terça-feira, 4 de maio de 2021

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Bobby Unser, morto no domingo depois de 87 anos bem vividos, teve uma carreira que se espalhou por três décadas. Membro de uma das dinastias automobilísticas mais conhecidas da América, nem foi a primeira geração de pilotos a mostrar o seu talento. E nem foi o primeiro a tentar a sua sorte no "Brickyard", a oval de Indianápolis, a mais antiga da América e uma das mais famosas, a par de Daytona, por exemplo.

Mas o que poucos sabem ou conhecem é que no seu grande ano automobilístico de 1968, onde venceu as 500 Milhas, a Pikes Peak pela décima vez e o campeonato USAC, Bobby Unser fez uma perninha na Formula 1. E foi acompanhado por Mário Andretti, com peripécias pelo meio.

Nesse ano, onde a Lotus ainda tentava se recompor da morte de Jim Clark, e outros também tiveram essa sorte como Mike Spence e Jo Schlesser, ter novo sangue para preencher as perdas não era fácil, e atrair nomes sonantes para ali. Mas quando a Formula 1 estava em Monza para disputar o GP de Itália, haia dois americanos na lista de inscritos: Andretti, com o terceiro carro da Lotus, e Unser, inscrito pela BRM ao lado do mexicano Pedro Rodriguez e do britânico Richard Attwood

Andretti e Unser eram rivais nas Américas, e vê-los na Europa na Formula 1 era motivo suficiente para a imprensa ter as atenções iradas para ali. Mas o calendário tinha dado uma coincidência: nesse mesmo fim de semana, havia uma prova de 150 milhas, em "dirt track", a Hoosier Hundred, no Indiana. A ideia de ambos era de correr ali, meterem-se num avião e no dia seguinte, estavam no outro lado do Atlântico para correr essa prova. Tanto que eles fizeram temos mais que suficientes para entrar na grelha. 

Só que a ACI, o Automóvel Clube Italiano, disse a ambos que eles proibiam pilotos de participar em duas provas em 24 horas, citando o esforço que se fazia e a falta de descanso. E avisou que, caso voltassem à América depois da sessão de treinos, não os autorizariam a correr ali. Depois da qualificação, decidiram entrar no avião e não voltaram mais no fim de semana. 

Só para terem uma ideia: Andretti ficou com o décimo melhor tempo, Unser foi 21º.

Duas corridas depois, em Watkins Glen, Andretti e Unser apareceram, cumprindo os seus compromissos com as equipas nos quais tinham corrido em Monza. E se Andretti, que sempre teve o sonho de correr na Formula 1 e ser campeão, Unser... nem tanto. Provavelmente, a amizade e lealdade que tinha com Dan Gurney - correu com chassis Eagle e pela All American Racing até 1978, altura em que foi para a Penske - o fez correr por ali, só para experimentar, mas também a rivalidade que tinha com Mário Andretti - outra história que merece ser contada mais tarde - o fez andar por ali.

Ao contrário da Lotus, a BRM não era a equipa que ganhou campeonatos no inicio da década, e estava num lento declínio. E se Andretti deixou todos de boca aberta quando fez a pole-position, já Unser ficou-se pela 19ª posição da grelha, em 21 inscritos, mais de cinco segundos do seu rival.

No dia da corrida, com 93 mil espectadores a desafiaram o tempo outonal naquela parte do estado de Noa Iorque, Unser teve uma corrida discreta até que na volta 35, o motor não aguentou. Mas ainda foi mais longe que Andretti, que desistira três voltas antes quando a sua embraiagem cedeu. Unser considerou que ficou suficientemente esclarecido com a Formula 1 e não pensou mais nisso, ao contrário de Andretti, que passou a década seguinte a pular o oceano, em busca do seu sonho. Que o concretizou dez anos depois, na sua Itália natal.  

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