quarta-feira, 12 de novembro de 2025

A tempestade da Ferrari


A Ferrari não está a ter uma grande temporada em 2025, e no fim de semana do GP do Brasil, ambos os pilotos, Lewis Hamilton e Charles Leclerc, não pontuaram na Feature Race. Para piorar as coisas, a Scuderia ainda não ganhou qualquer corrida nesta temporada e foi passada pela Red Bull, que, de todos os pontos conquistados em 2025, só 19 não pertencem a Max Verstappen. 

A direção tem andado silenciosa ao longo desta temporada - afinal de contas, tinham investido bastante em Lewis Hamilton, de 40 anos - mas numa temporada onde ele ainda não conseguiu um pódio, John Elkann resolveu quebrar o silêncio, comparando a situação com a Endurance, onde eles ganharam tudo: o Mundial de Construtores e corridas como as 24 Horas de Le Mans. 

Em declarações à Sky Sports Itália, Elkann afirmou:

Vencemos o campeonato do mundo de Endurance, o que foi uma emoção tremenda. Vencermos os títulos de construtores e de pilotos. Uma bela demonstração de quando a Ferrari está unida é possível fazer coisas grandiosas. O Brasil foi uma enorme desilusão. Olhando para o campeonato de Fórmula 1, podemos dizer que os nossos mecânicos estão a ganhar o campeonato com o seu desempenho e tudo o que fizeram nas paragens nas boxes.

Se olharmos para os nossos engenheiros, não há dúvida de que o carro melhorou. Se olharmos para o resto, não está à altura. E temos certamente pilotos que precisam de se concentrar em pilotar e falar menos, porque ainda temos corridas importantes pela frente e não é impossível conquistar o segundo lugar. No Bahrein, ganhámos o título do WEC. Quando a Ferrari está unida, os resultados aparecem.”, concluiu.

Os pilotos não ficaram muito tempo calados, e usaram as redes sociais para responder. Lewis Hamilton foi enfático na sua conta do Twitter, com ele a segurar a bandeira brasileira: “Apoio a minha equipa. Não desisto de mim. Não vou desistir — não agora, não antes, nunca. Obrigado, Brasil, sempre.

Já Leclerc, na sua conta no Twitter, foi mais pragmático, apelando à união dentro da equipa. “Foi um fim de semana muito difícil em São Paulo. É dececionante regressar com quase nenhum ponto num momento crucial da temporada. Só a união nos pode ajudar a inverter esta situação nas últimas três corridas. Vamos dar tudo, como sempre.


Nos dias que se seguiram às declarações de Elkann, as reações foram mais de tempestade do que de tranquilidade, afirmando que ele fez mais mal que bem, ao atiçar as divisões dentro da equipa, e passar a imagem de que eles são incapazes de dar uma máquina vencedora, e a comparação com a Endurance é injusta porque, por exemplo, o WEC tem o BoP, Balance of Performance, que equilibra "artificialmente" os carros na classe Hypercar, algo que a Formula 1 não tem.

E quem foi mais critico das palavras de Elkann foi... outro campeão do mundo, Jenson Button. Agora na equipa da Porsche da Hypercar, o britânico de 45 anos, respondeu com uma frase na conta da Sky Sports no Instagram: “Talvez o John devesse dar o exemplo.” A crítica de Button recebeu grande apoio por parte dos fãs, que elogiaram a sua franqueza e questionaram a postura pública do presidente da Ferrari. Um dos comentários mais destacados resume o sentimento geral: “Exatamente isto… que falta de profissionalismo. Diz muito sobre a cultura daquela equipa.

O grande problema da Ferrari é este: não ganha um título de pilotos desde 2007, e um de Construtores desde 2008, está a ter uma daquelas temporadas onde não conquistou qualquer vitória, semelhante a 2020 ou 2021. Com Frederic Vasseur ao leme desde 2023, o carro de 2025 não é ideal, e os pilotos, muito provavelmente, estão a levá-lo além do limite. E para piorar as coisas, nada indica que em 2026, com os novos regulamentos, especialmente na parte dos lubrificantes, nada indica que o carro da Scuderia seja um "foguete" e supere a Red Bull, McLaren e sobretudo, a Mercedes. Com a equipa na Endurance a conseguir resultados com uma parcela do orçamento que é gasto na Formula 1 - embora tenham muito mais receitas - isto é uma pressão extra. 

Interferências externas nunca forma a melhor politica. O melhor exemplo foi nos tempos de Michael Schumacher, quando em situações de crise, existia um escudo técnico e executivo, liderado por Luca di Montezemolo, que permitiu a Jean Todt e a Ross Brawn trabalhar sem ruído de gabinete. Mas isso era em 1999. Hoje, mais de um quarto de século depois, enviar recados públicos aos pilotos tem o efeito inverso, cria ruído e desconfiança. 


No final, é simples: um bom carro é meio caminho andado para lutar por vitórias e títulos. Não é fácil, especialmente quando temos Mercedes, Red Bull e McLaren como concorrência, e os pilotos são capazes disso. Mas temo que o mal esteja feito, ainda por cima, na equipa mais antiga no pelotão da Formula 1, e paradoxalmente, a mais escrutinada do planeta. 2026 responderá a muitas perguntas, certamente. E se boa parte delas são negativas, então poderemos estar à beira da tempestade.

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