quinta-feira, 6 de abril de 2023

The End: Craig Breedlove (1937-2023)


O americano Craig Breedlove, piloto que bateu alguns recordes de velocidade a bordo do seu "Spirit of America", morreu ontem aos 86 anos, anunciou a família. Ele entrou na história por ser o primeiro a bater recordes num carro a jato, em 1964, e também o primeiro a bater a barreira, primeiro dos 800 km/hora, e depois dos 900 km/hora. Para além disso, a certa altura, a sua mulher, Lee Breedlove, também pilotou o seu carro e foi temporariamente a mulher mais rápida do mundo, a quase 500 km/hora. 

Durante um período de tempo nos anos 60 e 70, foi o homem mais rápido do mundo em terra, e até muito tarde, sempre quis ir mais além.

Nascido a 23 de março de 1937, Breedlove envolveu-se cedo no automobilismo e em 1962, aos 25 anos, apareceu com o seu primeiro Spirit of America em Bonneville, no lago salgado, para a sua primeira tentativa de recorde. O carro, apenas com três rodas, não era válido para a FIA, que exigia que qualquer veículo tivesse quatro rodas, mas mesmo assim, alcançou 655,73 km/hora no final das duas passagens obrigatórias para validar o recorde. Contudo, apenas a FIM, a Federação Internacional de Motociclismo, é que se interessou na homologação do recorde. Para além disso, tinha sido o primeiro carro a usar um motor a jato, um  General Electric J47 vindo de um F-86 Sabre. 

Na altura, o recorde durou pouco tempo porque por esses dias, Donald Campbell tentava bater o recorde com o seu Bluebird, ainda com motores a pistão. Tinha conseguido em 1964, mas Breedlove regressou em outubro a Bonneville com uma nova versão do Spirit of America, para ver se alcançava as 500 milhas por hora, ou 800 km/hora. Mas tinha concorrência. 

Nesse ano, dois projetos estavam presentes em Bonneville: o Green Monster, guiado por Art Arfons, e o Wingfoot Express, guiado por Tom Green e Walt Arfons, o irmão mais velho de Art. A 2 de outubro, o recorde foi batido por Tom Green, com 665,0 km/hora, para tres dias depois, a 5, o Green Monster chegar aos 698.50 km/hora. Breedlove reagiu no dia 13, fazendo 754,330 km/hora, e melhorando dois dias depois, com 846,961 km/hora de média, sendo o primeiro piloto a passar acima das 500 milhas por hora. 

Contudo, o recorde durou... 12 dias. A 27 de outubro, Arfons alcançou os 863,751 km/hora na sua última tentativa do ano com o Green Monster. Que tinha quatro rodas, a propósito. 

Os dois regressaram no ano seguinte para melhorar o recorde, numa competição que, de uma certa maneira, tinha encantado a América, na era da corrida espacial. Aliás, as duas principais marcas de pneus, Goodyear e Firestone, apoiavam cada um os seus pilotos, e Breedlove era patrocinado pela Goodyear. Ele apareceu com um novo Spirit of America, e a 2 de novembro, conseguiu 893,966 km/hora, tirando o recorde e Arfons, e este respondeu cinco dias depois com o seu Green Monster, alcançando 927,872 km/hora. a coisa ficou resolvida a 15 de novembro a favor de Breedlove, que conseguiu 966,574 km/hora, mas em medida imperial, eram 600,601 milhas por hora, o primeiro a alcançar. 

Pelo meio, até a sua mulher, Lee tentou a sua sorte, alcançando um recorde feminino, conseguindo 496,492 km/hora no seu Spirit of America. Contudo, teve o seu quê de golpe publicitário, porque queria ter um dia só para o seu carro e não dando chances ao seu rival de poder responder ao seu recorde, e claro, com o apoio do seu patrocinador. Esse recorde ficou nas mãos dela até 1976.

O recorde ficou nas mãos de Breedlove até 1970, quando Gary Gabelich o bateu com o Blie Flame, um carro pilotado por foguetes, sendo o primeiro a ultrapassar os 1000 km/hora. 

Um tempo antes, em 1968, a AMC, American Motor Company, contratara o casal Breedlove para bater recordes de pista no seu novo "muscle car", o AMX. Acabaram por conseguir 14 recordes de velocidade e endurance num carro de produção, com médias de 226,58 km/hora em 24 horas, e 278.487 km/hora em 100 milhas (161 km), largando de forma parada. Levados a Bonneville, o AMX conseguiu 304 km/hora, num recorde sancionado pela USAC. 

Depois disto, Breedlove afastou-se dos recordes por mais de 20 anos, para se dedicar à imobiliária, até no inicio de 1990, regressar o seu interesse pela velocidade. Desenhou um novo Spirit of America - Formula Shell LSRV, com um motor a jato GE J79, e a 28 de outubro de 1996, foi ao deserto de Black Rock, no Nevada, para tentar passar dos 1000 km/hora e tentar alcançar a barreira do som, algo que outro projeto, os britânicos da ThrustSSC, com dois motores a jato Rolls-Royce, guiado por Andy Green, tentava fazer. O carro descontrolou-se a 1086 km/hora, e ficou danificado, mas Breedlove, então com 59 anos, saiu ileso. Regressou no ano seguinte, mas a sua tentativa acabou cedo, quando bateu de novo com o carro, depois de ter conseguido 1088 km/hora, e assistiu depois à quebra da barreira do som batido pelo ThrustSSC, com 1228 km/hora, o recorde atual.

Breedlove vendeu o chassis para Steve Fossett, conhecido por bater diversos recordes na terra e no ar, e preparava-se para tentar a sua sorte quando em 2007 desapareceu no seu avião na Sierra Nevada californiana, tendo os seus restos mortais encontrados um ano depois. 

Até morrer, Breedlove continuou a projetar carros para tentar bater o recorde de velocidade, mostrando que a sua paixão continuava a fluir nas suas veias. Teve tempo para ver o seu nome no Motorsports Hall of Fame of America, entrando em 1993, no International Motorsports Hall of Fame, no qual pertence desde o ano 2000, e no Automotive Hall of Fame, em 2009.

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