sábado, 16 de abril de 2016

A imagem do dia

No final de 1968, Dan Gurney fechara as operações da Eagle na Europa e concentrou-se nos Estados Unidos, quer a correr na USAC, quer na Can-Am. Gurney corria em Indianápolis desde 1962, sempre com algum sucesso, ou nem tanto. Contudo, nesse ano de 68, o californiano começava a aproximar-se dos lugares da frente graças ao seu carro desenhado para as corridas americanas. Apesar de ter sido sétimo no campeonato USAC, com três vitórias, foi segundo nas 500 Milhas de Indianápolis, batido apenas por Bobby Unser, que iria ser campeão nesse ano. 

No ano seguinte, Gurney dedicou-se ao campeonato americano por completo, com corridas também na Can-Am. Apenas participou em metade das corridas dessa temporada, e acabou no quarto posto do campeonato. Poderia até ter sido vice-campeão, se o semi-eixo do seu Eagle não tivesse quebrado a três voltas do fim na sua pista favorita, Riverside, e entregue a vitória a Mário Andretti.

A 2 de junho de 1970, Bruce McLaren testa um modelo M8D de Can-Am em Goodwood, no sul da Grã-Bretanha, quando sofre um despista fatal. Dan Gurney estava em Indianápolis quando soube da noticia, e a McLaren lhe pediu para que o substituisse na sua equipa da Can-Am, e também na Formula 1. Aos 40 anos de idade, o americano estava de volta às pistas europeias, cobrando um favor ao falecido amigo. Ele, que três anos antes, lhe tinha dado abrigo enquanto que os seus carros não melhoravam.

Gurney venceu na primeira corrida da Can-Am, em Mosport, ao lado de Peter Revson e Denny Hulme, apesar do neozelandês ainda estar a recuperar das queimaduras nas mãos sofridas durante a qualificação para as 500 Milhas de Indianápolis. Pouco depois, estava na Europa para disputar o GP da Holanda, em Zandvoort. Tyler Alexander, um dos fundadores da equipa, conta que num jantar, Gurney começou a contar todos os amigos que tinha perdido ao longo dos quase 15 anos de carreira no automobilismo. Ao vê-lo a contabilizar e a chegar às dezenas, Alexander suspeitou que ele queria passar a mensagem de que em breve, iria pendurar o capacete.

No dia a seguir, Gurney passou pelos restos carbonizados do De Tomaso de Piers Courage e deverá ter tomado a decisão de pendurar de vez o capacete. Na Formula 1, apenas o fez um mês mais tarde, no GP da Grã-Bretanha, e pelo meio, tinha alcançado o seu 133º e último ponto em Clermont-Ferrand, palco do GP de França, quando cruzou a meta no sexto posto. Mas nos Estados Unidos, ainda continuou a correr na USAC e na Trans-Am, acabando apenas no outono, quando levou o seu Plymouth Barracuda a um quinto posto em Riverside.

Ele já tinha 40 anos, e tinha tido uma vida plena, tendo sobrevivido a todas as armadilhas mortais. Os seus adversários respeitavam-no, tendo Jim Clark dito ao seu pai que Gurney era o único piloto que temia, e ele disse isso ao americano no dia do seu funeral. Agora, começava já a planear a sua vida como construtor, com algumas ideias na sua mente. Mas isso falarei no próximo capitulo.

Sem comentários: