O carro que falo hoje é o
resultado de uma evolução natural do chassis anterior. Quando no inicio de
1973, o chassis DN1, que serviu de estria à equipa Shadow, ficou pronto para
correr, o carro mostrou potencial para andar ao nível da concorrência, com dois
pódios para Jackie Oliver e George Follmer, mas surgiram defeitos:
o carro era pouco rígido, devido à inexperiência de Southgate de desenhar um
carro com motor Cosworth V8 (tinha vindo
da BRM, que tinha a sua própria unidade V12), e o chassis sofria com as
vibrações vindas do V8 anglo-americano.
Assim sendo, no final de um
campeonato que serviu de aprendizagem para todos, Tony Southgate, o projetista da marca, decidiu aproveitar as lições
do DN1 no novo DN3: o chassis ficou mais rigido, aumentou a distância
entre-eixos e o monocoque aumentou em cinco quilos o seu peso total. Southgate
decidiu também tornar o carro mais leve, incluindo componentes de titânio nos
braços da suspensão do carro. Isso viria mais tarde ter consequências trágicas.
A dupla de 1973, constituída por
Jackie Oliver e George Follmer, sai de cena para dar lugar a uma nova dupla: o
americano Peter Revson, vindo da
McLaren, e o jovem e veloz francês Jean-Pierre
Jarier.
O carro estreia-se no GP da
Argentina, nas mãos de Revson, e os resultados são promissores: o americano
leva o carro para os lugares da frente na Argentina e no Brasil, mas não chega
ao fim em ambas as corridas. Contudo, as promessas viram tragédia: a 22 de
março, em testes que antecediam o GP da África do Sul, o carro de Revson perde
o controle na Barbecue Bend, devido a uma quebra da suspensão e ele teve morte
imediata.
Tony Southgate contou sobre esse
episódio, anos depois, na Motorsport britânica: “‘Revvie’ era um tipo fabuloso, fácil de lidar e um
excelente piloto. Mas, tragicamente, não ficou conosco por muito tempo.
Classificou-se na segunda linha na Argentina e para o Brasil na terceira flia
da grelha. Então, ele, eu, o nosso mecânico-chefe Pete Kerr e mais outros dois
mecânicos fomos para Kyalami, para testes antes do GP sul africano.
“Revvie estava muito bem, muito
contente com o carro, e então, depois de ter iniciado uma volta, ele não
apareceu. Corremos para a parte de trás do circuito e encontramos o carro
enterrado sob as barreiras de proteção, do lado de fora de uma curva rápida
[Barbecue Bend]. Peter já estava na ambulância quando chegamos. Liguei para o hospital,
e eles me disseram que eu tinha que ir para a morgue e identificá-lo. Quando a
notícia saiu, foi um inferno, com todos os jornalistas a bater na porta do meu
hotel, até que o advogado da família Revson chegou e assumiu o controle."
"Estávamos usando bastante titânio
bastante no DN3, que era então um novo material. Titanio é delicado, tem que
ser trabalhado de forma suave e a sua superfície bem polida, e descobrimos que tinha havido uma junta
esférica que tinha sido feita de forma grosseira sobre ele, e foi aí que
quebrou. Ali [no local do impacto] havia apenas uma camada de Armco e o carro,
em vez de ser desviado ou parado, tinha entrado no carro, até à zona do
cockpit.”
“Senti-me pessoalmente
responsável. Foi uma época muito difícil. Desapareceu o glamour da Fórmula 1, e
foi substituído por uma espécie de solidão. Você não tinha outra hipótese que
não trabalhar. Claro, na corrida seguinte, substitui todos os componentes de
titânio por aço.", concluiu.
Abalada, a Shadow não participa
nesse Grande Prémio, e como substituto provisório, arranja o britânico Brian Redman, que tinha guiado para
eles na temporada anterior. Fica com eles durante três corridas, altura em que
Jarier consegue o melhor resultado do ano, um terceiro lugar no GP do Mónaco.
Após terem dado um lugar ao sueco Bertil
Roos, acabam por contratar um jovem piloto promissor de 25 anos, o galês Tom Pryce.
Pryce começa a guiar para eles no
GP da Holanda, e adapta-se rapidamente ao carro, conseguindo o seu primeiro
ponto no GP da Alemanha, no Nurburgring, quando termina a corrida no sexto
lugar. Contudo, essa é a última vez que a equipa consegue pontos nessa
temporada, acabando no oitavo lugar no campeonato de Construtores, com sete
pontos.
Em contraste, a Shadow dominava
nesse ano a Can-Am, dando a Jackie Oliver o campeonato que procuravam havia
muito tempo. Contudo, esse “The Jackie
and George Show” acontecia numa Can-Am minguada em termos de pelotão,
prejudicada fortemente pela crise petrolífera que viveram nessa altura. Tanto
que após o final de 1974, a Can-Am sofreu uma interrupção nas suas atividades
apenas voltando a competir em 1976.
No inicio de 1975, uma versão
modificada do DN3 foi para as mãos de Pryce, para correr nas duas primeiras
corridas do ano, na Argentina e Brasil, enquanto que o novo DN5 era usado por
Jarier. O galês só teria o carro novo na terceira corrida do ano, na África do
Sul.
Em jeito de conclusão, o DN3 foi
uma ótima evolução do DN1, contudo, os resultados nessa temporada de 1974
revelaram que as dores de crescimento iriam ser mais dolorosos do que se
esperava, e essa foi uma temporada onde viram o lado mais negro do automobilismo.
Tão negro como a pintura dos seus chassis.
Ficha Técnica:
Chassis: Shadow
DN3
Projetista: Tony Southgate
Motor: Cosworth DFV V8 de 3 litros
Caixa de velocidades: Hewland de 5 velocidades
Pneus: Goodyear
Pilotos: Peter
Revson, Tony Pryce, Jean-Pierre Jarier,
Bertil Roos e Brian Redman
Corridas: 16
Vitórias: 0
Pole-Positions: 0
Voltas Mais rápidas: 0
Pontos: 7 (Jarier 6, Pryce 1)
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