quinta-feira, 15 de julho de 2021

A imagem do dia


Os pilotos da atual temporada de Formula 1 posando na frente do carro de 2022, esta quinta-feira, em Silverstone. O novo chassis é limpo de apêndices aerodinâmicos, e promete ser veloz e competitivo, com os novas jantes aro 18, pneus mais resistentes, o regresso do efeito-solo, a eliminação do "ar sujo" que se acumula atrás da asa traseira, entre outros, tudo para facilitar as ultrapassagens, uma maior aproximação entre carros e muitas outras coisas mais. 

Olho para os pilotos e noto que alguns deles poderão ter alguma expectativa sobre o que isto dará para as suas equipas, e quem sairá beneficiado com tudo isto. Como sabem, esta era híbrida está presente desde 2014 e desde então, há um domínio da Mercedes, que este ano está a ser abalada pela Red Bull. Mas a partir de 2022, quem se adaptar melhor a este novo carro terá um avanço que dificilmente será apanhado, julgo. Mas também sei que as equipas tem alguns génios dentro deles que poderão fazer carros ainda melhores dentro do modelo que a Formula 1 apresentou mais tarde. A Red Bull tem o Adrian Newey, por exemplo, e tememos sempre a maneira como ele começará a olhar para estes regulamentos e arranjar uma maneira de os contornar. 

E também têm outra coisa. Bem sei que o que foi apresentado é um modelo, um "template" para o que vêm no futuro. Não sei o que as equipas terão em mente nas suas oficinas e laboratórios, quantas horas passaram em túneis de vento para sacar um carro que lhes tire mais três ou cinco décimos em relação à concorrência, e também não sei até que ponto eles poderão mexer mais nos chassis para ganhar algo. 

No passado, no tempo em que comecei a ver a Formula 1, os regulamentos eram simples e propositadamente vagos, que era para ter variedade. Foi por isso que tivemos génios como Colin Chapman e os seus Lotus de efeito-solo, ou alguém como Derek Gardner e o Tyrrell P34 de seis rodas. Foi isso que fez aparecer os vários tipos de motores, desde os seis em linha, oito em linha, flat-12, até ficarmos com os V8 da Ford e os V6 Turbo que a Renault começou a usar em 1977, precisamente nesse mesmo circuito, em Silverstone. Mas se as pessoas recordam isso com nostalgia, esquecem muito que "o grande igualizador" era que esses chassis eram instáveis e os motores quebravam muito. Não era invulgar teres três ou quatro motores por carro num fim de semana, porque eram todos velozes, mas incrivelmente frágeis. Um motor que durasse 300 quilómetros era um feito, uma mais-valia. E as pessoas esquecem-se desses pormenores.   

Ao ver este carro, a Formula 1 mostrou que, se quisesse, poderia ter chegado ao pé dos construtores e dizer: "tomem, este é o chassis que a partir de agora irão usar", ou seja, a competição, as equipas, deixarão de desenhar os seus carros. Mas isso não vai acontecer tão cedo. Se isso acontecesse, a reação mais imediata seria ver a Ferrari na porta de saída, porque é construtora de automóveis, não toleraria uma coisa dessas. Aliás, eu estou convencido que é por causa da Ferrari que a Formula 1 não seguiu o caminho da Formula E, por exemplo. E se tivesse, também estaria convencido que teríamos algo parecido com "franchises", usando e ressuscitando velhos nomes no passado para vender nostalgia aos fãs e atrair novos investidores. Os fãs não ficariam todos felizes se a Formula 1 negociasse com a Lotus o regresso do seu nome à categoria máxima do automobilismo, por exemplo? E quem diz eles, poderão dizer Tyrrell, Arrows, Ligier, Jordan...

Em suma, esta nova era da Formula 1 poderá fazer estes carros semelhantes uns aos outros. Mas também poderá ser como os eclipses: são bonitos e maravilhosos, mas duram pouco tempo. Mais cedo ou mais tarde aparecerá a equipa que dominará a competição com algum truque na manga. 

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