As comemorações dos britâncos em relação à vitória de Lewis Hamilton, no passado domingo, em Silverstone, com a multidão a levá-lo aos ombros, numa espécie de "crowdsurfing", mostram que de fleuma, os britânicos já têm muito pouco. Sempre celebraram "forte e feio" as vitórias dos seus, mostrando que são mesmo a nação com mais campeões do mundo na sua história: dez, desde 1958. E desses, oito são ingleses e dois escoceses (Jim Clark e Jackie Stewart)
Esta não é uma festa nova, como é óbvio, e faz lembrar outras comemorações no passado onde os britânicos expressaram toda a sua alegria pela vitória de um dos seus. Aqui ficam cinco exemplos memoráveis, onde curiosamente, quatro deles aconteceram... com o mesmo piloto. E a quinta acabou por não contar para as estatisticas.
Os livros de história vão dizer que o vencedor desta corrida foi Niki Lauda, após a desclassificação do primeiro vencedor, James Hunt. Mas numa altura em que o GP britânico alternava entre Silverstone (nos anos ímpares) e Brands Hatch (nos anos pares), a ida da Formula 1 a aquele circuito no sul inglês calhava numa altura especial.
Num ano onde Niki Lauda dominava a seu bel-prazer, as vitórias de Hunt na corrida anterior, em França, e poucos dias depois, quando venceu o apelo que a McLaren tinha feito para contestar a desclassificação no GP de Espanha, atiçaram o interesse para que os britânicos fossem assistir e apoiar o seu conterrâneo. Especialmente, depois de se saber que a BBC boicotava as transmissões televisivas devido ao patrocinio "malandro" da Surtees...
Num ano onde Niki Lauda dominava a seu bel-prazer, as vitórias de Hunt na corrida anterior, em França, e poucos dias depois, quando venceu o apelo que a McLaren tinha feito para contestar a desclassificação no GP de Espanha, atiçaram o interesse para que os britânicos fossem assistir e apoiar o seu conterrâneo. Especialmente, depois de se saber que a BBC boicotava as transmissões televisivas devido ao patrocinio "malandro" da Surtees...
Num verão especialmente quente - a Europa atravessava uma vaga de calor - Hunt era o menino querido dos ingleses, que o queriam ver vencer. Mas tudo isso esteve para não acontecer quando ele se viu envolvido na carambola na primeira curva, em Paddock Hill Bend, quando bateu no Ferrari de Clay Regazzoni, danificando o seu carro. Hunt recolheu o seu carro às boxes - sem dar uma volta completa ao circuito - e quando os comissários repararam nisso, excluiram-no.
Quando os espectadores ouviram o aviso pelos altifalantes... odiaram. Primeiro com sonoros apupos, depois com gritos de "nós queremos o Hunt, nós queremos o Hunt!" e para piorar as coisas, algumas pessoas, mais exaltadas, começaram a atirar garrafas de vidro para o asfalto, colocando os carros em risco de furos a alta velocidade. Com isso em mente, os comissários decidiram reinstaurar o piloto britânico na corrida, e essa demora deu tempo aos mecânicos para reparar o McLaren danificado.
Na corrida própriamente dita, Hunt superou Lauda e venceu. No final, uma multidão em delírio celebrava o vencedor, que dizia que isto tudo lhe tinha dado "nove pontos, vinte mil dólares e muita felicidade". Só que a Ferrari apelou para a FIA e dois meses depois, deu razão à equipa de Maranello.
A primeira vitória de Nigel Mansell, "the British Lion" foi em Brands Hatch, mas no ano anterior, numa corrida que foi batizada de "Grande Prémio da Europa", uma maneira de preencher o lugar devido a uma corrida cancelada, e também de ter a Formula 1 naquele lugar nos anos ímpares. Mas no ano seguinte, a vitória de Mansell naquele mesmo local fora em circunstâncias diferentes.
Primeiro que tudo, foi a primeira aparição de Frank Williams após o seu acidente no inicio do ano, que o atirou para uma cadeira de rodas. A sua aparição, depois de ter estado em risco de vida, foi devidamente aplaudida pela multidão presente. Mansell tinha sido superado nos treinos por Nelson Piquet, seu companheiro de equipa, mas ele achava que seria mais veloz na corrida.
Só que, tal como dez anos antes, houve confusão na partida: uma carambola na traseira do pelotão na Paddock Hill Bend colocou meia dúzia de carros fora de prova, o mais grave deles todos tinha sido o Ligier de Jacques Laffite, que igualava Graham Hill como o piloto com mais corridas na Formula 1, com 176 Grandes Prémios. O veterano piloto, então com 42 anos, tinha fraturado ambos os tornozelos e não voltaria mais à categoria máxima do automobilismo.
