Recebi este final de semana uma noticia perturbadora. Um amigo meu, o João Quesado, disse-me que muito provavelmente o documentário "Senna" não iria passar nas salas de cinema portuguesas, alegando "falta de interesse". Os direitos do filme tinham sido comprados por uma das maiores distribuidoras desta rectângulo, a Zon Lusomundo, e acha que deve ser melhor colocar isto logo em DVD ou meter num dos seus canais "premium" no qual toda e qualquer pessoa que tenha TV Cabo, paga ainda mais um extra - para além do que já paga para ter - para ver filmes de primeira ou desporto.
Caso isso seja verdade, ficaria desgostoso que tal aconteça. Por um lado, estamos a falar da "ganância" de uma distribuidora, que comprou os direitos esse filme por comprar, e acha que não vai ter o mesmo impacto que uma tretalhada qualquer da Marvel ou o último filme do Harry Potter. Bem sei que é um documentário, e não se deve confundir ambos os géneros, mas estamos a falar de um filme que na Grã-Bretanha, por exemplo, se tornou num fenómeno tal que a distribuidora local teve de marcar quase o dobro das salas de cinema previstas, tal foi a procura pelo filme. E por causa disso, tornou-se no documentário mais visto de sempre nas Ilhas Britânicas, ou seja, mais visto do que "Uma Verdade Inconveniente", do Al Gore, por exemplo.
Outra razão pelo qual sinto desgosto por isso não acontecer é que se perde a hipótese de mostrar a relação que Ayrton Senna teve com este pais. Falamos de uma pessoa que ganhou pela primeira vez no Autódromo do Estoril, numa épica corrida à chuva, no dia 21 de abril de 1985, dia de Tiradentes e o dia em que Tancredo Neves saiu da vida para passar à História. Falamos também do sítio onde ele tinha uma casa - na Quinta do Lago - e dos portugueses no qual teve uma relação de amizade ou profissão, como o Domingos Piedade, por exemplo. Os britânicos fizeram várias sessões especiais, em cinemas londrinos, onde convidaram o máximo de pessoas que conheceram ou entrevistaram Senna, como o James Allen ou o Martin Brundle. E apresentaram o piloto a uma nova geração.
E há uma terceira razão para este meu desgosto. Os "petrolheads" deste pais bem poderiam fazer "lobbying" para a Zon, mandando resmas de mensagens perguntando a razão porque preferem meter este filme diretamente para DVD, ou então organizando-se para fazer, no mínimo duas sessões, uma em Lisboa e outra no Porto, e convidassem nessas duas cidades, personalidades que conviveram com Senna para partilharem experiências e histórias sobre o tricampeão do mundo. Parece que neste pais, andam todos anestesiados. Mas também, se nada fizeram para evitar que as transmissões da Formula 1 abandonassem a RTP, serviço público e de canal aberto, para um canal especializado e de sinal fechado, provavelmente merecemos esta indiferença e inabilitação para nos mobilizarmos.
Uma coisa digo eu: perde-se uma oportunidade de ouro para mostrarmos Senna e a Formula 1 a uma nova geração. Depois não se queixem que desporto neste país é só futebol...
P.S: O João mandou-me o endereço de e-mail de um dos responsáveis da Zon Lusomundo (nuno.j.goncalves@zon-lusomundo.pt) e ele acha que as pessoas deveriam mandar algumas centenas de mansagens para saber se poderiamos convencer a distribuidora a reverter a sua decisão colocar o filme nas salas portuguesas. Como nem todos acham que isto é uma "caça aos gambozinos", quem quiser demonstrar a sua revolta ou protesto e convencê-los do contrário, eis este endereço.
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