domingo, 28 de setembro de 2025

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Eu não estava respirar porque [tinha] engolido a minha língua. Mas entre o acidente e o Sid chegar até mim e avaliar o que tinha acontecido, foram 11 minutos e meio. Então, o cérebro… as pessoas dizem que me afetou. Acho que a [minha] esposa concordaria!"

"Sid abriu minha viseira e viu que eu estava com um tom azul-claro. Ele pegou em dois tubos, inseriu-os no meu nariz, estabilizou-me respirando novamente com oxigênio, cortou as tiras e me entregou o capacete. Ele levou-me de volta ao Centro Médico e depois levou-me de avião para Sevilha.

Acho que meu acidente foi por volta de 42G. Ele sabia por experiência própria que meus órgãos entrariam em choque e não funcionariam. Então, era importante me tirar de Sevilha, de volta para Heathrow, de volta para o Reino Unido, para o hospital dele, o Royal London Hospital, em Whitechapel. Voltei para lá na terça-feira à noite e, como ele previu, na quarta-feira, meus rins, meus pulmões… tudo simplesmente parou de funcionar. Fiquei num respirador por sete semanas. Fiz diálise renal todos os dias durante três horas e, como a situação estava delicada, o capelão do hospital veio e me deu a extrema-unção. [Por] duas vezes na mesa de operações, o meu coração parou. Eles tiveram que se afastar, colocar os cabos de ligação antigos, me dar um choque e me trazer de volta. Então, três vezes, Sid trouxe-me de volta."

Isto é parte do relato que o próprio Martin Donnelly fez do seu acidente nos treinos de sexta-feira no GP de Espanha de 1990, faz agora 35 anos. O acidente causou impacto a todos que viram o seu corpo inerte no asfalto do circuito de Jerez de la Frontera, no sul de Espanha, especialmente Ayrton Senna, que viu, não muito longe, o socorro que o Prof. Syd Watkins fez para salvar o piloto irlandês, então com 26 anos. 

Mas Senna nem foi o único. Gente como Roberto Moreno e o próprio Derek Warwick, que tinha escapado, quase um mês antes, de um acidente forte na primeira volta do GP de Itália, também assistiram aos socorros prestados ao seu companheiro de equipa na Lotus. 

Nesse final de semana, Senna fez a pole-position - iria ser a 50ª da sua carreira - mas Donnelly contou mais tarde que os atos dele no momento em que era socorrido foi o que ficou na sua cabeça.

Uma das coisas que me impressionou desde o acidente foi o Ayrton naquele fim de semana. Para mim, ele era um amigo distante”, comentou Donnelly numa entrevista em 2011 ao site Motorsport Retro. “Ayrton foi andando até onde eu tinha caído. “Isso é o mais incrível para mim. O Ayrton assistiu a tudo isso, viu tudo em primeira mão, segurando meu capacete e possivelmente me vendo morrer em um acidente. Ele viu todas as agulhas, seringas e a traqueostomia. Depois, voltou para a garagem, colocou o capacete de volta, com a viseira abaixada, e com apenas 10 minutos restantes, fez a volta mais rápida de Jerez naquela pista. Como você desliga a emoção do que acabou de ver que está ali – na sua mente – e então faz esse tipo de trabalho?”, frisou.

Donnelly andou dois anos em terapia intensiva para tentar recuperar o melhor possível, mesmo tendo de passar por uma possível amputação da perna direita - os médicos espanhóis queriam, o Prof. Watkins não - e chegou a recorrer ao fisioterapeuta Willy Dungl, que recuperou Niki Lauda depois do seu acidente no Nurburgring, a 1 de agosto de 1976. Mas mesmo com a terapia intensiva, e que recuperou alguma da mobilidade, não foi toda. 

Apesar de um teste num dia de nevoeiro e chuva em Silverstone, em 1993, pela Jordan - Eddie Jordan foi seu patrão na Formula 3000, em 1988 - Donnelly não mais regressou à Formula 1. Ele afirmou anos depois que, quando Senna morreu em Imola, três anos e meio depois do seu acidente, achou que o melhor seria aproveitar a vida. Ou como disse Warwick, seu companheiro de equipa na Lotus: “Para Martin Donnelly, ter sobrevivido ao acidente foi um ato de Deus.

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