Todos os que pilotaram e participaram algum dia numa competição automobilística, foram homens extraordinários, pois combinar a febre da velocidade com os perigos nela inerentes, não é fácil, e anos antes, era um equilíbrio muito frágil entre a vida e a morte. Mas no meio disso tudo, há homens cuja vida foi de todo extraordinária, do princípio ao fim, em qualquer actividade. E o homem que falo hoje, no dia em que se comemora o décimo aniversário da sua morte, teve uma vida digna de um romance de aventuras, pois não é qualquer um que participa activamente na II Guerra Mundial, como resistente anti-nazi, e que depois de descobrir o automobilismo por acidente, ganha as 24 Horas de Le Mans por quatro vezes, tornando-se no recordista de vitórias da prova, até aparecer outro compatriota seu… hoje é dia de Olivier Gendebien.
Nasceu em Bruxelas a 12 de Janeiro de 1924, no meio de uma família abastada, herdeira do império Solvay. Aos 16 anos, assiste à invasão da Bélgica pelas tropas da Alemanha nazi, e no ano seguinte, entra na Universidade para estudar engenharia. Com o tempo, entra na Resistência, onde os seus conhecimentos de inglês fazem com que trabalhe como elemento de ligação entre os agentes britânicos que caiam de para - quedas na Bélgica, e a resistência local. Algum tempo mais tarde, vendo a sua vida em jogo, foge para Inglaterra, onde se torna ele mesmo um pára-quedista!
No final da guerra, prossegue os estudos, mas desta vez como engenheiro agrónomo. Muda-se para o Congo Belga, mais concretamente para Stanleyville (a actual Lubumbashi), onde conhece um senhor chamado Charles Fraikin. Ele era navegador em provas de longa distância, e precisava de um piloto para as provas de ralies.
Em 1953, regressa à Bélgica, e corre com um Veritas, em Chimay, no Grand Prix des Frontieres, e pouco depois tentava a sua sorte nos ralies, comprando um Jaguar. Mais tarde, mudou-se para um Alfa Romeo, onde ganha o Liege-Roma-Liege, em 1955, ao lado do seu amigo Fraikin, num Mercedes 300 SL. Pouco tempo depois, canmha a Coppa D’Oro del Dolommiti, de novo no Mercedes.
Estas vitórias atraem a atenção de Enzo Ferrari, que o convida para correr na sua equipa de Sport, com umas participações esporádicas na Formula 1. O seu primeiro Grande Prémio acontece na Argentina, em 1956, onde chega em quinto lugar, e consegue dois pontos. Corre mais uma vez em Reims, onde não termina. Entretanto, nos Sport-Protótipos, faz parceria com o francês Maurice Trintignant nas 24 Horas de Le Mans desse ano, ao volante de um Ferrari 625LM Touring, de 2,5 Litros, terminando no terceiro lugar.
No ano seguinte, Gendebien dedica-se exclusivamente aos Sport-Protótipos, onde consegue as suas primeiras grandes vitórias: a Volta à Sicília, a Volta à França em automóvel, e as 12 Horas de Reims. Corre nas 24 Horas de Le Mans, de novo com Maurice Trintignant, mas não passam da volta 129.
Mas as coisas em 1958 são completamente diferentes, pelo menos em Le Mans. Correndo desta vez com o americano Phil Hill, vence a prova pela primeira vez, a bordo de um Ferrari 250TR8, com um avanço de 12 voltas sobre o segundo, o Aston Martin de Graham e Peter Whitehead. Antes de Le Mans, Gendebien tinha conseguido outras importantes vitórias em Sport-Protótipos: os 1000 km de Buenos Aires, em Janeiro, com Wolfgang Von Trips, e depois a Targa Florio, com Luigi Musso. Também ganhou as 12 Horas de Reims, a Volta à França em Automóvel. Correu três provas no campeonato do Mundo de Formula 1, o melhor que conseguiu foi um sexto lugar na Bélgica.
Em 1959, ganha uma terceira vez a Volta à França em automóvel, enquanto que no inicio do ano, ganha as 12 Horas de Sebring, com Dan Gurney e Chuck Daigh ao seu lado. Em Le Mans, de novo com Phil Hill, não chega ao fim. Na Formula 1, alinha em Reims e Monza, conseguindo um quarto lugar na corrida francesa, obtendo três pontos no campeonato.
Contudo, em 1960, não corre pela Ferrari, aceitando um lugar na Yeoman Credit Racing Team, que corria num Cooper de motor traseiro. A sua primeira prova é na Bélgica, onde consegue o terceiro lugar, e repetindo o pódio na corrida seguinte, em França. Esses dez pontos deram-lhe a sexta posição final, na temporada onde mais se dedicou à Formula 1. Mas também se dedicou aos Sport-Protótipos. Com o alemão Hans Hermann, no Porsche inscrito pela equipa de Jo Bonnier, começou o ano a vencer as 12 Horas de Sebring, e em Junho, ganha uma segunda vez as 24 horas de Le Mans, com o seu compatriota Paul Frére, ao volante de um Ferrari 250T.
