No dia do aniversário de Dan Gurney, temos de dizer que o piloto americano sempre teve uma carreira eclética, quer nos Estados Unidos, quer na Europa. Correu em Sebring, Daytona e Indianápolis, mas também correu na Targa Flório e em Le Mans. O circuito de Riverside sempre foi a sua casa, chegando a vencer ali cinco corridas na NASCAR (sobre isso falarei mais tarde). Mas hoje falo sobre um momento único na história do automobilismo, e de como começou uma tradição que se comemora hoje em dia em todos os circuitos do mundo... e não só.
Em 1967, Gurney estava num dos carros da Ford, ao lado do seu compatriota A.J. Foyt, para ver se ganhava as 24 Horas de Le Mans a bordo dos GT40. A batalha com Henry Ford II para bater os Ferrari tinha sido ganha no ano anterior, com os neozelandeses Bruce McLaren e Chris Amon a bordo, mas nesse ano, eles queriam alargar esse domínio, mostrar que aquilo não tinha sido obra do acaso.
Naquele ano, Gurney e Foyt eram os pilotos que todos falavam. Não só por causa de serem americanos, ou que eram os mais famosos do seu tempo, mas por causa de certos detalhes. Gurney era demasiado alto para caber naquele carro (os 40 eram as polegadas do solo até ao teto) e a Ford teve de arranjar uma bossa para que o seu capacete coubesse naquele carro. Como sempre, o carro modificado ficou com o seu nome, o "Gurney bump".
Já Foyt, um texano no seu melhor, odiou Le Mans e disse-o em termos ofensivos para os orgulhosos franceses. Que, claro, não gostaram. Para piorar as coisas, ambos eram grandes rivais na pista, e os comentadores afirmavam que eles não chegariam ao fim, pois nas suas tentativas de quererem superar-se um ao outro, iriam destruir o carro.
Mas queixumes e rivalidades à parte, ambos guiaram muito bem. Numa prova marcada pela chuva, tomaram o comando da corrida ao fim de hora e meia, evitaram as armadilhas, e acabaram por vencer, batendo os outros carros da Ford e os Ferrari 330P4 de Mike Parkes e Ludovico Scarfiotti, por quatro voltas. Henry Ford (e Carrol Shelby) conseguiram o seu sonho: vencer em Le Mans com um carro americano, com motor americano, guiado por pilotos americanos, os melhores do seu tempo.
No pódio, Gurney, cansado, viu todos os membros da Ford a aplaudir aquilo que ambos fizeram. Pegando na garrafa de champanhe oferecida aos pilotos (uma tradição que remonta ao inicio do automobilismo, em França), ele em vez de o beber, decidiu verter na direção deles, começando uma tradição que ficou até aos dias de hoje. Depois, autografou a garrafa e deu ao fotógrafo da "Life", Flip Schulke, que ficou com ele durante muitos anos, até devolver ao piloto.
Uma semana depois, Gurney vencia em Spa-Francochamps e acrescentava mais uma página de ouro à sua carreira.
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