Confesso que tenho uma admiração
fixa pela Motorsport britânica, pelo simples facto de ser muito rica em tudo:
nas histórias que conta, nos carros que são mostrados e até na… publicidade. Os
anúncios de leilões de automóveis clássicos são muitos, bem como os dos eventos
que movimentam esse tipo de automóveis, que na Grã-Bretanha são uma industria
tão rica que representa já um pequeno pedaço do seu PIB – Produto Interno
Bruto.
Uma das secções que a revista tem
é “Um almoço com…” e este mês de maio convidou Keith Greene e Chris Craft,
que foram pilotos e diretores de corrida entre os anos 60 e 90, correndo ou
treinando todo o tipo de carros, em todos os tipos de competições, desde os
Turismos bitânicos até, claro, a Formula 1. Passando por Le Mans, pois ambos
correram com Alain de Cadernet, nos
anos 70. Ambos tiveram participações esporádicas na Formula 1. Greene com a
Gilby, propriedade do seu pai, Syd
Greene, e Craft com a Ecurie Evergreen, de De Cadernet, que ao contrário do
que se pensa, é cidadão britânico.
Mas o que me chamou a atenção foi
uma histórieta que Greene conta da sua participação na Formula 1, em 1972, ao
serviço da Brabham. Apanhou um jovem Bernie Ecclestone, que, segundo ele conta,
era bem mais duro a negociar do que é hoje. “Bernie telefona-me um dia e me
diz ‘acabei de comprar a Brabham’, como se tivesse a dizer que tinha acabado
de comprar um maço de cigarros. ‘Gostarias de tomar conta dele? Vem ter
comigo amanhã às dez’. Digo-te: lidar
com Bernie era bem mais duro então do que agora. Hoje em dia está bem mais
domesticado.
Não dormia mais do que quatro
horas por noite e comia que nem um passarinho – mas comia em restaurantes de três estrelas da Michelin. Tinha uma mesa tão grande no seu escritório que até
podias jogar futebol em cima dela, mas nunca havia nada. Tinha quatro telefones e chegava a falar com quase todos ao mesmo tempo, para ver como andavam
as coisas. Tinha uma mente prodigiosa e não esquecia nunca, mas nunca, do que
as pessoas fizeram ou disseram dele. Tinhas de lembrar tudo o que falaste com
ele, e tudo que já tinhas esquecido, porque ele poderia telefonar-te às quatro
da manhã e perguntar-te sobre algum detalhe.
Os nossos pilotos [em 1972] eram
Graham Hill, Carlos Reutemann e Wilson Fittipaldi. Tinhamos 15 DFV’s [motores
Cosworth V8] para toda a época, cinco cada um, e Graham estava sempre a
queixar-se de que não tinha os melhores motores. Quando chegamos à nossa
primeira corrida, em Buenos Aires, estávamos a desempacotar as nossas coisas
quando oiço um grito do fundo da boxe: ‘Greene, vem cá’. Chego e vejo
Bernie com Graham, Carlos e Wilson. ‘Tens uma moeda?’ Eu cheguei-lhe com um peso e depois ele disse: ‘Eu digo quem é
que vai ter motores este ano. Hill, cara ou coroa? OK. Cara. Hill, motor 932,
anota aí, Greene.’ Mandei a moeda ao ar
15 vezes, anotei 15 numeros e depois Bernie disse: ‘Estes são os vossos
motores para esta temporada. E não não quero saber mais desta conversa de m****
sobre bons e maus motores’ Dito isto,
foi-se embora.
Naquele ano, Graham fez perto de
seis mil milhas de testes, Carlos 4500, Wilson 4300. Tinhamos oito mecânicos ao
todo, trabalhando cem horas por semana em média. E estava eu. Fui embora no
final daquela época, mas consegues escapar de todo ao Bernie. Anos depois, em
Spa, quando tomava conta dos Capri preparados por Grodon Spice para os irmãos
Martin numa corrida de suporte do GP da Belgica, sou chamado para o motorhome
da Brabham, que nessa altura estavam a ser patrocinados pela Parmalat. ‘Tenho de sair rapidamente depois da corrida.
Podes ver se os rapazes colocam os carros no devido lugar depois das
verificações pós corrida? Gostas de presunto Parma [Parmalat]?’ Ele
chama o pequeno italiano que está sempre com ele e diz: ‘Dá ao Greeney um
bocado das tretas da Parma, viu?’”
Entre muitas das outras coisas
que Keith Greene fez, também teve uma participação na Team Hexagon, que correu
em 1974 com John Watson ao volante.
E o carro em que eles andaram era um… Brabham. Primeiro um modelo BT42, depois
um mais atualizado BT44, que acabou por dar os primeiros sete pontos da
carreira a Watson.
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