Qualquer pessoa que faz algo pela primeira vez, que realiza um sonho da Humanidade, torna-se automaticamente o nosso herói. Mesmo que depois faça coisas infames, ou depois se torne numa pessoa reclusiva, como foi o caso de Neil Armstrong. O primeiro homem a pisar a superfície de outro corpo celestial, no já distante ano de 1969, mais concretamente a 20 de julho, morreu esta noite aos 82 anos. Estava doente há algum tempo, tendo sido operado no inicio do mês para um "bypass" coronário.
Neil Alden Armstrong nasceu a 5 de agosto de 1930 num sitio chamado Wapakoneta, no estado do Ohio. Apaixonado pela aviação, voou na Guerra da Coreia e depois se tornou piloto de testes, nomeadamente o X-15, o primeiro avião a passar a atmosfera. Em 1958, é criada a NASA, como reação ao lançamento do primeiro foguetão para o Espaço por parte dos soviéticos, o Sputnik. Curiosamente, Armstrong não foi um dos sete primeiros astronautas escolhidos para o programa Mercury e Gemini, retratados anos depois por Tom Wolf no livro "The Right Stuff", que depois virou filme: Alan Shepard, John Glen, Scott Carpenter, Walter Schirra, Gus Grissom, Gordon Cooper e Deke Slayton. Destes, apenas Glen - fez agora 91 anos - e Carpenter estão atualmente vivos.
Entrou no programa na segunda leva, em 1962. A sua primeira missão foi o Gemini 8, em 1966, e aos poucos participou no passo seguinte, que foi a missão Apollo, que consistia em colocar um ser humano noutro corpo celestial, a Lua. Logo em 1967 soube que iria comandar a missão Apollo 11, desconhecendo-se ainda se esse seria a tal que pousaria na Lua.
Nessa altura, houve um episódio que marcou a sua aptidão para a liderança: em 1966, durante os testes de ensaio para a aterragem e descolagem do módulo lunar, houve uma avaria a poucos metros do solo. Armstrong, na sua calma, tentou controlar o módulo até quase ao último momento, antes de se ejectar, deixando o módulo estatelar-se e explodir no solo. Isso foi um dos motivos pelo qual ele foi escolhido para ser o comandante de missão: pela sua calma e sangue frio.
Em abril de 1969, a NASA anunciou a Apollo 11 e o resto do mundo ficou a saber que aquela iria ser a tripulação que iria fazer a primeira aterragem na Lua: Neil Arnstrong, o comandante, "Buzz" Aldrin, o piloto, e Michael Collins, que ficaria no Módulo de Comando e iria orbitar à volta da Lua. Tudo iria começar dali a três meses, a 16 de julho e se tudo corresse bem, iriam pousar no dia 20.
Para a história, tudo correu bem, mas quando se ouve da boca dos astronautas, parece que foi mais um milagre. Quando se ouve que Armstrong esteve a menos de dez segundos de ficar sem gasolina no momento da aterragem do "Eagle" na Lua, antes de poder dizer "A Águia alunou". Aliás, a resposta a essa frase foi: "Rapazes, algum do pessoal aqui em Houston já começava a ficar azul de tanto suster a respiração". Para terem uma ideia de que até que ponto estiveram perto do desastre.
O resto é história. Ninguém se esquecerá das palavras dele: "Um pequeno passo para o Homem, um salto de gigante para a Humanidade". Aliás, será sempre recordado por essa frase, e pelo facto de ter feito sonhar gerações inteiras. Afinal de contas, ele é o homem que realizou um dos mais velhos sonhos da Humanidade: pisar outro corpo celestial.
Mas o que ele não esperava era a reação que isso iria causar. Multidões estavam à espera deles quando chegaram à Terra. Tiveram um acolhimento de heróis, algo do qual não estavam muito preparados para isso. Foram recebidos um pouco por todo o mundo durante 45 dias, deram milhares de autógrafos, numa tourneé digna das grandes estrelas "rock". Isso foi demais para o calmo e timido Armstrong. De facto, podia ser calmo e frio em situação de limite, mas era tímido e reclusivo no dia-a-dia. Reformou-se da NASA em 1971 e tornou-se professor de Engenharia Aeroespacial na Universidade de Cincinati, na sua Ohio natal durante oito anos.
Anos depois, voltou a estar na ribalta quando fez parte da comissão de inquérito para o desastre do Challenger, em 1986, liderada pelo antigo secretário de estado William P. Rogers sobre os motivos do desastre, ocorrido a 28 de janeiro daquele ano. Ele, Rogers, Chuck Yeager (o primeiro homem a passar a barreira do som e nunca foi astronauta), Sally Ride, que em 1983 se tinha tornado na primeira mulher astronauta (e que morreu no mês passado, aos 61 anos) e o professor Richard Feynman descobriram que o Challenger explodiu devido às deficiências no sistema de foguetões que propulsionava o vaivém especial, algo que tinha havido avisos, logo, poderia ter sido evitado.
Depois disso, desapareceu de cena. Não dava autógrafos desde 1994, as suas aparições eram raras e as suas declarações também. Aparecia sempre que a NASA comemorava qualquer aniversário da Apollo 11, como foi em 2009, quando chegaram aos 40 anos da alunagem. E no ano seguinte, quando o Space Shuttle se retirou de vez depois de quase 30 anos de bons serviços, criticou a administração Obama pelo facto da NASA não ter quaisquer objetivos para alcançar nos próximos anos ou décadas, como o regresso à Lua ou a ida a Marte.
Agora, aos 82 anos de idade, partiu definitivamente para as estrelas, provavelmente para provavelmente o lugar onde queria estar. O homem foi-se, fica a humanidade. Ars lunga, vita brevis.
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