segunda-feira, 2 de abril de 2012

Os 86 anos de "Black Jack" Brabham

A venezuelana mais brasileira que conheço, a Serena, lembrou-me via Twitter que hoje é o dia de anos de Jack Brabham, "Black Jack" para os amigos. Completando o seu 86º aniversário, com uma degenerescência macular que o impede de conduzir - suprema ironia - quase surdo e fragilizado dos seus rins, que o obriga a fazer diálise três vezes por semana, ele está no crepúsculo de uma vida que pode ser considerada como boa. 

É um sobrevivente, um dos raros que puderam sair da sua (longa) carreira pelo seu próprio pé, como Juan Manuel Fangio ou Stirling Moss. E o mais velho campeão do mundo ainda vivo, uma pessoa que deve ser admirada, pelo raro fato de ter sido um piloto completo. Excelente a guiar, primeiro na Cooper, depois no seu próprio carro, depois quando construiu os seus carros para a Formula Junior, Formula 2 e Formula 1, com a ajuda de Ron Tauranac, dando origem à Motor Racing Developments, em 1961. As iniciais "BT" são o resultado dessa parceria Brabham-Tauranac.

Corre a lenda que quando constituiu a sua empresa, Jack Brabham não queria dar o seu nome aos carros que iriam fabricar, simplesmente as iniciais MRD. Quando Rob Walker, dono da equipa privada mais famosa da Formula 1, e que lhe comprou muitos chassis para Jo Bonnier e Jo Siffert, entre outros, lhe lembrou a Brabham e Tauranac que essa sigla em francês significava... publicidade indesejada, Brabham cedeu.

Os feitos de Brabham inspiraram muitos dos seus colegas a fazerem o mesmo. Dois seus ex-companheiros de equipa, Bruce McLaren e Dan Gurney, aprenderam muito com Jack Brabham e depois partiram e fizeram as suas equipas. Brabham e McLaren eram grandes amigos, que se conheciam dos tempos da Nova Zelândia, em meados dos anos 50, quando Brabham correu lá e viu os feitos de McLaren, então com 19 anos. Foi a convite dele que McLaren se aventurou na Europa e teve o sucesso que conhecemos. E Brabham sentiu profundamente a sua perda, a 2 de junho de 1970, no circuito de Goodwood, quando testava o seu modelo M8D de Can Am.

Quanto a Dan Gurney, Brabham pensou seriamente em retirar-se em 1965, e dar a Gurney o estatuto de primeiro piloto, para que pudesse atacar o título mundial. Dennis Hulme era apenas um mero "rookie" nesse ano, e esperava também boas coisas do "Bear", mas só dali a uns anos, como veio a acontecer. Contudo, a meio desse ano, Gurney lhe disse que tinha outros planos, e isso se chamava "All American Racers". Desiludido, aceitou a decisão do amigo, mas isso deu-lhe a sua segunda vida na Formula 1. Em 1966, aos 40 anos, venceu cinco corridas e foi campeão do mundo pela terceira vez. Gurney conseguiu o que queria no ano seguinte, vencendo uma corrida com o seu belíssimo Eagle. Mas disse depois que se sentia arrependido por ter trocado a Brabham pela sua aventura, pois sabia que tinha perdido a chance de ser campeão.

Pouca gente sabe o que Brabham fez após 1970, quando vendeu a sua parte na equipa e rumou à Austrália. Foi um dos fundadores da Ralt, uma construtora de chassis na Formula 3 e Formula 2, e depois Formula 3000, ajudou um jovem John Judd, que o conhecera em 1966 na Repco - tinha Judd apenas 20 anos -, a desenvolver a sua lendaria preparadora e ajudou depois nas carreiras de Geoff Brabham - bem sucedido nos Estados Unidos - Gary e por fim, David Brabham. Este regressou à equipa que tinha o nome do seu pai em 1990, na Formula 1, sem grandes resultados e sem a capacidade de o poder salvar da decadência. Mas David teve um enorme sucesso na Endurance, acabando por vencer em Sebring e Le Mans. 

E o reconhecimento do seu país pelos seus feitos veio muito a tempo, quando em 1978 o governo australiano recomendou à rainha de Inglaterra que o atribuíssem o título de Cavaleiro. A rainha concordou e ele tornou-se no primeiro piloto de Formula 1 a ser tratado por "Sir".

"Black Jack" hoje em dia, ainda tem motivos de orgulho. É que um dos seus netos, Matthew, filho de Geoff, está a seguir os passos no automobilismo. Cresceu nos Estados Unidos, foi um dos campeões de kart na Austrália, antes de atravessar o Pacífico e subir as escadas da Indy, a caminho de, provavelmente, escrever novas páginas dessa dinastia australiana no automobilismo mundial.

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