Ao ver há uns dias esta imagem no Blog do Felipão, de um homem negro a trabalhar no duro na berma do circuito de Kyalami, na edição de 1972, despertaram-me as minhas memórias de infância, e provavelmente a minha primeira causa ao qual fiquei sensibilizado: o Apartheid na Africa do Sul.
Devia ter uns 7,8 anos, quando comecei a ver as imagens da altura: os bairros negros do Soweto, em revolta, contra a minoria branca, privilegiada, com todos os direitos, contra a maioria branca, quase sem direitos. E o meu primeiro herói fora da Formula 1 foi Nelson Mandela, preso há mais de 20 anos (naquela altura) o mundo ocidental exigia a sua libertação, de um jugo ditatorial (de uma raça sobre a outra) E sentia essa revolta. E no dia em que ele foi libertado, um Domingo, lembro-me de ter largado tudo só para ver o momento da libertação daquele Homem (sim, com H grande). E posso dizer que deve ter sido dos poucos que não me desiludiram. O sonho foi cumprido. E conheço muitos sul-africanos brancos que me disseram que tudo aquilo que se passou em 1994 foi um verdadeiro milagre...
Aliás, a Africa do Sul foi uma das hipóteses que os meus pais tinham para viver, por alturas da Descolonização em Angola. Era esse, o Gabão e o Brasil. Mas o facto da minha mãe ser morena/mestiça fez com que no último momento, os meus pais tenham decidido viver para o Brsil, em Setembro de 1975. Aliás, eles desembarcaram num 7 de Setembro. Mas mesmo assim estiveram alguns dias em Joanesburgo, esperando um voo para o Rio de Janeiro... e foi assim que nasci em Vitória, em vez de nascer em Luanda, Cidade do Cabo, Libreville ou mesmo Harare...
Mas enfim, são memórias da minha infância. Em 1985, a comunidade internacional pressionava a Africa do Sul de um modo eficaz. O Comité Olímpico Internacional não deixava competir os sul-africanos desde os Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, os sul-africanos eram barrados de todos os eventos desportivos internacionais (rugby, cricket, futebol). A Formula 1 era uma espécie de último reduto, e mesmo assim, sofriam pressões por parte os vários organismos internacionais, entre os quais a ONU, para que a então FISA cancelasse esse Grande Prémio, em Kyalami.
A prova estava marcada para o dia 19 de Outubro de 1985, uma sexta-feira, creio eu. Foi a última vez que um Grande Prémio foi disputado num dia que não o Domingo, e o apelo ao boicote teve algum efeito. As equipas francesas (Ligier e Renault), não compareceram, devido a um pedido feito pelo então presidente Francois Mitterrand (1916-1996), e a Lola-Beatrice de Carl Haas só fez figura de corpo presente (treinou, mas não correu). Outras equipas foram correr, mas o que é engraçado é que na altura do campeonato (era a penúltima prova) já Alain Prost era o campeão mundial, logo, não havia justificação para correrem, pois tudo estava decidido...
Nos treinos, os McLaren e a Williams deram um ar da sua graça, mas quem ficou com a pole-position foi Nigel Mansell, no Williams-Honda. Logo a seguir ficaram o Brabham-BMW de Nelson Piquet e o Williams-Honda de Keke Rosberg. Depois vinha o novo campeão do mundo, Alain Prost, num McLaren despido de patrocínios.
A corrida decorreu sem incidentes de maior. Mansell liderou e não mais largou até ao fim, conseguindo a sua segunda vitória da carreira, mostrando as potencialidades do Williams-Honda, que seriam mostradas em todo o seu esplendor no ano seguinte. Depois de Mansell, Keke Rosberg e Alain Prost fecharam o pódio. Depois dos três primeiros, o quarto foi o Ferrari de Stefan Johansson, e os dois últimos lugares pontuáveis foram ocupados pelos Arrows de Thierry Boutsen e de Gehrard Berger.
E foi assim o último GP na Africa do Sul por sete anos, no velho traçado de Kyalami. Depois, o circuito foi remodelado, Frederik De Klerk sucedeu-se a Pieter Botha, decidiu acabar com a segregação racial, legalizou o ANC, libertou Mandela e permitiu eleições livres, em que todos pudessem votar. Foi a 26, 27 e 28 de Abril de 1994, com filas intermináveis de pessoas, a cumprir o velho sonho de "um homem, um voto". Quanto à Formula 1, voltou em 1992 e 1993, até que os organizadores do circuito de Kyalami declararam falência, tendo a prova saído da Formula 1 para não mais voltar… até agora.
Devia ter uns 7,8 anos, quando comecei a ver as imagens da altura: os bairros negros do Soweto, em revolta, contra a minoria branca, privilegiada, com todos os direitos, contra a maioria branca, quase sem direitos. E o meu primeiro herói fora da Formula 1 foi Nelson Mandela, preso há mais de 20 anos (naquela altura) o mundo ocidental exigia a sua libertação, de um jugo ditatorial (de uma raça sobre a outra) E sentia essa revolta. E no dia em que ele foi libertado, um Domingo, lembro-me de ter largado tudo só para ver o momento da libertação daquele Homem (sim, com H grande). E posso dizer que deve ter sido dos poucos que não me desiludiram. O sonho foi cumprido. E conheço muitos sul-africanos brancos que me disseram que tudo aquilo que se passou em 1994 foi um verdadeiro milagre...
