Há precisamente 20 anos, na ponta sul de África, surgiu uma ideia interessante. Que de uma certa forma até poderia ter dado certo, mas não aconteceu: o GP Masters. Numa altura em que, naquele outono de 2005, muitos falavam da A1GP, do qual falei aqui há pouco mais de um mês, a ideia de uma competição para antigos pilotos de Formula 1 estava em desenvolvimento. E quando aconteceu, reuniu alguns antigos campeões do mundo e deu uma corrida bem divertida.
Ao contrário da primeira competição, vindo da ideia de um membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, a ideia veio da Delta Motorsport, de Silverstone, no Reino Unido, que decidiu construir uma série de chassis e motores dentro de casa, digamos assim. A competição era derivado da série de ténis que reunia antigos campeões da modalidade e que por vezes, era tão popular quando alguns torneios de ténis propriamente ditos...
O chassis era baseado no Reynard 2KI que competiu na IndyCar no ano 2000, e tinha um motor Cosworth V8 de 3.5 litros, semelhante aos que existiam nos carros de Formula 1 a partir de 1989. Tinha cerca de 650 cavalos e com uma caixa de velocidades semi-automótica, pesava cerca de 650 quilos e a organização garantia que alcançava os 320 km/hora de velocidade máxima. E tinha outras particularidades: não tinha quaisquer auxiliares como controlo de tração, ABS e direção assistida, e os travões de disco eram feitos de aço, para garantir que as travagens começavam bem antes. Em suma, uma competição monomarca do qual prometia atrair lendas do automobilismo.
O carro ficou pronto no final do verão de 2005 e começou a ser testado, primeiro em Pembrey, no País de Gales, e depois em Silverstone, num teste coletivo. E ali viu-se quem participava na competição: Nigel Mansell, o campeão de 1992, Emerson Fittipaldi, campeão 20 anos antes, em 1972, e pilotos vencedores como René Arnoux e Patrick Tambay, que foram dupla da Ferrari em 1982-83. Outros também apareceram, como Derek Warwick, Andrea de Cesaris, Stefan Johansson, Christian Danner, Riccardo Patrese ou Eddie Cheever, a dupla da Alfa Romeo em 1984-85.
Quando a competição marcou a sua primeira corrida, na pista sul-africana de Kyalami, a 13 de novembro de 2005, outros já se tinham juntado, nomeadamente o australiano Alan Jones, campeão do mundo de 1980. E havia um limite minimo de participação: 45 anos. Isso colocava no limite minimo gente como Andrea de Cesaris (46 anos em 2005), mas outros andavam na casa dos 50, como Patrese (51 anos nessa altura), e até na casa dos 60, como Jacques Laffite, que tinha 62 anos.
Notáveis ausências eram as de Alain Prost, Nelson Piquet, Niki Lauda e Keke Rosberg, mas Emerson Fittipaldi lá estava, embora já tivesse 58 anos no fim de semana da corrida. E claro, Mansell, 52 anos nesse final de semana. O treino foi bem renhido, e vindo de um duelo inesperado: Mansell contra Fittipaldi, eles que tinham tido alguns duelos... na CART, uma década antes. Em contraste, Jones era nitidamente fora de forma. Barriga proeminente - que causou criticas por parte de Christian Danner. Jones respondeu que a única vez que vira um pódio na vida foi "sempre que ia a caminho da casa de banho", mas a realidade calou os críticos: ele era dez segundos mais lento que Mansell, e foi substituído por outro veterano: o chileno Eliseo Salazar.
A grelha tinha 14 carros, com gente como o alemão Hans-Joachim Stuck e o neerlandês Jan Lammers a completar a grelha.
A corrida, com 30 voltas, tornou-se num duelo entre Mansell e Fittipaldi, e acabou com o britânico a triunfar, com menos de um segundo entre ambos. Outro duelo aconteceu para o lugar mais baixo do pódio, entre os italianos Patrese e De Cesaris - o ex-piloto mais em forma do pelotão - o americano Cheever e o britânico Warwick (a dupla da Arrows entre 1987 e 89), e no final, bem suado, o lugar mais baixo do pódio ficou nas mãos de Patrese, na frente de De Cesaris, Warwick e Cheever.
No final, os pilotos gostaram da experiência, o autódromo estava cheio e a transmissão pela BBC, que tirou Murray Walker da reforma, e como acompanhante estava Derek Bell, campeão... mas da Endurance, fez recordar tardes passadas para muita gente. Levado pelo sucesso, um calendário começou a ser formado em 2006, com cinco corridas, mas apenas duas foram realizadas. E em 2007, a Delta Motorsport, entidade organizadora, acabou por falir, terminando de vez com a aventura da GP Masters, com apenas três corridas realizadas.




Sem comentários:
Enviar um comentário