segunda-feira, 17 de março de 2014

Bólides Memoráveis - Shadow DN3 (1974-75)

O carro que falo hoje é o resultado de uma evolução natural do chassis anterior. Quando no inicio de 1973, o chassis DN1, que serviu de estria à equipa Shadow, ficou pronto para correr, o carro mostrou potencial para andar ao nível da concorrência, com dois pódios para Jackie Oliver e George Follmer, mas surgiram defeitos: o carro era pouco rígido, devido à inexperiência de Southgate de desenhar um carro com motor Cosworth V8 (tinha vindo da BRM, que tinha a sua própria unidade V12), e o chassis sofria com as vibrações vindas do V8 anglo-americano.

Assim sendo, no final de um campeonato que serviu de aprendizagem para todos, Tony Southgate, o projetista da marca, decidiu aproveitar as lições do DN1 no novo DN3: o chassis ficou mais rigido, aumentou a distância entre-eixos e o monocoque aumentou em cinco quilos o seu peso total. Southgate decidiu também tornar o carro mais leve, incluindo componentes de titânio nos braços da suspensão do carro. Isso viria mais tarde ter consequências trágicas.

A dupla de 1973, constituída por Jackie Oliver e George Follmer, sai de cena para dar lugar a uma nova dupla: o americano Peter Revson, vindo da McLaren, e o jovem e veloz francês Jean-Pierre Jarier.

O carro estreia-se no GP da Argentina, nas mãos de Revson, e os resultados são promissores: o americano leva o carro para os lugares da frente na Argentina e no Brasil, mas não chega ao fim em ambas as corridas. Contudo, as promessas viram tragédia: a 22 de março, em testes que antecediam o GP da África do Sul, o carro de Revson perde o controle na Barbecue Bend, devido a uma quebra da suspensão e ele teve morte imediata.

Tony Southgate contou sobre esse episódio, anos depois, na Motorsport britânica: “‘Revvie’ era um tipo fabuloso, fácil de lidar e um excelente piloto. Mas, tragicamente, não ficou conosco por muito tempo. Classificou-se na segunda linha na Argentina e para o Brasil na terceira flia da grelha. Então, ele, eu, o nosso mecânico-chefe Pete Kerr e mais outros dois mecânicos fomos para Kyalami, para testes antes do GP sul africano.

Revvie estava muito bem, muito contente com o carro, e então, depois de ter iniciado uma volta, ele não apareceu. Corremos para a parte de trás do circuito e encontramos o carro enterrado sob as barreiras de proteção, do lado de fora de uma curva rápida [Barbecue Bend]. Peter já estava na ambulância quando chegamos. Liguei para o hospital, e eles me disseram que eu tinha que ir para a morgue e identificá-lo. Quando a notícia saiu, foi um inferno, com todos os jornalistas a bater na porta do meu hotel, até que o advogado da família Revson chegou e assumiu o controle."

"Estávamos usando bastante titânio bastante no DN3, que era então um novo material. Titanio é delicado, tem que ser trabalhado de forma suave e a sua superfície bem polida,  e descobrimos que tinha havido uma junta esférica que tinha sido feita de forma grosseira sobre ele, e foi aí que quebrou. Ali [no local do impacto] havia apenas uma camada de Armco e o carro, em vez de ser desviado ou parado, tinha entrado no carro, até à zona do cockpit.

“Senti-me pessoalmente responsável. Foi uma época muito difícil. Desapareceu o glamour da Fórmula 1, e foi substituído por uma espécie de solidão. Você não tinha outra hipótese que não trabalhar. Claro, na corrida seguinte, substitui todos os componentes de titânio por aço.", concluiu.

Abalada, a Shadow não participa nesse Grande Prémio, e como substituto provisório, arranja o britânico Brian Redman, que tinha guiado para eles na temporada anterior. Fica com eles durante três corridas, altura em que Jarier consegue o melhor resultado do ano, um terceiro lugar no GP do Mónaco. Após terem dado um lugar ao sueco Bertil Roos, acabam por contratar um jovem piloto promissor de 25 anos, o galês Tom Pryce.

Pryce começa a guiar para eles no GP da Holanda, e adapta-se rapidamente ao carro, conseguindo o seu primeiro ponto no GP da Alemanha, no Nurburgring, quando termina a corrida no sexto lugar. Contudo, essa é a última vez que a equipa consegue pontos nessa temporada, acabando no oitavo lugar no campeonato de Construtores, com sete pontos.

Em contraste, a Shadow dominava nesse ano a Can-Am, dando a Jackie Oliver o campeonato que procuravam havia muito tempo. Contudo, esse “The Jackie and George Show” acontecia numa Can-Am minguada em termos de pelotão, prejudicada fortemente pela crise petrolífera que viveram nessa altura. Tanto que após o final de 1974, a Can-Am sofreu uma interrupção nas suas atividades apenas voltando a competir em 1976.

No inicio de 1975, uma versão modificada do DN3 foi para as mãos de Pryce, para correr nas duas primeiras corridas do ano, na Argentina e Brasil, enquanto que o novo DN5 era usado por Jarier. O galês só teria o carro novo na terceira corrida do ano, na África do Sul.

Em jeito de conclusão, o DN3 foi uma ótima evolução do DN1, contudo, os resultados nessa temporada de 1974 revelaram que as dores de crescimento iriam ser mais dolorosos do que se esperava, e essa foi uma temporada onde viram o lado mais negro do automobilismo. Tão negro como a pintura dos seus chassis.

Ficha Técnica:

Chassis: Shadow DN3
Projetista: Tony Southgate
Motor: Cosworth DFV V8 de 3 litros
Caixa de velocidades: Hewland de 5 velocidades
Pneus: Goodyear
Pilotos: Peter Revson, Tony Pryce, Jean-Pierre Jarier, Bertil Roos e Brian Redman
Corridas: 16
Vitórias: 0
Pole-Positions: 0
Voltas Mais rápidas: 0

Pontos: 7 (Jarier 6, Pryce 1)

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