terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

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Ainda se lembram onde estavam naquela noite de dezembro de 2008, quando a Honda, diretamente de Tóquio, anunciou inesperadamente a sua retirada, com efeito imediato, da Formula 1? Depois de dois anos desastrosos, a chegada de Ross Brawn, e os novos regulamentos, pareciam que o RA109 poderia ser um carro capaz de "dar o salto" para os lugares mais à frente. Contudo, com aquele anuncio, e alguns meses depois da saída da Super Aguri, sem dinheiro, parecia que a chance da Formula 1 começar 2009 com 18 carros na grelha, era real.

Mas dentro da Honda, em Brackley, houve reação. Ross Brawn tomou conta das rédeas e, simbolicamente, por uma libra, comprou a equipa e tudo o resto... menos os motores. Ficaram com as dívidas, os mecânicos e engenheiros, e os pilotos: o britânico Jenson Button, ex-Williams e BAR até aquela altura, e o veterano Rubens Barrichello, que tinha estado na Jordan, Stewart e sobretudo, Ferrari. No sufoco daquele contra-relógio, decidiram-se que iriam ter os motores da Mercedes, que equipavam na altura os McLaren campeãs do mundo do ano anterior, com Lewis Hamilton

Por dois meses, as especulações voaram - essa parte lembro eu. Muitos alarem sobre se havia dinheiro ou não - na realidade, havia, a Honda deixou esse dinheiro, honrou esses compromissos - mas o grande problema era que motores iriam ficar, porque os japoneses não ficaram com os seus motores. Acabaram por escolher a Mercedes, como sabem, mas não sabíamos das contrapartidas. Depois soubemos: a aquisição da estrutura. Mas quando o carro entrou para os primeiros testes coletivos, em Barcelona, era uma incógnita saber o que viria aí, ainda por cima, 2009 era o ano de novos regulamentos. 

E foi aí que surgiu o génio de Ross Brawn. E... se quiserem, a condescendência de Max Mosley e de Bernie Ecclestone. O grande truque foi o difusor duplo, que tratou de funcionar nem melhor que com as outra equipas, usando muito bem os "buracos" no regulamento nesse sentido. Como ele funcionava muito bem no RA109 - agora Brawn BGP 001 - com o passar dos dias, a ideia de uma dobradinha na primeira corrida do ano era bem real, e a ideia de uma equipa ganhar na sua primeira corrida era algo que não acontecia desde 1977. Lembro-me das montagens dos dois Brawns na fila da frente em Melbourne. Afinal de contas... era uma mera profecia. 

A realidade daquela tarde australiana prolongou-se nas corridas seguintes. Pelo meio em Xangai, a Red Bull conseguia a sua primeira vitória de sempre - depois da Toro Rosso, lembre-se! - e eles tinham um avanço tal que o título já era uma certeza. E depois, o tal duplo difusor teve de ser alterado e a "vantagem injusta" foi-se. Eles só voltariam a ganhar mais duas corridas, em Valência e Monza, ambos com Rubens Barrichello ao volante. Mas Button teve dois pódios, o último dos quais em Abu Dhabi, uma corrida depois de ter cantado o "We Are The Champions" no rádio do carro, em Interlagos, perante a satisfação de todos na equipa e na família, com o pai, John Button, a ser o mais efusivo.

E depois, a compra pela Mercedes e o final do conto de fadas. Uma temporada perfeita, uma história perfeita: uma temporada, dois títulos: o de Construtores e o de Pilotos. No ano passado, o Keanu Reeves lembrou essa aventura num dos "streamings" da nossa vida, 15 anos depois de ter acontecido. Parece que foi na semana passada... 

E agora, um dos carros irá a leilão. Baterá algum recorde?

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