segunda-feira, 26 de maio de 2025

A imagem do dia (II)



O automobilismo foi sempre perigoso, mesmo com todos estes saltos tecnológicos. Mesmo uma atividade como os ralis, onde os pilotos estão mais expostos, como correm em estradas de terra ou asfalto, conforme aquilo que a organização escolher, nunca poderá haver algo cem por cento seguro: o risco de morte, embora diminuto, existe.

E neste sábado, um acidente num rali escocês tirou a vida de um navegador. E a vítima mortal era, por incrível que pareça, irmão de outro navegador que, quase 13 anos antes, perdera a vida no Targa Florio.
 
Dai Roberts, a vitima mortal, tinha 39 anos e era filho de outro navegador, Mike Roberts. Correndo em ralis britânicos na década de 80 do século passado, teve dois filhos, Dai e Gareth. Este, o mais novo, aliou-se a um promissor piloto irlandês, Craig Breen, e no inicio da década passada, começou a correr no Europeu de ralis, até que a 16 de junho de 2012, participavam no Targa Florio, quando bateram forte contra um guard-rail. Num acidente semelhante ao de Robert Kubica, um ano antes, o guard-rail entrou no carro e empalou Gareth, que teve morte imediata. Ele tinha 26 anos. 

Breen assistiu a tudo e, naturalmente, ficou em estado de choque. Mas quem deu a mão a ele para continuar foi, precisamente, Dai Roberts. Afinal de contas, era o que Gareth queria. E logo no primeiro rali depois do acidente, ele fez o papel de navegador para Breen.  

A vida continuou, claro. Quando o irlandês conseguiu o seu primeiro pódio no WRC, um terceiro lugar, não parou de chorar, lembrando Roberts e aquilo que tinham vivido juntos, provavelmente pensando que ele deveria estar ali, naquele momento. Mal poderia saber que o seu próprio final seria trágico, quando nos preparativos para o rali da Croácia, em abril de 2023, um acidente semelhante a bordo do seu Hyundai i20 Rally1 tinha feito perder a sua vida.

Não sabíamos que também existia outro irmão que fazia ralis como navegador, como tinha feito o pai e o irmão. E Dai Roberts tinha palmarés: fora campeão britânico de asfalto em 2022, ao lado de James Williams. Mas também, tragédia: em 2014, no Ulster Rally, envolveu-se num acidente onde ficou ferido, mas pior ficou o seu piloto, Timothy Cathcart. Então com 20 anos, Cathcart acabou por morrer. 

O Motorsport UK iniciou uma investigação completa sobre as circunstâncias do incidente e trabalhará em estreita colaboração com os organizadores do Jim Clark Rally, o Jim Clark Memorial Motor Club, e cooperará com as autoridades competentes.”, lê-se no comunicado oficial. “O Motorsport UK envia as suas condolências à família e aos amigos de Dai, ao Jim Clark Rally, ao Jim Clark Memorial Motor Club e aos membros da comunidade automobilística.", concluiu.

O acidente aconteceu na oitava especial do Jim Clark Rally, no sul da Escócia. O rali fazia parte do campeonato britânico e a dupla conduzia um Hyundai i20 Rally2. Roberts teve morte imediata, enquanto o seu piloto, James Williams, foi para o hospital, mas as equipas de emergência declararam que não corre perigo de vida. O rali acabou por ser cancelado.

Não é fácil, estas coisas não são fáceis. É um desporto que amamos e todos sabem que é uma comunidade minoritária do qual nos sentimos em casa. E mesmo que nos últimos anos a segurança tem sido prioridade e muitos de nós nos queixamos que demasiada segurança tira a excitação ao desporto, quando morre um piloto - ou no caso dos ralis, um navegador - é um momento difícil. Especialmente no caso dele e da sua família, que viu muitas tragédias no desporto que escolheram competir.   

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