terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A imagem do dia


Ainda estamos a ressacar com o final da temporada de 2021, que aconteceu quase quatro semanas antes, no quarto - "ex aequo" - final mais tardio da história da Formula 1. Mas há 55 anos, a 2 de janeiro de 1967, o Mundial de Formula 1 tinha o segundo inicio mais cedo na história, superado apenas pela edição de 1965, que acontecera no dia 1º de janeiro. E no ano seguinte, esse recorde... seria igualado!

Mas mais que a a corrida que marcava a estreia de Kyalami no calendário da Formula 1, ficou também marcado pela história daquela que poderia ter sido o maior "patinho feio" da história. E não aconteceu por meras... sete voltas.

Em 1967, a Formula 1 ainda estava a adaptar-se aos motores de 3 litros, e nessa altura, apenas Honda, Maserati, BRM, Repco e Ferrari tinham-as nos seus carros. E eram todos V12. A Westlake estava a caminho, com o seu motor, para colocar no Eagle de Dan Gurney, mas não o traziam aqui, Ainda eram os Climax, que já tinham deixado de os desenvolver, e a Lotus ainda esperava pelo "seu motor", encomendado a Mike Costin e Keith Duckworth, e financiado pela Ford.

Poucos eram os pilotos de fábrica, e mesmo com os locais do muito ativo "campeonato sul-africano" de Formula 1, apenas 18 pilotos estavam presentes. E esses, todos eram bem experientes na coisa, como John Love.

Nascido a 7 de dezembro de 1924 na cidade de Bulawayo, a segunda maior da então colónia da Rodésia, começou a correr em meados dos anos 50 e foi campeão britânico de Turismo em 1962, com um Mini Cooper. Por esta altura, era dos maiores pilotos no campeonato sul-africano, e em 1967, aos 42 anos, participava num Cooper desenhado para a Tasman Series, com um motor... de 2,7 litros!

Apesar destes "handicaps", conseguiu um surpreendente quinto lugar, a 1,2 segundos do "poleman". E na corrida, apenas aguardou pelos azares dos outros para poder subir na classificação geral. E vna volta 59, quando Denny Hulme teve de ir às boxes porque perdia óleo no seu Brabham-Repco, o veterano rodesiano estava na frente da corrida. Se um privado era raro na história da Formula 1, este, que era apenas para participar nesta corrida, num carro desfasado, mais raro ainda!

Nas quinze voltas seguintes, o Cooper esteve à vontade naquela pista abrasadora naquela tarde de verão austral, e parecia que estava tudo desenhado para algo que não acontecia desde Stirling Moss, com os seus Lotus da Rob Walker Racing. É certo que a Team Gunston era a melhor naquelas bandas, mas vê-lo lutar pela vitória, só era possivel por causa da situação do pelotão naquela altura do campeonato, tão cedo na temporada e com projetos ainda muito precoces. Havia sempre espaço para uma surpresa, e eles iam a caminho de uma bem grande.

Mas a seis voltas do fim, o sonho de Love teve de acabar. Não tinha combustível até ao fim, e teve de reabastecer. Quem aproveitou foi Pedro Rodriguez, que a bordo do seu Cooper-Maserati, foi para a liderança e não o largou até ao fim, conseguindo a sua primeira vitória para o seu país. E se era uma festa para ele e para o México, havia um problema: se ele fosse para o pódio, não haveria hino para ouvir. Quanto a Love, ainda chegou para o segundo lugar, sendo o único pódio da Rodésia na Formula 1 - Zimbabwe, depois de 1980. 

E foi o ponto alto de Love. Correu até meados dos anos 70 na Formula 1 sul-africana, sendo campeão por cinco vezes, e o maior piloto da região no seu tempo, correndo em máquinas como Lotus, March e Surtees, entre outros. Ganhou seis vezes o Grande premio local, antes de pendurar o capacete e gerir a sua própria equipa, enquanto era o representante local da Jaguar em Bulawayo, até morrer, a 25 de abril de 2005, vitima de cancro, aos 80 anos de idade. 

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