No ano passado, pela primeira vez desde 1985, tivemos um Grande Prémio ao sábado. Foi à noite, mas aconteceu. Este ano, teremos um recorde: três corridas ao sábado, sem serem "sprint": Bahrein, Jeddah e Las Vegas. Espalhar a Formula 1 ao longo do fim de semana tem alguns motivos. E no caso das corridas no Golfo, a religião foi o motivo. O Ramadão muçulmano começa na noite de sábado, dia 10, algumas horas depois da corrida saudita.
Mas claro, não é motivo único. As corridas nos Países Baixos, Grã-Bretanha e África do Sul aconteciam ao sábado, também por motivos religiosos. As igrejas anglicanas e calvinistas, religiões de estado nesses países, não permitiam qualquer manifestação aos domingos, que, na sua visão, deveriam ser dedicados única e exclusivamente à igreja. Mas nos últimos 40 anos, isso ficou cada vez mais diluído. Agora que a Formula 1 está a ir para países islâmicos pelo dinheiro, está a adaptar-se aos costumes locais, em vez de ser o contrário.
Claro, ficamos a pensar: valerá a pena?
E também, pensamos no calendário. É o mais comprido de sempre. Acabará em dezembro. Teremos uma pausa para férias em agosto. Andarão dependentes de um avião ou alguns aviões, da DHL ou UPS para levar tudo e fazer chegar a tempo nos lugares predestinados. E querem que haja Sprint Races em alguns lugares, ou seja... querem empanturrar-nos de Formula 1. Mas esquecem-se que ali estão seres humanos. Nem tudo é automático. Pedir a mecânicos e engenheiros - e alguns jornalistas - para que não tenham vida por alguns anos, para seguir uma caravana que fica num lugar o menor espaço de tempo possível... não começa a ser humano.
Sou do tempo das 15, 16 corridas. Ter cerca de 40 por cento mais corridas no calendário começa a causar náusea. Mas não é só o automobilismo - o futebol começa a ter cada vez mais jogos, com equipas a jogarem a cada 72 horas porque existem imensas competições, e a FIFA, a UEFA e as federações nacionais inventam cada vez mais, em busca do dinheiro - e as pessoas tem de pensar que um dia, os espectadores irão se cansar. Ainda por cima, os bilhetes são muito caros. Pedem balúrdios para na semana da corrida, venderem (ou darem!) bilhetes com 80 ou 90 por cento de desconto, só para encher bancadas.
É bom ter a atenção das pessoas e captar um público mais jovem, mas receio que esta "engorda" terá consequências mais tarde. É que não é sólida, e o dinheiro não cresce nas árvores, por muito que os sauditas tenham e queiram comprar o mundo.
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