Não gosto de votações. Acho que elas, de uma certa maneira, são como o sexo dos anjos: cada um tem a sua opinião e as discussões para o justificar porque A é melhor do que B fazem mais mal do que bem. Contudo, para mim, ao ver esta fotografia, escolhi "de caras" quem é o meu "Piloto do Ano" no automobilismo. Para o mal e para o bem.
Ele não vai ter mais essa chance para este lugar, porque está morto há dois meses. Vimos ele a correr, a máxima velocidade, a caminho de um improvável prémio de cinco milhões de dólares, numa oval demasiado veloz para tantos carros, como Las Vegas. "Viajamos" no seu carro até quase aos últimos três segundos da sua vida, quando o realizador, por instinto, fez um plano geral para que pudessemos ver, de uma forma voyeuristicamente macabra, a tragédia a acontecer à frente dos nossos olhos. Alguns milhões de pessoas, nos Estados Unidos e no resto do mundo, viram a vida de Dan Wheldon acabar aos 33 anos de idade.
Qualquer piloto que pague o preço mais alto a fazer que gosto ganha automáticamente uma aura de santidade em nós, "petrolheads". Todos os seus defeitos são eliminados, e as suas dificuldades são consideradas como uma espécie de "medalha de honra" para os momentos gloriosos que essa pessoa teve. E no caso de Wheldon, o ano de 2011 foi também aquele em que conseguiu o maior dos prémios: vencer as 500 Milhas de Indianápolis.
E caramba... como ele comemorou essa vitória! Havia uma boa razão para isso: Wheldon não tinha conseguido um lugar no pelotão da Indy para a temporada de 2011. Para alguém que tinha vencido em 2005 o título da Indy, era de uma tremenda injustiça ver os outros a correr, enquanto que ele ficava nas boxes ou na bancada. Teve a chance da Indy, e depois disso, foi testar o carro da categoria para 2012, com esperança de alcançar um lugar no pelotão. Ia alcançar esse objetivo, pois a Andretti iria contratá-lo para o lugar de Danica Patrick, que vai para a NASCAR. A IndyCar e a Dallara não o esqueceram e ele será homenageado com as suas iniciais no bólido.
Quando ele partiu para correr a prova de Las Vegas, sabiamos que aquela era uma prova condenada ao fracasso desde o inicio. Era uma disputa louca por cinco milhões de dólares ao piloto vindo do exterior, que fosse capaz de bater os pilotos establecidos. Convidaram pessoas desde Kimi Raikkonen e Petter Solberg, passando pelo Alex Zanardi e Jacques Villeneuve. todos recusaram, uns por desinteresse, outros porque acharam aquilo uma loucura. Villeneuve filho criticou - antes e depois da corrida - que aquilo era tudo uma loucura. Parecia que tinha razão, porque afinal de contas, o unico que aceitou, e foi aceite pela organização, foi o britânico. A carambola e as suas consequências trágicas foi apenas uma arrepiante cereja em cima do bolo de algo que tinha começado errado.
E agora, por causa disto, as ovais serão muito poucas em 2012. Tirando Indianápolis, só ficam Texas, Fontana e Iowa. Não ficaria admirado se num futuro mais próximo, a Brickyard seja a ultima resistente, qual "aldeia gaulesa" que resiste sempre ao invasor romano. Mas nisso, Dan Wheldon não tem culpa nenhuma. Ele apenas queria correr porque isso fazia parte do seu sangue.
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