quarta-feira, 28 de maio de 2025

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Há 30 anos, no Mónaco, acontecia o ultimo Grande Prémio com 26 carros na grelha. Depois disso, a Formula 1 sempre teve entre 20 e 24 bólidos, com o primeiro a ser mais frequente. Mas numa corrida ganha por Michael Schumacher, com duas partidas, depois de uma carambola em Ste. Devote, logo na primeira volta, a abortar a primeira, o grande drama naquele final de semana era a Simtek, que depois de uma temporada e algumas corridas, afirmava que, se não existisse uma larga injeção de dinheiro, iria abandonar a Formula 1 com efeito imediato. 

Depois de uma primeira temporada com o seu quê de trágico, em 1994, a de 1995 tinha alguma promessa. As caixas de velocidades eram da Benetton, a campeã do mundo de pilotos, e tinham emprestado Jos Verstappen, seu piloto de testes, para que pudesse ter mais rodagem na competição, depois de 10 corridas na equipa principal. Para segundo piloto, o escolhido foi o italiano Domenico (Mimmo) Schiartarella, que já tinha andado no carro nas provas finais de 1994.

Contudo, na transição de 1994 para 95, começaram a surgir alguns problemas. Um deles foi o dinheiro. A grande patrocinadora era a MTV Europe, e nesse ano, decidiu cortar no patrocínio, em troca de dar espaço para potenciais anunciantes no canal. Ou seja, os patrocinadores da Simtek teriam facilidades por ali. Havia um terceiro piloto que iria correr por ali, o japonês Hideki Noda, mas na madrugada de 17 de janeiro, uma forte terramoto na cidade de Kobe estragou os planos, porque boa parte dos patrocinadores eram dali. Apesar de ele ter pago um depósito para correr, os patrocinadores que ele tinha arranjado foram com a palavra atrás. 

Apesar de não terem acabado no Brasil, na Argentina, Verstappen andou bem à chuva, chegando a rodar em sexto, antes da sua entrada nas boxes para reabastecimento. Não foi grande coisa, regressando à pista numa pior posição, e para piorar as coisas, uma quebra na caixa de velocidades causou o seu abandono. Schiartarella foi até ao fim e acabou na nona posição, igualando o melhor de sempre da equipa, alcançado em França, em 1994, por Jean-Marc Gounon.

Em Imola, voltaram a não pontuar, enquanto ambos chegaram ao fim em Barcelona, mas Jos fora 12º e Mimmo 15º. Mas os grandes problemas, aparentemente, não estavam resolvidos. E Nick Wirth, o homem-forte da Simtek, decidiu na terça-feira no fim de semana monegasco, colocar a boca no trombone. Revelou, em conferência de imprensa, que precisava de uma injeção urgente de dinheiro - a dívida era de seis milhões de libras, uma fortuna na altura - e que, se os atuais investidor não pudessem aumentar o seu investimento, a firma poderia fechar portas. Ele também tinha negociado com Bernie Ecclestone a dispensa de correrem no GP do Canadá, alegando que o calendário tinha sido alargado para 17 corridas.

Em termos de peças, a situação era bem pior: por exemplo, apenas tinham três caixas de velocidades. E tinha, de usar os carros de forma gentil porque Mónaco... era estreito. E um acidente era a morte do artista. Mas havia ajuda. Por exemplo, Barbara Belhau, a manager de Roland Ratzemberger, e moradora no Mónaco, ajudou a equipa na parte do "catering" ao longo daquele final de semana. 

As coisas na qualificação tiveram sortes diferentes. Verstappen deu cinco voltas, mas problemas no carro fizeram com que o fim de semana tivesse condicionado. Schiartarella conseguiu o 14º melhor tempo na sessão de quinta-feira. Mais tarde, Jos e Mimmo partilharam o chassis para marcar tempos, conseguindo o 19º e 20º tempos, com a caixa de velocidades do neerlandês a não funcionar bem. Para piorar as coisas, Schiartarella despistou-se na Tabac, tentou regressar à pista fazendo um pião, e no processo, quase batia no Forti de Roberto Moreno. A FIA não achou graça e os comissários multaram-no em 20 mil libras, embora a sentença tinha sido suspensa por três corridas. Uma coisa dessas era a última coisa que a Simtek queria. 

Mas o pior viria a seguir. Carro rebocado para a box, Jos dentro dele, sai para marcar um tempo... e bateu. Menos um chassis, e nove voltas partilhadas pelos dois para o resto do final de semana. Mas os tempos que faziam o colocavam na frente de carros como o Sauber do recém-chegado Jean-Claude Bouillon, os Pacific e os Forti, com um chassis horrível, mas mais endinheirados. 

O sábado não foi muito melhor. Verstappen tentou arrancar um melhor tempo, mas andando sempre no limite resultou num novo acidente, e mais peças gastas, e apenas conseguiu o 23º melhor tempo. Já Schiartarella foi melhor, 20º na grelha. 

O dia da corrida foi caótico. Na partida, se Hill e Schumacher se deram bem, atrás foi uma confusão. David Coulthard batera nos Ferrari de Gerherd Berger e Jean Alesi, causando o bloqueio da estrada e a amostragem de bandeiras vermelhas. Outros pilotos foram afetados, como Eddie Irvine, que tinha o bico do seu Jordan partido, e o difusor do Sauber de Bouillon estava danificado. O resto do pelotão estava parado na pista, e claro, a bandeira vermelha tinha sido mostrada.   

Quanto aos Simtek, parecia que poderiam continuar, mas mais problemas surgiram: quando tentavam retirar o carro de Schiartarella do camião que os transportou até às boxes, o guincho quebrou e o carro caiu no chão com estrondo, danificando-o. Como a equipa não tinha um carro de reserva com eles, le ficava de fora. Já Verstappen andava com os problemas com a caixa de velocidades, e antes de entrar na volta de aquecimento, esta quebrou de vez e os carros acabaram por não entrar na corrida.

Nick Wirth passou os dias seguintes em reunião atrás de reunião para tentar arranjar mais dinheiro, mas não surgiu nada parecido com um milagre - apesar de rumores de compra vindo dos Países Baixos, por causa do Jos Verstappen - e a meio de junho, perto do GP de França, em Magny-Cours, Wirth declarou falência e pediu a uma firma de liquidação, a Touch Ross, para avaliar os bens para eventual leilão, que aconteceu em julho. Os bens leiloados renderam... 250 mil libras. 48 funcionários ficavam sem emprego e assim acabava a aventura da Simtek.  

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