Aliás, a Africa do Sul foi uma das hipóteses que os meus pais tinham para viver, por alturas da Descolonização em Angola. Era esse, o Gabão e o Brasil. Mas o facto da minha mãe ser morena/mestiça fez com que no último momento, os meus pais tenham decidido viver para o Brsil, em Setembro de 1975. Aliás, eles desembarcaram num 7 de Setembro. Mas mesmo assim estiveram alguns dias em Joanesburgo, esperando um voo para o Rio de Janeiro... e foi assim que nasci em Vitória, em vez de nascer em Luanda, Cidade do Cabo, Libreville ou mesmo Harare...
Mas enfim, são memórias da minha infância. Em 1985, a comunidade internacional pressionava a Africa do Sul de um modo eficaz. O Comité Olímpico Internacional não deixava competir os sul-africanos desde os Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, os sul-africanos eram barrados de todos os eventos desportivos internacionais (rugby, cricket, futebol). A Formula 1 era uma espécie de último reduto, e mesmo assim, sofriam pressões por parte os vários organismos internacionais, entre os quais a ONU, para que a então FISA cancelasse esse Grande Prémio, em Kyalami.
A prova estava marcada para o dia 19 de Outubro de 1985, uma sexta-feira, creio eu. Foi a última vez que um Grande Prémio foi disputado num dia que não o Domingo, e o apelo ao boicote teve algum efeito. As equipas francesas (Ligier e Renault), não compareceram, devido a um pedido feito pelo então presidente Francois Mitterrand (1916-1996), e a Lola-Beatrice de Carl Haas só fez figura de corpo presente (treinou, mas não correu). Outras equipas foram correr, mas o que é engraçado é que na altura do campeonato (era a penúltima prova) já Alain Prost era o campeão mundial, logo, não havia justificação para correrem, pois tudo estava decidido...
Nos treinos, os McLaren e a Williams deram um ar da sua graça, mas quem ficou com a pole-position foi Nigel Mansell, no Williams-Honda. Logo a seguir ficaram o Brabham-BMW de Nelson Piquet e o Williams-Honda de Keke Rosberg. Depois vinha o novo campeão do mundo, Alain Prost, num McLaren despido de patrocínios.
A corrida decorreu sem incidentes de maior. Mansell liderou e não mais largou até ao fim, conseguindo a sua segunda vitória da carreira, mostrando as potencialidades do Williams-Honda, que seriam mostradas em todo o seu esplendor no ano seguinte. Depois de Mansell, Keke Rosberg e Alain Prost fecharam o pódio. Depois dos três primeiros, o quarto foi o Ferrari de Stefan Johansson, e os dois últimos lugares pontuáveis foram ocupados pelos Arrows de Thierry Boutsen e de Gehrard Berger.
E foi assim o último GP na Africa do Sul por sete anos, no velho traçado de Kyalami. Depois, o circuito foi remodelado, Frederik De Klerk sucedeu-se a Pieter Botha, decidiu acabar com a segregação racial, legalizou o ANC, libertou Mandela e permitiu eleições livres, em que todos pudessem votar. Foi a 26, 27 e 28 de Abril de 1994, com filas intermináveis de pessoas, a cumprir o velho sonho de "um homem, um voto". Quanto à Formula 1, voltou em 1992 e 1993, até que os organizadores do circuito de Kyalami declararam falência, tendo a prova saído da Formula 1 para não mais voltar… até agora.
2 comentários:
Putz, não sabia que tinhas raízes da mãe África, amigo Speeder... bacana a história...
O que não era bacana era esse maldito apartheid, coisa tosca que felizmente, como tudo de ruim nesse planeta, um dia chegou ao fim... claro que ainda persistem muitos problemas sociais e econômicos na África do Sul, mas certamente todos caminhando juntos é muito melhor do que aquela segregação besta...
Sobre a corrida, lembro alguma coisa dessa prova... mas o mais legal é ver essa foto da largada... como era bonita essa pintura da Williams... e como era linda a Brabham... bons tempos aqueles, com carros de verdade e não joysticks de videogame...
Keke Rosberg foi o grande destaque na prova em Kyalami. Não fosse a rodada no início da prova, ele teria sido o vencedor.
Com duas trocas de pneus realizadas e uma grande recuperação, Rosberg teve que se conformar com o 2º lugar.
Notas:
- essa prova foi realizada no sábado, 19 de outubro de 1985;
- como os carros da Williams fazendo 1-2, era a 6ª dobradinha no currículo da equipe na Fórmula 1;
- sem terminar a prova na parte inicial, Michele Alboreto ficava com o vice-campeonato matematicamente, porque Ayrton Senna também tinha abandonado no início da corrida e era o único que lutava com o milanês por essa honrosa colocação;
- pela segunda vez no currículo que os carros da Arrows marcou pontos: 5º Gerhard Berger e 6º Thierry Boutsen e
- essa foi a última vez na temporada de 1985 que os pilotos que terminaram a corrida na pontuação (do 1º até o 6º lugar) estava calçado com a borracha Goodyear.
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