Há precisamente 45 anos que a Formula 1 encerrava a sua temporada em paragens americanas. No renovado circuito de Watkins Glen - que tinha passado dos 3780 para os 5400 metros no seu desenho para cumprir os critérios que a Formula 1 apertava cada vez mais - a Tyrrell estava em modo comemoração, depois da dominadora temporada que tinha tido nesse ano, com Jackie Stewart a celebrar o seu segundo título, com sobras.
Stewart tinha como companheiro de equipa um jovem e talentoso piloto francês, Francois Cevért de seu nome. Alto, jovem e com olhos azuis, era um Apollo (ou Adónis) do qual as mulheres suspiravam e os homens sentiam inveja. O seu talento era bruto, mas Stewart achava que se fosse polido, seria tão campeão como ele. O escocês sempre gostou de ensinar aos pilotos, no sentido de "polir" o seu estilo para serem tão suaves como ele ele na pista, e que isso era a diferença para alcançar o lugar mais alto do pódio mais vezes.
Cevért aprendeu o que podia, porque tinha essa vontade. Se queria vencer e ser campeão do mundo, tinha de aprender com os melhores. E numa equipa que era vista como uma familia, ele sentia-se em casa... apesar de ser francês.
Naquela corrida, ele pensava que iria ser como as outras: seguiria Stewart e ambos acabariam em dobradinha, com ele em segundo lugar. Só que as coisas correram um pouco mal, pois Stewart teve problemas no carro bem cedo, e deu sinal a ele para ir à frente. Ele foi, superou os obstáculos - o maior dos quais foi o despiste de Jacky Ickx, que quase o pôs fora de prova - e conseguiu subir ao lugar mais alto do pódio.
A vitória era simbólica, por muitos motivos. Pela primeira vez desde 1958, o hino francês voltaria a ser tocado, o que dava um certo feito de orgulho no "coq francais". Não era num Matra - que estava a ser guiado pelo seu cunhado, Jean-Pierre Beltoise - mas o carro era azul e isso bastava. Mas Beltoise, que na altura ainda não tinha ganho nada - iria ganhar dali a uns meses no Mónaco, a bordo de um BRM - essa vitoria deve ter tido um sabor agri-doce, pois pensava que era ele que ficaria com o feito, e ainda por cima, tinha corrido com Stewart por duas temporadas...
Ver Cevért no lugar mais alto do pódio foi uma vitória popular para entendidos e fãs. Contudo, dois anos - e alguns dias depois - todos eles lamentariam, em choque, pelo seu desparecimento. E ainda por cima, numa altura em que todos acreditavam que a sua hora tinha chegado, por causa da retirada quase anunciada do seu companheiro de equipa.
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