domingo, 15 de junho de 2025

A imagem do dia




E depois de 24 horas, acabou em Le Mans mais uma edição da corrida mais longa do ano, ou se quiserem, uma longa corrida de "Sprint". E no pódio, houve alguns feitos históricos: o primeiro polaco vencedor, na figura de Robert Kubica, o primeiro chinês, na figura de Yifei Ye, mas sobretudo, desde que regressaram à Endurance, em 2023, a Ferrari ganhou a sua terceira vitória seguida nas 24 Horas de Le Mans, algo que não acontece desde os anos 60 do século passado. E ainda por cima, a certa altura, a hipótese de ter um monopólio no pódio era bem real, porque um dos carros era - e acabou por ser - quarto classificado. 

Mas o mais interessante é que este carro não é o oficial, mas sim... o oficioso, da AF Corse. Ou seja, se quiserem, Kubica, Phil Hanson e Ye estão a imitar Masten Gregory e Jochen Rindt (e Ed Hughus, o corredor-fantasma) que exatamente 60 anos antes, em 1965, ganharam com um Ferrari não-oficial, batendo os ameaçadores Ford e claro, os Ferrari oficiais.  

E apesar de por baixo do pódio se cantar "We All Living in The Yellow Submarine", antes de tocarem o "Fratelli di Itália", as pessoas, nos bastidores pensam no seguinte: com cada vez mais marcas a entrarem - McLaren e Hyundai são as mais recentes adições, a partir de 2027 - a Ferrari anda a ganhar corridas uma atrás das outras, como nos tempos do inicio da década de 60, quando Enzo Ferrari investia tudo e levava a Scuderia ao limite. E perguntam-se: para quê o BoP (Balance of Performance, um "lastro" artificial, para evitar o domínio de determinada equipa, e enxotar a concorrência), quando a Ferrari ganha tudo? Afinal de contas, eles ganharam todas as corridas desta temporada da Endurance, e nada garante que ficarão por aqui.

Um BoP recalibrado, será a solução? Até pode ser, especialmente quando temos Porsche e Cadillac a querer muito triunfar, e as marcas que vêm aí, e as outras que não estão ali para fazer número - para começar, a Peugeot, a BMW e a Aston Martin - 

Contudo, queria finalizar isto em bom ambiente. Como sabem, Kubica fez história ao ser o primeiro polaco (polonês, se está a ler isto no Brasil) a ganhar as 24 Horas de Le Mans, e pela Ferrari. De uma certa forma, é uma reposição da justiça, porque em 2011, enquanto tripulava pela Renault, tinha assinado um contrato para ser piloto de Maranello a partir de 2012, antes de ter tido o seu acidente no rali Ronda di Andora, que mutilou a sua mão direita e viu a sua carreira na Formula 1 interrompida por oito anos, até regressar pela Williams, em 2019. Esta vitória, de facto, trouxe uma certa justiça a ele e à sua carreira, agora, com 40 anos de idade. 

E quem o acompanhou, e quem o admirava, quem desejou que recuperasse depois daquele horrível acidente, de uma certa forma, hoje, viu todos os seus desejos concretizados. Demorou algum tempo, mas aconteceu. Parabéns!

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