"O piloto em cada prova vive a emoção do último minuto de vida. Sua fama é merecida, não impora se é o primeiro ou o último. Todos têm um coração pulsando e uma pessoa esperando por eles. O manto da morte é igual para todos."
Isso foi o que escreveu José Mojica Marins no seu primeiro texto para o jornal Noticias Populares, em março de 1994. Porque escreveria uma coisa dessas sobre algo do qual pouco ou nada tinha a ver? Mera curiosidade? Excêntricidade pura? O que importa é que no fim de semana do GP do Brasil de 1994, Mojica Marins esteve no paddock e... deu nas vistas. E há uma década, escrevi sobre essa presença aqui no blog. E muitos fora do Brasil não sabem quem ele era, mas se disser que era o verdadeiro nome do "Zé do Caixão", realizador e ator de filmes de terror nos anos 50 e 60, provavelmente farão a associação. Zé do Caixão desafiou nos seus filmes a moral e os bons costumes, um autêntico rebelde numa altura em que sê-lo era um verdadeiro perigo.
Mojica Marins, morto esta quinta-feira aos 83 anos, em São Paulo, marcou uma era no cinema brasileiro, e a sua personagem, um agente funerário amoral, que gostava de citar Friederich Nietszche e desprezava a igreja, deixou impacto nas mentes das pessoas em, pelo menos, duas gerações de cinéfilos no Brasil, ao ponto de três dos seus filmes terem sido eleito entre os cem mais marcantes do cinema brasileiro.
E no paddock de Interlagos... foi ele mesmo. Primeiro, "assustou" Rubens Barrichello, quando o quis ver. E segundo, quando tentou a sua sorte com Ayrton Senna... Paulo Maluf, então perfeito de São Paulo, impediu-o de ver!
Assim, ele apareceu na boxe da novata Simtek, onde ele simpatiza com a equipa porque os carros estão pintados de... violeta. E tira uma foto em frente do chassis de Roland Ratzenberger. Na legenda da foto, escreve-se o seguinte:
"O Zé do Caixão deu a maior força para Simtek, a pior equipe da Fórmula-1. Nosso enviado especial exorcizou a carroça da equipe e encheu de poder os pilotos Roland Ratzenberger e David Brabham com a força das trevas. O pessoal da Simtek adorou o Zé. Os carros da equipe são pretos e roxos, as cores preferidas do Zé, e ele acha que a Simtek pode surpreender. 'Eu tirei todas as forças negativas do carro e, com essas cores, eles têm boas chances.'"
Cómico... se não fosse trágico. Primeiro, o austríaco não se qualificou para essa prova. E 34 dias depois, ele morreu nos treinos do infame GP de San Marino, quando o seu carro se despistou a mais de 350 km/hora na curva Villeneuve, causando a primeira morte num fim de semana automobilístico desde o GP do Canadá de 1982.
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