quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

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Christian Horner é um dos mais bem-sucedidos diretores desportivos dos últimos 20 anos. Desde que pegou as rédeas da Red Bull, no final de 2004, quando esta comprou a Jaguar, que contratou os pilotos certos, como Sebastian Vettel, Mark Webber, Daniel Ricciardo, e por fim, Max Verstappen, conseguiu sete títulos de Construtores e outros tantos de pilotos. Tão bom como ele, só Toto Wolff, o atual diretor da Mercedes. Ao seu lado, teve gente como Helmut Marko, como conselheiro - curiosamente, do outro lado, na Mercedes, estava o seu compatriota Niki Lauda - e quando conseguiu atrair Adrian Newey, o "foguete" disparou, especialmente em 2009, quando aconteceu a primeira vitória. Curiosamente, meio ano depois de Sebastian Vettel ter ganho... pela Toro Rosso.

Ao longo deste tempo, soubemos do "segredo do sucesso". Gente como Marko pressiona os pilotos, quase ao nível do assédio, para darem o seu melhor, caso contrário, seriam despedidos. Muitos pilotos passaram por esse período, especialmente na Toro Rosso, um verdadeiro "assador" de talentos, e exemplos - que vão desde Daniil Kvyat até Alex Albon, passando por Jean-Eric Vergne e Pierre Gasly - basicamente fizeram com que a ida para a Red Bull fosse algo parecido com "um pacto com o Diabo". Que diga António Félix da Costa, que em 2013 parecia ter um lugar garantido na Toro Rosso, quando uma temporada mais ou menos na World Series by Renault deu lugar ao piloto russo. 

Muitos desses pilotos acabaram na Endurance e na Formula E, e quase todos eles continuaram a ganhar e a serem campeões noutras categorias. O que mostra que o talento... até tinham, o problema é a cultura dentro da Red Bull.

Aliás, suspeito que o Max é o que é e conseguiu o que conseguiu porque está habituado a esse tipo de cultura. O seu pai, Jos Verstappen, é desse tipo de pessoa. E chegou a ser condenado a tempo de prisão por isso.   

Mas pensava-se que era gente como Franz Tost ou Marko. Não Horner. Porque, aparentemente, ele fazia a pressão noutros lados. Dentro da fábrica.

Pelo menos, foi isso que aconteceu no inicio do ano. Uma empregada queixou-se do assédio que Horner fez, e um dos jornais, o neerlandês De Telegraaf, afirmou ter acesso a mensagens dele na rede social WhatsApp, onde a assediava, com fotografias incluídas. A Red Bull chegou primeiro a tentar um acordo, de 650 mil libras, segundo o jornal, mas o outro lado rejeitou. Assim sendo, aconteceu um inquérito interno e independente, segundo afirmam, e prometeram presentar os resultados antes da primeira corrida do ano, no Bahrein. 

E foi o que aconteceu. Esta quarta-feira, as conclusões foram divulgadas e a sentença foi a seguinte: ele não cometeu nada de errado. 

Muitos esperavam o contrário. Até julgavam que, com as cerca de "uma centena" de provas contra ele, a coisa era uma questão de tempo: ele iria ser afastado. Mas não aconteceu. O inquérito foi para as chefias - austríacas e tailandesas - e o resultado foi esse. Ilibado de todas as acusações.     

No mesmo dia, no Bahrein, e nas vésperas da primeira corrida do ano, a imprensa falou sobre "o assunto Horner" aos pilotos. O único a comentar sobre o caso foi Lewis Hamilton:

Essa é uma pergunta difícil. Acho que sempre temos que fazer mais para tornar o desporto e o ambiente em que as pessoas trabalham seguros e inclusivos. E qualquer alegação deve ser levada muito a sério.”, começou por afirmar o piloto da Mercedes.

Obviamente, não sabemos tudo o que aconteceu. Mas isso precisa ser resolvido, pois está pairando sobre o desporto e será muito interessante ver como será tratado daqui para frente, em termos do efeito que pode ou não ter sobre o desporto. Acho que é um momento muito importante para garantir que sejamos fiéis aos nossos valores.”, concluiu.

