segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Acabou o campeonato?

Sobre a pergunta do título, a resposta é esta: matematicamente não, mas em termos de espírito, sim. Toda a gente entendeu ontem, no meio do aborrecimento, que o título de 2018 não vai escapar a Lewis Hamilton. Agora tem 40 pontos de diferença, mas desses, 25 foram alcançados na Alemanha, quando Sebastian Vettel abandonou a corrida, estando ele na liderança. Esse foi o momento decisivo do campeonato, ainda por cima numa altura em que a Formula 1 ia de férias. As vitórias do inglês em Monza e agora, Singapura, foram uma mera confirmação. 

Escrevi isto ontem, logo após a corrida, na página do blog no Facebook:

"Digam o que disserem, para mim, Hamilton já é 'penta'. Penta no espírito, faltando apenas a matemática. E se não existirem tropeções - em termos de 'milagres', desculpem-me, mas sou 'ateu' - o inglês conquistará tudo isso em Interlagos, senão na corrida anterior, na Cidade do México, caso Vettel tropece de novo. E a tudo isso deve-se a aquele momento na Alemanha, quando Vettel tinha tudo controlado e despistou-se, sozinho, na zona do Estádio. Com isso, o inglês venceu e viu cair do céu 25 pontos dos quais o alemão nunca conseguiu recuperar. Tanto que agora, o inglês tem uma vantagem de 40.

A culpa é de Vettel e da Ferrari? Ou Hamilton e a Mercedes conseguiram dar a volta de uma desvantagem que tinham inicialmente? É um pouco ambas as coisas, mais a ideia de que o alemão quer tanto vencer pela Ferrari que quebra sob pressão. Se for essa última parte, então poderemos dizer que a a minha teoria sobre a Scuderia, do qual escrevi há umas semanas [na realidade foi depois de Monza], é verdade: é uma sepultura de carreiras. E Vettel, apesar de dar tudo, vai ter mais um ano em que vai ver os rivais comemorar. E se calhar deve estar agora a calçar os sapatos de Alonso, que andava sempre frustrado na Ferrari quando via Vettel a vencer tudo na Red Bull. Se sim, deve entender as suas frustrações.

Vamos a ver como será o final da história, mas se Hamilton decidir ir embora da Formula 1 com seis ou sete títulos e fazer uma de Rosberg, ou seja, sair com o título de campeão no bolso, então, o alemão ficará duplamente frustrado. O de não conseguir títulos pela Scuderia como o de não bater Hamilton na luta pelo campeonato. E aí, poderemos dar razão a Vettel, mas alargar à equipa: a pior inimiga da Ferrari é a Ferrari. E se qualquer piloto querer ir para lá, que vá por sua própria conta e risco."

Claro que, com isto, há quem aproveite o momento para se gabar. Basta ver os comentários no Facebook a seguir a este post, de algumas pessoas gabando-se - provavelmente no alto da sua arrogância - hiperbolizando os feitos de Hamilton, quase deificando, e tentando "bater" em Vettel, tentando até humilhá-lo. Contudo, falamos de um punhado de pessoas que não são amantes do automobilismo, apenas querem estar do lado dos vencedores. A enorme maioria entende que ambos os pilotos são bons, e ambos têm qualidades e defeitos, e que na Mercedes houve trabalho e sorte, algo que não aconteceu na Ferrari.

Mas se é assim, qual é a solução para os vencidos? Despedir todos e colocar tudo de novo? E se falharem, volta tudo à estaca zero? Ano após ano, até acertarem? Não creio que seja a solução, as pessoas que estão por dentro entendem isso. Os que defendem tal coisa acho que só o fazem porque desejam ver o circo a arder, e quem lê esse tipo de comentários nota isso. Cheguei a ler comentários de pessoas que rejubilavam o fracasso da Ferrari porque "tinham tratado mal os brasileiros". Mais uma vez, como disse no parágrafo anterior, não são amantes do automobilismo.

Mas também temos de entender que estamos no meio de uma era. Enquanto os regulamentos forem estes, dificilmente a Mercedes será derrotada. Desde 2014, quando tivemos os motores V6 Turbo de 1.6 litros, e o duplo sistema de regeneração de energia, o MGU-H e o MGU-K, que é a Mercedes que ganha tudo em termos de campeonatos. Não há um equilíbrio, mas já não há um monopólio de vitórias, como aconteceu até 2016. As duas últimas temporadas, apesar de ter tido o mesmo vencedor, tiveram mais luta, com a Ferrari a ser o rival que a Mercedes queria e a Red Bull a colher os frutos quando os da frente tem azar, ou quando o carro consegue ser melhor em algumas provas.

Para mudar as coisas, será necessário uma mudança nos regulamentos. É o que se prevê em 2021, e fala-se na retirada de um dos sistemas de recuperação de energia, para simplificar as coisas, mantendo, porém, o motor V6 Turbo. Não vai ser uma alteração profunda, e é provável que a Mercedes não perca a sua hegemonia, mas se isso acontecesse, aí sim, teria isso em perigo, porque essas coisas acontecem quando se faz bem o "trabalho de casa". E em muitos aspectos, era assim que a Ferrari ganhava, ao longo da história. Em 1952 e 1961, por exemplo, quando houve mudança nos motores, o trabalho de casa por parte dos engenheiros de Maranello, em paralelo com a "persuasão" de Enzo Ferrari, fazia com que a Scuderia fosse a melhor pelo menos no primeiro ano dos regulamentos, antes da concorrência ficar a par.

Mas numa altura em que é cada vez mais dificil "contornar o regulamento", mais parece que a Mercedes vai ser a favorita ao campeonato. E claro, quem aguentará a pressão. 

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