quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Annus Horribilis": Roland Ratzenberger, Simtek, Imola 1994

Olhem só para a primeira fotografia do post. No momento em que Paul-Henri Cahier disparou o botão, quem poderia imaginar que estaria a captar os últimos sinais de vida de um piloto? É o sinal de um homem determinado a marcar o seu lugar na grelha, pois naquele tempo, havia apenas 26 lugares para trinta carros, e ter um lugar nessa grelha era muito importante para um piloto que tinha comprado o seu lugar por apenas cinco corridas.

Começa a ser difícil contar a história de Roland Ratzenberger sem cair nos lugares comuns. Era um homem determinado a perseguir o seu sonho de ser piloto, pois crescera a admirar Jochen Rindt, como imensa gente na sua geração. Comeu o pão que o Diabo amassou para correr na Formula Ford Britânica, na Formula 3 e na Formula Nippon, onde foi um dos "exilados de luxo" ao lado de Mika Salo, Heinz-Harald Frentzen, Eddie Irvine e o americano Jeff Krosnoff, o unico que não foi para a Formula 1, mas que teve o mesmo fim que Ratzenberger, dois anos depois, em Toronto.

Para poder pagar o dinheiro para essas cinco corridas, vendeu a casa e até o seu amado Carocha amarelo. Mas era uma pessoa feliz e determinada em provar que merecia aquele lugar. Apesar na não-qualificação em Interlagos, conseguiu acabar a corrida de Aida na 11ª posição, a primeira vez que um dos carros de Nick Wirth chegava ao fim. Em Imola procurava a sua segunda qualificação consecutiva, e dava o máximo. Fez as coisas sempre a fundo que chegou a cometer um excesso e danificar a sua asa dianteira. Em vez de ir às boxes, resolveu ir a fundo para tentar fazer uma volta decente. Que terminou na Curva Villeneuve, quando a asa cedeu a mais de 300 km/hora.

A última foto mostra o rescaldo. Faz-me lembrar as fotos que vi depois do acidente de Jochen Rindt, 23 anos antes, a norte dali, em Monza. A recolha dos restos do automóvel, já sem o seu piloto, para as boxes, uma devolução aos legítimos proprietários. Fria e impassional, deverá ter acontecido numa altura que poucos conheciam do resultado final. A fotografia testemunha esse momento, enquanto que os que estavam à volta começavam a tomar consciência das terríveis consequências que aquele choque teve. E também começavam a perceber que aquele fim de semana iria ser diferente do normal. Muito diferente.

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