Semanas antes, quando o Williams FW46 foi apresentado, James Wolves, o seu diretor desportivo, afirmou, apesar das devidas escusas sobre o assunto em si, 

E tem razão.

Mas ao longo das semanas, desde que o escândalo foi revelado, que as pessoas falam sobre este assunto, dado imediatamente a sua sentença. Aliás, até já tinham garantido o seu despedimento. Quando nesta quarta-feira viram o que aconteceu, detestaram a decisão da Red Bull. E dou alguma razão neles. 

Contudo, tenho de me meter na posição do "advogado do Diabo". Independentemente do que vier a seguir. Primeiro que tudo, acho que todas as pessoas são inocentes até qualquer prowa em contrário. Segundo, nos tempos que correm, o "tribunal" da Internet é rapidíssimo a condenar as pessoas, muitas das vezes, sem ler as provas. É no "diz que disse". E com isso, o público torna-se juiz, júri e carrasco. 

Ora, não é assim que as coisas funcionam. Se funcionassem, não precisaríamos de tribunais, advogados, não precisaríamos de habeas corpus e Códigos Penais. Bastaria uma denuncia e já está: "pena de morte". Logo, por muito que não gostemos de determinada pessoa e das atitudes de determinada pessoa, tem o direito a defender-se. E claro, a justiça demora porque tem de refletir sobre as provas.

Contudo, no momento em que estou a escrever estas linhas, alguém enviou para todo o pelotão da Formula 1 - diretores de equipa, FIA, Liberty Media e os jornalistas - um ficheiro onde, alegadamente, estão as provas apresentadas contra Horner no inquérito da Red Bull e do qual ele acabou por ser ilibado.

Poderá ser um "malware", ou um "Trojan Horse"? Poderá ser o "plano B" que o outro lado decidiu ativar, como vingança, assim que soube da decisão da Red Bull, sabendo que alguém abrirá, meterá na Internet, sabendo que o ambiente está completamente contra ele, esperando por uma "caça às bruxas" e respetivo "linchamento"? E se for esse o caso, servirá de prova num inquérito futuro?

Acabou por não ser. Daquilo que já se leu até agora, a melhor definição cabe ao jornalista italiano Roberto Chinchero. Que afirma o seguinte:

"O e-mail foi enviado para mais de 100 pessoas, incluindo figuras seniores da Liberty Media e organogramas da FIA, bem como todos os chefes de equipe e uma grande representação de mídia credenciada com passes permanentes. Além disso, o endereço de e-mail de Jos Verstappen também foi incluído entre os destinatários. A assessoria de imprensa da Red Bull não confirmou se os documentos são genuínos ou falsos, mas no final esse aspecto é menos importante do que pode parecer.

O fato mais alarmante é querer desacreditar a figura de Christian Horner. Depois do comunicado divulgado ontem pela Red Bull sobre a conclusão da investigação interna, que isentou Horner das acusações, há quem não queira desligar os holofotes sobre o caso. A forma como uma ou mais pessoas operam anonimamente confirma uma determinação feroz que não tem problemas em cometer crimes como a divulgação de material privado e confidencial."

Outro jornalista disse sobre este assunto na rede social Twitter:

"Horner deverá ser o primeiro a exigir a desclassificação da documentação do processo, caso contrário a suspeita de uma sentença conveniente também permanecerá na mente de seus atuais colaboradores.

Posso estar errado, mas acho que sim. Uma vez iniciada a máquina de lama, seja você inocente ou culpado, você nunca apagará a dúvida da culpa daqueles que o rodeiam."

Bem sei que estou a ser um "advogado do Diabo", mas se é para que haja a ética empresarial que todos queremos, é preciso que estas coisas sejam feitas da maneira mais legal possível. Se queremos que aquilo que Lewis Hamilton disseram em público seja uma realidade, o linchamentos públicos pela Internet não ajudam.     

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