quarta-feira, 5 de maio de 2021

O rescaldo português


Corrida terminada, é altura de se pensar no que foi. Mas há alguma pressa, porque Barcelona será no próximo domingo. Curiosamente, esta sequência retoma a que existiu entre 1987 e 1991, quando a caravana da Formula 1 fazia a viagem entre Estoril e Jerez - excetuando o último ano, quando foram para Barcelona - mas o que se fala muito nestes dias pós-Portimão foi da dificuldade que os pilotos tiveram com a aderência, como a corrida foi menos excitante do que há seis meses, ao ponto de alguns dizerem que não gostariam de regressar lá.

Que a corrida teve um vencedor previsível, isso foi verdade. A Mercedes triunfou sempre que a Formula 1 corre no Autódromo Internacional do Algarve, logo, apesar de ser cedo e curto para afirmar, esta é uma pista onde os Flechas Negras se dão muito bem. E não são só eles: a Alpine, por exemplo, conseguiu andar muito bem naquele final de semana, adaptando-se às circunstâncias. O sexto lugar do Esteban Ocon na qualificação e o sétimo lugar na corrida, à frente de Fernando Alonso, foi outro exemplo de que outras equipas deram-se bem com a pista, enfrentando o desafio existente.

Pode-se dizer que os "culpados", a existirem, foram três: o vento, o asfalto e os pneus. Mas se a Mercedes não tem motivo de queixa, e a Red Bull sim, porque será? Acho que toda a gente topou que o culpado foi que uns adaptaram-se, outros não.      

Porque de resto, todos continuam a gostar da pista, e os especialistas viram esta prova numa luz positiva, afirmando que deveria ficar por mais tempo. Aliás, pesquei hoje na Autosport britânica este excerto sobre a pista. Traduzi-o para português, mas podem ler esta parte e os outros em inglês a partir deste link.

"9. 'Estranho' Portimão é uma mais-valia no calendário da F1.

As palavras-chave do fim-de-semana que passou foram “ondulação”, “montanha-russa”, “aderência” e “asfalto”, reflectindo perfeitamente o bom e o mau de Portimão.

O layout em si rapidamente conquistou um lugar no coração de todos os pilotos no ano passado, apenas porque eles lutavam contra um asfalto de baixa aderência. As condições frias no final de outubro pareciam ser as culpadas, mas a repetição desta vez ocorreu no início de maio.

A Pirelli não ajudou em nada trazendo uma seleção de pneus mais difícil para a corrida, uma decisão criticada por Hamilton. Verstappen disse depois da TL2 que “não gostou de uma única volta” na pista, lutando contra a falta de aderência e a imprevisibilidade do asfalto.

É uma pena que uma pista fantástica como Portimão não tenha sido corrido com raiva total por esses carros de Formula 1, devido a uma mistura de asfalto e pneus. O mesmo aconteceu na Turquia no ano passado, mas esperamos que [esse problema] seja corrigido quando [os carros] regressarem em junho.

Dito isto, é a natureza atípica de Portimão [que] o torna bastante divertido. Isso permite que equipas como a Alpine suba na classificação ou que a Williams quase alcance o Q3. Ele pune os erros - veja Alonso e Daniel Ricciardo na qualificação, ou Verstappen - e permite muitas ultrapassagens.

Portimão pode ter aparecido duas vezes como substituto no calendário, mas tê-lo como elemento permanente seria muito bem-vindo no futuro. A Formula 1 deveria abraçar sua estranheza."


No final, pode-se ler por aqui que todos gostam da montanha russa portuguesa, um circuito que apareceu inesperadamente, mas que conquistou os corações da maioria, desde as equipas e os pilotos até aos espectadores. Foi popular - teve gente a ir quando deixaram, em 2020 - e apenas falta uma negociação entre ambas as partes, Liberty Media e autódromo ou governo - para um contrato alargado e uma estadia mais definitiva no calendário da Formula 1. 

E quanto às criticas, depois de se ver as circunstâncias, pode-se dizer que não é nada irreparável. A Pirelli poderá arranjar pneus melhores, no próximo reasfaltamento, a mistura de alcatrão poderá ser melhor, mas o culpado não é, nem foi o circuito. Alguns pilotos querem pistas que lhes favorecem, e se Max andou a queixar-se, deveria saber que ele mesmo é mais culpado por causa dos seus excessos. Os circuitos são desenhados para exigirem o melhor do seu piloto, e como se habituaram tanto aos "tilkódromos", quando vêm algo fora da caixa, demoram a adaptar-se. Simples.

Agora, vamos a ver se teremos no calendário em 2022. Adoraria ver esse circuito em circunstâncias normais, com espectadores e sem ser um substituto. Até acho que esta data é ideal para a sua realização, e como se fala que Barcelona possa cair, seria algo irónico que Portimão aparecesse no seu lugar..

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