terça-feira, 21 de agosto de 2012

O dia em que Ayrton Senna assinou pela Ferrari

Hoje fui surpreendido com um post no Facebook do desenhador e "amigo virtual" Ricardo Santos. Ele trabalha na revista Turbo, e decidiu "antecipar" a edição de setembro, colocando uma matéria sobre "O Dia em que Ayrton Senna Assinou pela Ferrari", onde Cesare Fiorio, ex-diretor da Lancia, tinha conseguido em meados de 1990 que o piloto brasileiro assinasse - ou pelo menos desse o aval a um pré-acordo - com a casa de Maranello. E a ideia era de ficar ao lado de Alain Prost, na reedição do duelo explosivo com o piloto francês na McLaren, a partir da temporada de 1991.

Sempre ouvi isso como um rumor plausível, mas como sabem, nunca concretizado. Mas que sempre houve tentativas até ao fim da sua carreira, houve. E Senna nunca escondeu que o sonho seria fechar a sua carreira automobilística ao serviço da Scuderia, provavelmente antes de Rubens Barrichello e Felipe Massa. Assim sendo, eis alguns extratos da matéria que aí vêm, assinado pelo jornalista André Bettencourt Rodrigues:

"Às 9h50 dessa manhã [do GP de França de 1990] duas páginas saem do fax de Cesare Fiorio. Vão direitinhas para o caixote do lixo sem que ninguém desse por elas. A letra é irregular, digna de um filme de espionagem, mas contêm um dado muito importante: a assinatura de Ayrton Senna por baixo. 'Essas páginas foram tudo o que levei quando saí da Ferrari', diz o italiano, numa entrevista à Sport Auto, em 2007."

Cesare Fiorio, para quem não sabe, construiu a sua carreira na Lancia, onde foi o diretor desportivo da marca no Mundial de Ralis, quando eles dominaram as coisas na segunda metade da década de 80, vencendo quatro titulos mundiais de Construtores consecutivos. De personalidade forte e carismática, a Ferrari julgava que era a personalidade ideal para levar a Scuderia de volta ao topo, agora que se sentia orfão do Commendatore, morto em 1988, aos 90 anos.

Fiorio é bom naquilo que faz e a Ferrari tem um trunfo que os pode colocar no topo: a caixa de velocidades semi-automática, que vinha a desenvolver desde 1989 e que, por fim, passadas as constantes quebras, era uma máquina vencedora. E o ambicioso Fiorio achou que era a altura de fazer uma equipa de estrelas e de fazer voltar os títulos à Scuderia, após dez anos de ausência.

"Fiorio falou com Pietro Fusaro, presidente da Ferrari à época, e conseguiu o aval e o orçamento para formar uma equipa de somnho em Maranello: 'Aproximei-me de Ayrton em maio, durante o GP do Mónaco de 1989, ainda antes de falar com Prost. Apesar de interessado, ele não tinha muitas razões para deixar a McLaren antes do final do contrato, que terminava em dezembro de 1990'.

Os contactos prolongam-se no inicio de 1990, após a primeira corrida da temporada, em Interlagos. [na realidade, foi em Phoenix] O pai Milton e a irmã Viviane estão a par de tudo, mas Senna não dá o aval definitivo. Poucos meses depois, antes do GP de França, encontram-se novamente no Mónaco. Tudo parecia encaminhado. 'Estávamos de acordo em quase tudo. A Philippe Morris não tinha qualquer problema em acolher e a Nacional, o patrocinador pessoal de Ayrton, e ele estava descansado quanto aos aspectos essenciais na organização da equipa. Ter Prost como companheiro não representava qualquer problema'."

Até a este ponto, acho pouco crível em saber como é que as negociações avançaram assim tanto sem que Alain Prost soubesse do que se passava. Na realidade, ele não soube de nada. E provavelmente Senna queria ver até que ponto é que eles eram capazes de ir, se iriam permitir que os dois pilotos se voltassem a reunir, para repetir noutro lado os eventos de 1989 que culminaram na primeira batida de Suzuka. E o negócio começou a ir abaixo na semana a seguir ao GP da Grã-Bretanha, em Silverstone, quando Prost vence pela terceira vez consecutiva, ficando com a liderança do campeonato.

"'Prost assume a liderança do campeonato e é aí que as coisas se complicam', revela, com Pietro Fusaro a assumir que os problemas da equipa estão resolvidos e que não precisa de Senna para nada. 'Ele colocou-me contra Alain, contando-me das negociações com Ayrton'. O francês sentiu-se traído e instalou-se um clima de hostilidade entre ambos, enquanto Fusaro pedia a Fiorio para suspender tudo: 'Senti-me um imbecil. Como iria explicar tudo a Ayrton?'  

O resto é história: acontece o segundo incidente de Suzuka e Prost, politico e manipulador, no sentido de ter a equipa a seu favor, conseguiu ter Fusaro a seu lado e após a frustração do final do Mundial de 1990 e das quatro vitórias consecutivas do inicio de 1991, aliado às dificuldades de desenvolvimento do projeto 642, consegue que Fiorio seja despedido. Parecia que o piloto francês tinha levado a melhor, mas foi uma vitória transitória: no final do GP do Japão desse ano, após ter tido problemas de dirigibilidade, afirmou que "parecia estar a dirigir um camião". Foi a gota de água, e a Ferrari despediu sumáriamente o piloto francês.

1 comentário:

Ron Groo disse...

É uma grande história, mas algo parece fora de lugar.
Sei lá...