Em 1961, continua a correr nos Sport-Protótipos, em provas de Endurance. No inicio do ano, vence uma terceira vez as 12 Horas de Sebring, com Phill Hill como companheiro (por causa disso, ele tem uma curva com o seu nome no circuito.), e vence a Targa Florio, com o alemão Wolfgang von Trips a seu lado. Em Le Mans, repete a vitória pela terceira vez, com Phil Hill. Quanto à Formula 1, tem três aparições, das quais resultou num quarto lugar no GP de Bélgica. No final do ano, corre uma última vez em Watkins Glen, com um Lotus-Climax, onde tem um acidente grave, do qual só se safa porque fora projectado para fora…
Em 1962, Gendebien tem 38 anos, e a sua família já pede para que se retire da competição, pois já tinha visto alguns dos seus amigos morrerem, entre os quais Mike Hawthorn, Luigi Musso, Peter Collins e Wolfgang von Trips, todos seus companheiros na Ferrari. Contudo, ainda se decidiu fazer mais uma temporada na Ferrari, dedicando-se exclusivamente às corridas de Endurance. Nesse ano, vence a Targa Florio pela terceira vez, em conjunto com o seu compatriota Willy Mairesse e o mexicano Ricardo Rodriguez, e em Junho, foi a vez das 24 horas de Le Mans, ao lado de Phil Hill. Conseguira uma inédita quarta vitória na história da competição, um recorde que não seria superado por 19 anos, até que outro compatriota, Jacky Ickx, o arrebatasse. Antes da retirada, ainda conseguiu ganhar os 1000 km de Nurburgring, em conjunto com Hill.
A sua carreira na Formula 1: 14 Grandes Prémios, em cinco temporadas (1956, 1958-61), dois pódios, 18 pontos. Vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1958, 1960, 1961 e 1962, vencedor da Targa Florio em 1958, 1961 e 1962 e vencedor das 12 Horas de Sebring em 1959, 1960 e 1961.
O seu estilo de condução foi elogiado por “Il Commendatore” da seguinte maneira: “Ele era um ‘gentleman’ que nunca esquecia a sua condição e que transcrevia isso no seu estilo de condução, elegante e rápido”. Gendebien replicou, explicando o seu segredo era “só fazer as curvas um pouco mais rápido do que os outros”.
Depois do final da sua carreira automobilística, Gendebien dedicou-se aos seus negócios com sucesso, e descobriu outros desportos, no qual praticou com igual prazer, como o esqui, o ténis e a equitação. No final da sua vida, os seus feitos como resistente e como piloto de automóveis foram reconhecidos pelo estado belga, quando o Rei Alberto II o condecorou com a Ordem da Coroa, uma das mais altas condecorações do país. A 2 de Outubro de 1998, morria aos 74 anos na sua casa em Les Baux de Provence, no sul de França, vítima de cancro.
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Olivier_Gendebien
http://www.grandprix.com/gpe/drv-genoli.html
http://thespeedblog.com/racers-past-olivier-gendebien-1924-1998/
Nasceu em Bruxelas a 12 de Janeiro de 1924, no meio de uma família abastada, herdeira do império Solvay. Aos 16 anos, assiste à invasão da Bélgica pelas tropas da Alemanha nazi, e no ano seguinte, entra na Universidade para estudar engenharia. Com o tempo, entra na Resistência, onde os seus conhecimentos de inglês fazem com que trabalhe como elemento de ligação entre os agentes britânicos que caiam de para - quedas na Bélgica, e a resistência local. Algum tempo mais tarde, vendo a sua vida em jogo, foge para Inglaterra, onde se torna ele mesmo um pára-quedista!
No final da guerra, prossegue os estudos, mas desta vez como engenheiro agrónomo. Muda-se para o Congo Belga, mais concretamente para Stanleyville (a actual Lubumbashi), onde conhece um senhor chamado Charles Fraikin. Ele era navegador em provas de longa distância, e precisava de um piloto para as provas de ralies.
Em 1953, regressa à Bélgica, e corre com um Veritas, em Chimay, no Grand Prix des Frontieres, e pouco depois tentava a sua sorte nos ralies, comprando um Jaguar. Mais tarde, mudou-se para um Alfa Romeo, onde ganha o Liege-Roma-Liege, em 1955, ao lado do seu amigo Fraikin, num Mercedes 300 SL. Pouco tempo depois, canmha a Coppa D’Oro del Dolommiti, de novo no Mercedes.
Estas vitórias atraem a atenção de Enzo Ferrari, que o convida para correr na sua equipa de Sport, com umas participações esporádicas na Formula 1. O seu primeiro Grande Prémio acontece na Argentina, em 1956, onde chega em quinto lugar, e consegue dois pontos. Corre mais uma vez em Reims, onde não termina. Entretanto, nos Sport-Protótipos, faz parceria com o francês Maurice Trintignant nas 24 Horas de Le Mans desse ano, ao volante de um Ferrari 625LM Touring, de 2,5 Litros, terminando no terceiro lugar.
