segunda-feira, 26 de maio de 2025

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Há uma história sobre os Ascari que é arrepiante: o número 26. E mais alguns números redondos entre ele, Alberto Ascari, e o seu pai, António Ascari. Ambos nasceram com 30 anos de diferença. E morreram quase com essa diferença - daqui a uns tempos, falarei sobre o pai, fiquem atentos.

A história de Alberto conta-se de muitas maneiras, do qual dei uns "pozinhos" no parágrafo anterior: ele era extremamente supersticioso. Ele sempre corria com o seu capacete azul-celeste e a vestimenta da mesma cor: polo e calças azul-celeste. Tinha mais superstições, mas estes eram os principais, um pouco semelhante a Tazio Nuvolari, outro supersticioso. E a superstição era importante, especialmente em gente que todos os fins de semana arriscavam o pescoço por uma descarga de adrenalina e também por serem ultracompetitivos.

Quando Ascari se despistou no Mónaco, no seu Lancia, caindo no Mediterrâneo e emergindo á superfície apenas com um nariz partido, queria voltar o mais rapidamente possível a um carro para não mostrar que tinha ficado traumatizado com o que tinha acontecido. A 26 de maio de 1955, foi visitar o seu amigo Eugenio Castelloti a Monza. Ele testava uma Ferrari 750 Monza, em vista para os 1000 km de Monza, que iriam acontecer dentro de alguns dias. Ambos iriam correr naquele carro, devido a um acordo com a Ferrari, onde a Lancia os iria dispensar para aquela corrida.

O pessoal em Monza de certeza falaria sobre os eventos de Monte Carlo, e ele não tinha objetivo algum senão de ver os testes. Porém, à hora do almoço, Ascari pediu um capacete ao Castelloti e entrou no carro, para dar umas voltas. Se calhar, para atormentar os seus fantasmas, quem sabe. Um turista especial, digamos assim. Mas na Curva del Vialone, uma curva à esquerda que é feita a alta velocidade, despistou-se, capotou, ele foi cuspido e morreu, com múltiplas fraturas no seu corpo. O que não tinha acontecido em Monte Carlo, aconteceu ali, e foi um choque para o automobilismo. 

E o mais chocante ainda foram as circunstancias. Ele não usava o seu capacete celeste, ou as suas calças e polo azul-celeste. E morreu num dia 26, o mesmo dia, mas não no mesmo mês, onde em 1925, morria o seu pai. Ah, e sabem que número ele corria no seu carro da Lancia, em Monte Carlo, três dias antes? Era o 26. 

Durante muitos anos, muitos falaram sobre esse acidente, porque nunca apareceram muitas testemunhas do facto. Um era Angelo Consonni, que tinha sete anos do dia do acidente e assistia aos testes com o avô. Tinha visto dois trabalhadores a atravessar a pista e um deles hesitou por momentos antes de ver o carro de Ascari. Em 2001, afirmou que isso poderia ter sido uma chance para o despiste e o acidente. Contudo, algum tempo depois, Ernesto Brambilla, que na década seguinte iria ser piloto de motos e automóveis - e irmão mais velho de Vittorio Brambilla - disse ter assistido ao acidente e negou ter visto os trabalhadores que atravessavam a pista. Afirmou que se despistou e capotou por ele mesmo, ou seja a tese de algo ter quebrado no Ferrari, ou uma distração do piloto, foi algo mais plausível. 

Uma coisa interessante contou o seu companheiro de equipa na Lancia, Luigi Villoresi: Ascari tinha medo de ter medo. E foi por isso que rumou a Monza naquele dia: se ficasse mais tempo em casa, poderia perder a sua lendária velocidade e intrepidez. Afinal de contas, admiradores e adversários tinham algo em comum numa coisa: para eles, era o mais veloz da sua geração, com Strling Moss a ser mais preciso, afirmando que era tão bom como Juan Manuel Fangio, mas sem a refinação do argentino. 

Ascari foi enterrado no Cimitero Monumentale di Milano, e o seu funeral foi acompanhado pela elite do automobilismo... mais um milhão de pessoas, que acompanharam a procissão fúnebre nas ruas. A Curva del Vialone foi modificada em 1972 para ser a Variante Ascari, usado até aos dias de hoje, e uma última coincidência: Alberto Ascari morreu com 36 anos, a mesma idade do pai. 

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