terça-feira, 21 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 76 - Hockenheim, IV)

Hockenheim, 9 de Agosto de 1970

Tal como tinha acontecido nos últimos dois dias, desde cedo que milhares de pessoas rumavam, vindos dos quatro cantos da Alemanha Ocidental para o circuito de Hockenheim no sentido de arranjar o melhor lugar possivel para poder assistir ao Grande Prémio. À volta do circuito já havia milhares a acampar à volta para gozar o fim de semana, e as coisas até pareciam um pouco controladas, mas no dia previsto, a confusão dobrava, as filas dobravam. Mas era uma confusão ordenada, pois poucos reclamavam e as confusões eram nenhumas. Seria a mentalidade alemã ou será porque todos estavam ali para o mesmo?

À medida que o Stadion enchia e se viam as provas que complementavam o Grande Prémio, o sol subia cada vez mais alto para marcar o meio dia daquele dia absolutamente claro, sem nuvens à volta. Não estava nem calor nem vento, pareciam as condições ideais para um Grande Prémio da Alemanha que graças aos pilotos, era num sitio completamente diferente do habitual.

Uma hora antes da corrida, os vinte pilotos estavam reunidos ao pé do palanque para ouvirem as últimas recomendações do director da corrida de Hockenheim, uma pessoa chamada Gunther Werth. De meia idade e com uma calvivie que tapava com o seu chapéu desportivo branco, com pala, Herr Werth disse o que se passava.

- Caros senhores, sejam bem vindos. É para dizer que o circuito está em boas condições para hoje, e que todas as partes danificadas foram substituidas. Espero que esta tarde nenhum de vocês bata nos rails, que é para não termos de enviar a conta para as vossas equipas ou descontar nos prémios de presença...

Os pilotos riram-se.

- Escuso de dizer quais são as regras. Conhecem as bandeiras e o seu significado, mas quero dizer duas coisas antes de vos dispensar: quando virem as bandeiras azuis, vocês deixarão passar o piloto que estiver atrás de vocês. Não irei tolerar bloqueios de propósito, caso contrário aplicarei a bandeira negra. E também aplicarei a bandeira negra caso algum de vocês ultrapasse outro, cortando as chicanes, compreenderam?

Todos concordaram, abanando a cabeça.

- Alguma coisa que queiram acrescentar, senhores?

Todos ficaram silenciosos.

- Muito bem, senhores. Desejo-vos sorte, nada de batidas e que ganhe o melhor. Muito obrigado.

A reunião acaba e acada um segue para o seu lado.

Passado alguns minutos, os carros começavam a ser levados para a grelha de partida, que nesta corrida seria alinhada dois a dois, colocados de forma diferente. Os dois primeiros qualificados, o britânico Bob Turner e o francês Philippe de Beaufort, conversavam com os seus mecânicos antes de entrarem nos seus carros. Nos cinco minutos que antecederam a largada, sentaram-se, colocaram os seus capacetes e máscaras de protecção, pediram aos seus mecânicos para que colocassem os cintos e esperaram pela hora da corrida, tentando abstrair-se do ambiente à volta. Aos poucos, os outros pilotos faziam o mesmo ritual dos da frente.

Quando dos altifalantes anunciaram que faltava um minuto para o inicio da corrida, os carros foram ligados e sairam da grelha de partida provisória e avançaram alguns metros até à linha de partida. Turner e Beaufort, o veterano e o piloto da moda, alinharam-se lado a lado, esperando que dessem o sinal de partida por parte do comissário Werth, que empunhava uma bandeira alemã. Atrás deles, na segunda fila, Patrick Van Diemen, no seu Ferrari e Pieter Reinherdt, no seu Jordan, esperavam por uma oportunidade para largarem melhor.