No ano seguinte, Gendebien dedica-se exclusivamente aos Sport-Protótipos, onde consegue as suas primeiras grandes vitórias: a Volta à Sicília, a Volta à França em automóvel, e as 12 Horas de Reims. Corre nas 24 Horas de Le Mans, de novo com Maurice Trintignant, mas não passam da volta 129.
Mas as coisas em 1958 são completamente diferentes, pelo menos em Le Mans. Correndo desta vez com o americano Phil Hill, vence a prova pela primeira vez, a bordo de um Ferrari 250TR8, com um avanço de 12 voltas sobre o segundo, o Aston Martin de Graham e Peter Whitehead. Antes de Le Mans, Gendebien tinha conseguido outras importantes vitórias em Sport-Protótipos: os 1000 km de Buenos Aires, em Janeiro, com Wolfgang Von Trips, e depois a Targa Florio, com Luigi Musso. Também ganhou as 12 Horas de Reims, a Volta à França em Automóvel. Correu três provas no campeonato do Mundo de Formula 1, o melhor que conseguiu foi um sexto lugar na Bélgica.
Em 1959, ganha uma terceira vez a Volta à França em automóvel, enquanto que no inicio do ano, ganha as 12 Horas de Sebring, com Dan Gurney e Chuck Daigh ao seu lado. Em Le Mans, de novo com Phil Hill, não chega ao fim. Na Formula 1, alinha em Reims e Monza, conseguindo um quarto lugar na corrida francesa, obtendo três pontos no campeonato.
Contudo, em 1960, não corre pela Ferrari, aceitando um lugar na Yeoman Credit Racing Team, que corria num Cooper de motor traseiro. A sua primeira prova é na Bélgica, onde consegue o terceiro lugar, e repetindo o pódio na corrida seguinte, em França. Esses dez pontos deram-lhe a sexta posição final, na temporada onde mais se dedicou à Formula 1. Mas também se dedicou aos Sport-Protótipos. Com o alemão Hans Hermann, no Porsche inscrito pela equipa de Jo Bonnier, começou o ano a vencer as 12 Horas de Sebring, e em Junho, ganha uma segunda vez as 24 horas de Le Mans, com o seu compatriota Paul Frére, ao volante de um Ferrari 250T.
Em 1961, continua a correr nos Sport-Protótipos, em provas de Endurance. No inicio do ano, vence uma terceira vez as 12 Horas de Sebring, com Phill Hill como companheiro (por causa disso, ele tem uma curva com o seu nome no circuito.), e vence a Targa Florio, com o alemão Wolfgang von Trips a seu lado. Em Le Mans, repete a vitória pela terceira vez, com Phil Hill. Quanto à Formula 1, tem três aparições, das quais resultou num quarto lugar no GP de Bélgica. No final do ano, corre uma última vez em Watkins Glen, com um Lotus-Climax, onde tem um acidente grave, do qual só se safa porque fora projectado para fora…
Em 1962, Gendebien tem 38 anos, e a sua família já pede para que se retire da competição, pois já tinha visto alguns dos seus amigos morrerem, entre os quais Mike Hawthorn, Luigi Musso, Peter Collins e Wolfgang von Trips, todos seus companheiros na Ferrari. Contudo, ainda se decidiu fazer mais uma temporada na Ferrari, dedicando-se exclusivamente às corridas de Endurance. Nesse ano, vence a Targa Florio pela terceira vez, em conjunto com o seu compatriota Willy Mairesse e o mexicano Ricardo Rodriguez, e em Junho, foi a vez das 24 horas de Le Mans, ao lado de Phil Hill. Conseguira uma inédita quarta vitória na história da competição, um recorde que não seria superado por 19 anos, até que outro compatriota, Jacky Ickx, o arrebatasse. Antes da retirada, ainda conseguiu ganhar os 1000 km de Nurburgring, em conjunto com Hill.
A sua carreira na Formula 1: 14 Grandes Prémios, em cinco temporadas (1956, 1958-61), dois pódios, 18 pontos. Vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1958, 1960, 1961 e 1962, vencedor da Targa Florio em 1958, 1961 e 1962 e vencedor das 12 Horas de Sebring em 1959, 1960 e 1961.
O seu estilo de condução foi elogiado por “Il Commendatore” da seguinte maneira: “Ele era um ‘gentleman’ que nunca esquecia a sua condição e que transcrevia isso no seu estilo de condução, elegante e rápido”. Gendebien replicou, explicando o seu segredo era “só fazer as curvas um pouco mais rápido do que os outros”.
Depois do final da sua carreira automobilística, Gendebien dedicou-se aos seus negócios com sucesso, e descobriu outros desportos, no qual praticou com igual prazer, como o esqui, o ténis e a equitação. No final da sua vida, os seus feitos como resistente e como piloto de automóveis foram reconhecidos pelo estado belga, quando o Rei Alberto II o condecorou com a Ordem da Coroa, uma das mais altas condecorações do país. A 2 de Outubro de 1998, morria aos 74 anos na sua casa em Les Baux de Provence, no sul de França, vítima de cancro.
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Olivier_Gendebien
http://www.grandprix.com/gpe/drv-genoli.html
http://thespeedblog.com/racers-past-olivier-gendebien-1924-1998/
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