quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A chegada de Bruno Senna à Williams, visto pelo jornal i

Sempre vale a pena ler o que é que a imprensa dita generalista fala, pelo menos no meu canto do mundo, sobre as movimentações nos bastidores da Formula 1. E claro, ninguém ficou indiferente ao anuncio de Bruno Senna na Williams, deixando de fora Rubens Barrichello, que tinha sido piloto da marca nas últimas duas temporadas. a edição do jornal português i desta quarta-feira fala sobre o anuncio, o processo de seleção de Bruno, de Eike Batista e de uma frase do tio Ayrton, que virou "mantra" para muitos. 

BRUNO SENNA. DEZOITO ANOS E 14 MILHÕES DE EUROS PARA CHEGAR AO ÚLTIMO CARRO DO TIO

Por Rui Catalão, publicado em 18 Jan 2012 - 03:10 | Actualizado há 23 horas 10 minutos 

Ayrton conduzia um Williams quando morreu, em 1994. O sobrinho vai ser piloto da equipa britânica graças a três patrocinadores de peso: OGX, Embratel e Gillette 

Quando deixou a McLaren, em 1993, Ayrton Senna lançou o aviso: “Se acham que sou rápido, esperem até verem o meu sobrinho Bruno.” Nessa altura, o tricampeão do mundo ia para a Williams, onde viria a conseguir três pole positions antes de morrer, no GP de San Marino – a terceira prova de 1994. Agora, 18 anos mais tarde, a equipa britânica vai ser a terceira de Bruno Senna na Fórmula 1 – depois de uma época na HRT (2010) e 11 corridas na Lotus Renault (2011).

A escolha do piloto brasileiro só se tornou possível com o apoio financeiro de três grandes empresas, que no total vão investir 14 milhões de euros para garantir o lugar de Senna. O principal patrocinador é a OGX, segunda maior empresa de petróleo e gás natural do Brasil (logo atrás da Petrobrás), que ainda ontem anunciou a descoberta de 2 mil milhões de barris na bacia de Santos. A OGX pertence a Eike Batista, o oitavo homem mais rico do mundo – tem uma fortuna avaliada em 23,4 mil milhões de euros – e um dos mecenas da candidatura do Rio de Janeiro à organização dos Jogos Olímpicos de 2016. 

Nas entrevistas é comum ouvir Eike dizer que em breve vai ultrapassar o mexicano Carlos Slim na lista dos maiores multimilionários do planeta. Ora Slim também está envolvido no financiamento da carreira de Senna, embora de forma mais indirecta, através da Embratel, operadora brasileira de telecomunicações, que pertence à gigante Telmex – de onde vem parte da riqueza do mexicano de 71 anos. 

Na verdade, ambas as empresas já tinham estado envolvidas no apoio à passagem de Senna pela Renault – o patrocínio da Embratel até começou há mais tempo, em 2006, quando o piloto estava na Fórmula 3. A Gillette também vem da época passada, mas assume agora um destaque maior na F1. 

O anúncio oficial da contratação de Senna aconteceu na manhã de ontem, já o perfil do brasileiro estava disponível (embora escondido) no site oficial da Williams. Fica assim completa a dupla da equipa para 2012, com Pastor Maldonado a manter o lugar que já ocupava na última temporada. Tal como Senna, a presença do venezuelano na F1 depende acima de tudo da força dos patrocinadores. Ou seja, na dúvida entre o talento e as finanças, o dinheiro desempata. 

Por um lado, a Williams fica mais descansada com o equilíbrio das contas. Por outro, alimenta as dúvidas quanto à capacidade de melhorar o desempenho em pista – 2011 foi a pior época da história da equipa, que somou apenas cinco pontos em 19 corridas. Maldonado começa agora a segunda época na F1; Senna tem pouco mais de ano e meio. Há um longo caminho pela frente, sobretudo sabendo-se que a escuderia britânica mudou de fabricante de motor (voltou à Renault ao fim de dois anos com a Cosworth), bem como de director técnico, chefe de aerodinâmica e engenheiro-chefe. 

Senna, que já vinha a ser sondado e avaliado desde o GP do Japão, em Outubro, fará os primeiros quilómetros com a Williams a 8 de Fevereiro, em Jerez de la Frontera, na primeira sessão de testes da temporada. E isso significa que, à partida, Rubens Barrichello não estará lá. A opção pelo compatriota deixou o piloto mais experiente da Fórmula 1 sem um lugar na grelha para 2012. Barrichello correu pela Williams nas duas últimas épocas e também estava, a par do alemão Adrian Sutil, entre as opções para o carro agora entregue a Senna. No fim, ambos acabaram excluídos pela força do dinheiro. 

Amigo de longa data da família Senna, Barrichello fica agora com duas alternativas: acabar a carreira, 19 anos depois do primeiro grande prémio, ou ficar com a única vaga por preencher no pelotão – na modesta HRT. Mas nem aí haverá grandes hipóteses para o veterano. A equipa de Adrián Campos quer um piloto jovem, de preferência espanhol, para preparar o futuro e formar dupla com Pedro de la Rosa, que em Fevereiro faz 41 anos.

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