segunda-feira, 8 de maio de 2023

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O último sul-africano a guiar um carro de Formula 1 num grande prémio foi... uma mulher. Desirée Wilson guiou um Tyrrell 010 no "pirateado" GP da África do Sul de 1981, a corrida que deveria ter sido a primeira de uma série paralela criada por Bernie Ecclestone, para se separar da FISA. Mas não resultou, e oficialmente, o último sul-africano a alinhar numa corrida de Formula 1 aconteceu alguns meses antes, quando Jody Scheckter alinhou com o seu Ferrari no GP dos Estados Unidos de 1980, em Watkins Glen, e acabou numa melancólica 11ª posição.

Mas 13 anos depois, outro sul-africano sentou-se num carro de Formula 1. A meio de 1993, a Sasol, gasolineira estatal sul-africana, deu uma chance de teste a George Fouché, e ele deu umas voltas ao circuito de Silverstone. Jordan pensava que, se os patrocinadores dessem um extra, poderia tê-lo como piloto, mas não aconteceu. Aliás, nessa temporada, Eddie Jordan estava tão necessitado de dinheiro que o segundo lugar era uma espécie de "aluga-se", onde passaram gente como Ivan Capelli, Thierry Boutsen, Marco Apicella, Emmanuele Naspetti e Eddie Irvine.  

Mas isso foi um pequeno episódio de uma carreira que começou muito cedo e andou muito tempo na Endurance, e em três continentes: Estados Unidos, Europa e Japão. E num deles foi herói ao salvar um dos seus colegas de profissão em Fuji.

Nascido a 15 de maio de 1965, aos oito anos de idade, quando tentava guiar um trator na fazenda do seu pai, caiu e fez uma cicatriz na cabeça que marcou a sua cara e muitas vezes o fizeram perguntar se tinha sido algum acidente de corrida. E Fouché contava calmamente a história. Começou a correr muito cedo, em 1983, nas Nove Horas de Kyalami, ao lado de Franz Konrad, num Porsche 956, mas são desclassificados.

A partir dali, a sua carreira será dedicada à Endurance. Foi quarto classificado nas 24 Horas de Le Mans em 1986, 87 e 94, guiando com gente como os seus compatriotas Wayne Taylor - pai de Ricky Taylor e Jordan Taylor -  e  Sarel van der Merwe; o francês Bob Wollek, os suecos Steven Andskär, Eje Elgh, Stanley Dickens e Stefan Johansson; e os espanhóis Emilio de Villota e Fermín Vélez, entre outros. Em 1992, conseguiu uma vitória na categoria C2, ao lado dos suecos Johansson e Andskar.

Em 1989, em Fuji, passou por uma situação que o colocou no centro das atenções. Fouché andava na pista quando assistiu do seu cockpit o despiste do argentino Oscar Larrauri, que bateu na parede e se incendiou. Os comissários não conseguiam tirar o piloto argentino do cockpit porque não estavam equipados com fatos anti-incêndio, e teve de ser Fouché a sair do seu carro e a tirá-lo dali, antes de regressar ao seu carro e continuar a corrida, acabando na segunda posição. O gesto impressionou tanto os organizadores que lhe deram um troféu como "herói da corrida" para recompensar pelo gesto que tinha feito. 

Três anos depois, na mesma pista, não teve tanta sorte: um dos pneus rebentou e ele bateu fortemente no muro, acabando sete meses a andar de canadianas. Isso imediatamente antes do teste que fez na Jordan.

Fouché acabou por correr na motonautica, para ser campeão nacional no ano 2000, e cinco anos depois, com 40 anos, decide pendurar o capacete.

Ma passada sexta-feira soube-se que ele tinha morrido aos 57 anos, num hospital de Pretória. Acabou por ter uma morte lenta: em fevereiro, sofreu uma queda acidental quando ajudava o seu irmão. Na queda sofreu um ferimento, que foi tratado e mandado para casa, mas não lhe fizeram um transplante. Nos dois meses seguintes, o seu estado de saúde degradou-se lentamente e no passado dia 1, foi internado, já em estado grave. 

Para quem teve acidentes em pista, evitou um acidente aéreo porque perdeu a ligação por causa de um tufão, e teve uma úlcera perfurada que o levou a ficar 63 dias no hospital, isto não parece ser o final digno de um piloto com uma vida a alta velocidade.   

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