Na segunda partida, Mansell conseguiu superar Piquet e fez uma corrida de sonho até alcançar a meta no primeiro lugar, para delírio dos britânicos, que se viam orfãos de um piloto capaz de vencer títulos, desde Hunt. Nas traseiras de um Range Rover da organização, e a caminho do pódio, Mansell sentia o carinho dos adeptos pela segunda vez em poucos meses. Ele ainda teria mais disto nos anos seguintes...
O ataque ao título no ano anterior tinha acabado com estrondo na reta Brabham, em Adelaide, vendo o campeonato cair ao colo de Alain Prost, no seu McLaren. E Mansell continuava com fome de vitórias, tanta fome que os seus excessos o fizeram ser apelidado de "Brutânico". Em 1987, a Formula 1 ia para Silvestone, para cumprir a rotatividade, mas isso seria a última vez que iria acontecer, pois a partir do ano seguinte, a corrida britânica ficaria em Silverstone.
A rivalidade entre Mansell e Piquet estava no auge, e o brasileiro, numa equipa em que todos trabalhavam para o britânico, tinha de ser mais esperto. Era mais regular, mas o líder era Mansell, à custa das suas três vitórias até então (Piquet não tinha ganho nenhuma).
Numa Silverstone a abarrotar pelas costuras, uma das pistas mais velozes do campeonato vira Mansell ser o "poleman" numa das médias mais velozes de sempre. Mas Piquet, esperto, partiu para a liderança, mantendo-se numa estratégia de não parar para trocar de pneus. Mansell ia seguir a mesma coisa, mas um furo lento a meio da corrida o fez ir às boxes, perdendo tempo e a liderança para o brasileiro. Furioso, o "brutânico" encolheu a distância enquanto via as voltas diminuirem até à bandeira de xadrez, pensando que não tinha tempo.
Mas tinha: a três voltas do fim, Mansell colou-se à traseira de Piquet, e no final da Hangar Straight, enganou o brasileiro quando este tentou bolqueá-lo, indo para o outro lado. A manobra levou os britânicos ao delírio, passando a ser o seu novo herói nacional e comemorando devidamente, invadindo a pista.
Depois da Williams (um acidente em Suzuka o impediu de alcançar o título), Mansell foi para a Ferrari por duas temporadas. A derradeira escolha do "Commendatore" antes da sua morte, em agosto de 1988, ele não deixou de ser quem era, com vitórias épicas (Brasil 1989) e falhanços imcompreensiveis (Japão 1990). E os italianos ficaram rendidos, chamando-o de "Il Leone".
Em 1991, Mansell regressara à Williams, a pedido de Frank Williams, que o tentara dissuadir de abandonar a Formula 1, após o anuncio feito por ele mesmo no GP britânico, onde desistiu depois de uma corrida brilhante, lutando pela vitória com os McLaren e o seu companheiro de equipa, Alain Prost. Frank tinha prometido a Nigel que iria ter um carro decente, e cumpriu, com o FW14.
Mas a temporada para a Williams tinha começado de forma complicada quando Ayrton Senna venceu os quatro primeiros grandes prémios, e Mansell teve mais um dos seus momentos embaraçosos quando deixou escapar a vitória do GP do Canadá... a meio da última volta, a favor do seu rival Nelson Piquet. Quando finalmente a Williams ganhou, no México, foi com... Ricciardo Patrese, seu companheiro de equipa.
Mansell venceu em Magny Cours, palco do GP de França, o que lhe deu esperança de fazer um bom resultado em paragens britânicas, uma semana mais tarde. E assim foi: Mansell dominou completamente a corrida, com a pole-position e a liderança do principio até ao fim. E para melhorar as coisas, viu o seu arqui-rival Senna desistir na última volta, perdendo uma certa ida ao pódio, no segundo lugar.
Mansell, magnânimo, quando viu o brasileiro na berma, deu-lhe boleia até às boxes no flanco do seu carro, enquanto que a multidão mais uma vez invadia a pista, num dos momentos inesquéciveis da Formula 1.
Com 39 anos em 1992, Mansell teve finalmente o título que desejava. Num ano dominante, numa máquina dominante desenhada por Adrian Newey - o FW14B - Mansell vencera quase todas as corridas nessa temporada. Nada mau para quem dois anos antes tinha anunciado a sua retirada frustrado por não alcançar o seu sonho.
E o GP britânico não seria diferente. Como no ano anterior, Mansell dominou nos treinos e na corrida, de fio a pavio. E depois de cotara a meta, teve um banho de multidão como nunca tinha acontecido no circuito, fazendo com que o seu regresso ao pódio se complicasse e acabasse - tal com em 1986 e 87 - a ser rebocado pela organização, que o colocou no local o mais rapidamente possivel. E poucas semanas depois, na Hungria, tornou-se no campeão mais antecipado até então, em termos de calendário, quando faltavam cinco corridas para o final dessa temporada.
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