Após um compasso de espera tenso em que Werth olha para o relógio, esperando para que os seus ponteiros atinjam o topo da hora. Quando finalmente aconteceu, agitou a bandeira e todos se precipitaram para a primeira curva. Como seria de esperar, Turner e Beaufort foram mais lentos do que Van Diemen e Reinhardt, e especialmente o alemão, que praticamente pulou para o primeiro posto ainda antes de fazer a primeira curva. Beaufort vinha atrás, enquanto que Turner, o "poleman" caia para o quarto lugar, pois também tinha sido surpreendido por Beaufort.

Todos passavam pela primeira curva sem problemas, e aceleraram até à floresta, sempre em alta velocidade, com as rotações ao máximo e em fila indiana. Reinhardt, no seu Jordan negro e dourado, conseguira uma vantagem importante de dois carros, enquanto que Van Diemen já era assediado pelo Matra azul do lider do campeonato, seguido pelo BRM de Turner, que por sua vez era assediado pelos carros verde e branco de Alexandre de Monforte e Teddy Solana, que conseguira superar o Jordan negro e dourado do jovem Antti Kalhola.

Beaufort tentou passar Van Diemen após a primeira chicane, e colocou-se lado a lado quando chegaram à Ostkurwe, mas os seus intentos foram frustrados quando se aproximaram da segunda chicane, em que teve de dar espaço para o belga travar. Isso fez com que Turner, proximo dele, aproveitasse para se encostar e tentar ultrapassar à saida. A tentativa foi feita e o veterano teve potência suficiente no seu BRM para conseguir levar os seus intentos adiante à entrada do Staduim, ficando com o terceiro posto.

Na frente, Reinhardt já tinha um avanço medido a olho nu em seis carros quando cruzou a meta a caminho da segunda volta. Um avanço algo inesperado num carro movido a V8, contra os V12 dos outros. Van Diemen tentava o apanhar, fazendo as curvas de forma mais ousada, tentando aproveitar toda a pista possivel. A seguir, Beaufort e Turner continuavam a ameaçar um ao outro, tentando passar um ao outro sempre que possivel.

Atrás deles, com um fosso a começar a ser cavado, os Apollo seguiam a liderar um segundo grupo, que tinha o Jordan de Kalhola e o segundo Matra de Carpentier, que tinham também cavado um pequeno fosso para o Temple-Jordan de Manfredc Linzmayer, que tentava desesperadamente manter o nono posto frente ao BRM de Gustafsson, o Ferrari de Bernardini, o McLaren de Revson e o segundo Temple-Jordan de Hocking.

As coisas ficaram assim nas primeiras seis voltas, até que no dinal dessa volta, na zona do Stadium, o BRM de Turner, que seguia no terceiro lugar, à frente de Beaufort, começou a deitar pequenos sinais de fumo vindos da traseira. A seguir, após colocar nova marcha, começou a andar mais lento, quase surpreendendo o Matra do francês. Poucos metros depois, encostou às boxes, parou o carro, envolto numa enorme nuvem de fumo e dela, saia de forma calma, sem pánico visivel. Saiu, viu os mecânicos a tentarem apagar o fogo e encolheu os ombros, antes de tirar o capacete e a máscara que o protegia. A sua corrida, que prometia, acabava ali.

Quando se preparava para se recolher às boxes, nos altifalantes surgiu um anuncio que surprrendeu tudo e todos: "Atenção, minhas senhoras e meus senhores: o carro numero dez, do piloto Pieter Reinhardt, está a caminhar de modo lento na pista. Vai haver troca de liderança para o Ferrari do piloto Patrick Van Diemen, da Belgica". Ouviu se um bruáá vindo das bancadas cheias de pessoas, espantadas com tal anuncio.

E menos de um minuto depois, o Ferrari vermelho com um enorme numero 17 na sua lateral, passava na frente do Matra azul numero 4 de Philippe de Beaufort, que tinham já cavado uma diferença significativa sobre agora os dois carros verdes e brancos da Apollo, com os numeros 7 e 8, e o Jordan negro e dourado numero 12 de Kalhola, que já se afastavam do outro Matra azul de Gilles Carpentier.

A luta continuava, desta vez era azul contra vermelho, com mais dois carros verdes e um negro/dourado e outro azul um pouco atrás.

(continua)

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