele poderia telefonar-te às quatro da manhã e perguntar-te sobre algum detalhe.

Os nossos pilotos [em 1972] eram Graham Hill, Carlos Reutemann e Wilson Fittipaldi. Tinhamos 15 DFV’s [motores Cosworth V8] para toda a época, cinco cada um, e Graham estava sempre a queixar-se de que não tinha os melhores motores. Quando chegamos à nossa primeira corrida, em Buenos Aires, estávamos a desempacotar as nossas coisas quando oiço um grito do fundo da boxe: ‘Greene, vem cá’. Chego e vejo Bernie com Graham, Carlos e Wilson. ‘Tens uma moeda?’ Eu cheguei-lhe com um peso e depois ele disse: ‘Eu digo quem é que vai ter motores este ano. Hill, cara ou coroa? OK. Cara. Hill, motor 932, anota aí, Greene.’ Mandei a moeda ao ar 15 vezes, anotei 15 numeros e depois Bernie disse: ‘Estes são os vossos motores para esta temporada. E não não quero saber mais desta conversa de m**** sobre bons e maus motores’ Dito isto, foi-se embora.

Naquele ano, Graham fez perto de seis mil milhas de testes, Carlos 4500, Wilson 4300. Tinhamos oito mecânicos ao todo, trabalhando cem horas por semana em média. E estava eu. Fui embora no final daquela época, mas consegues escapar de todo ao Bernie. Anos depois, em Spa, quando tomava conta dos Capri preparados por Grodon Spice para os irmãos Martin numa corrida de suporte do GP da Belgica, sou chamado para o motorhome da Brabham, que nessa altura estavam a ser patrocinados pela Parmalat. ‘Tenho de sair rapidamente depois da corrida. Podes ver se os rapazes colocam os carros no devido lugar depois das verificações pós corrida? Gostas de presunto Parma [Parmalat]?’ Ele chama o pequeno italiano que está sempre com ele e diz: ‘Dá ao Greeney um bocado das tretas da Parma, viu?’”

Entre muitas das outras coisas que Keith Greene fez, também teve uma participação na Team Hexagon, que correu em 1974 com John Watson ao volante. E o carro em que eles andaram era um… Brabham. Primeiro um modelo BT42, depois um mais atualizado BT44, que acabou por dar os primeiros sete pontos da carreira a Watson.                                                                            

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