Andei a hesitar um pouco na foto para colocar nesta dia para homenagear Jean-Pierre Beltoise, morto hoje aos 77 anos, vitima de AVC quando passava férias no Senegal. Pensei nas fotos do Mónaco, em 1972, palco da sua unica vitória oficial, do qual tenho um álbum inteiro. Pensei nos seus tempos na Matra, onde entre 1966 e 1971, conseguiu seis dos seus oito pódios e três das suas quatro voltas mais rápidas. E posso dizer que, em termos pessoais, o Matra MS120 é dos carros que mais gosto.
Mas no final, fiquei com esta. E existem boas razões por trás dela. Os dois pilotos mais famosos de França tinham uma enorme afinidade entre eles por causa de uma mulher. Jacqueline era irmã de Francois e mulher de Jean-Pierre, depois de enviuvar da primeira mulher, morta num acidente de carro em 1965. Quando ambos começaram a ficar juntos, o irmão começava a correr nas categorias de acesso, após a sua vitória no Volant Shell, em 1966, batendo Patrick Depailler.
Em 1970, ambos estavam na Formula 1, e era neles que os olhos de França estavam postos. A Marselhesa não era tocada para honrar um piloto gaulês desde que Maurice Trintignant o fizera em 1958, no Mónaco. Guy Ligier e Jo Schlesser fizeram muito pouco para merecer destaque, mas desde meados da década passada que se fazia um esforço para "gaulizar" o pelotão, com as competições de pilotos, para além da aventura da Matra, um esforço de Jean Lagardére para elevar o nome gaulês no automobilismo internacional.
Toda a gente esperava que Beltoise conseguiria isso, especialmente quando teve o mesmo carro vencedor de Jackie Stewart, mas não conseguiu mais do que alguns pódios. Parecia não ter o instinto vencedor de alguns dos pilotos do pelotão desse tempo, como Jochen Rindt ou Jacky Ickx. Ou até Clay Regazzoni, que precisou de apenas algumas corridas em 1970 para ser vencedor.
Para piorar as coisas, as luta entre os dois acabou em 1971, quando Cevért venceu em Watkins Glen, numa corrida onde o seu cunhado correria pela última vez na Matra. Apesar de tudo, a amizade e o carinho permaneceu, e o respeito entre os dois era sólido. E pouco depois, Beltoise teve a vitória que merecia, no Mónaco, após uma corrida perfeita à chuva.
O trágico fim de Cevért, a 6 de outubro de 1973, teve carga dramática para Beltoise. Muitos não saberiam como iria lidar com uma tragédia tão repentina como violenta. Pensavam que iria colapsar com a emoção, e para piorar as coisas, Jacqueline estava grávida de Julien, o segundo filho de ambos (Anthony, o mais velho, tinha nascido em 1971) e perguntaram se iria guiar no dia seguinte. Se Stewart e a Tyrrell não guiaram em sinal de luto, já Jean-Pierre correu nessa corrida malfadada, para terminar na nona posição. Só ficou na Formula 1 por mais um ano, acabando por sair enquanto podia sair vivo.
Há uns tempos, contaram-me a história de que no cemitério de Vaudelnay, no Loire, há duas tumbas vazias ao lado da campa de Cevért. O guarda do cemitério diz que seriam para Beltoise e para Jacqueline. Não sei se a história é verdadeira, mas a acontecer, entendo. Afinal, trata-se de uma forte ligação que eles tinham e do qual só foi interrompida por uma morte precoce, mo auge das suas carreiras. Agora, presumo eu, deverão estar juntos.
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