quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Que Formula 1 vamos ter num futuro próximo? (parte 2)

Na terça-feira escrevi sobre o que poderá ser o futuro da Formula 1, na semana em que o Mundial termina, em Abu Dhabi. Falei que as pistas asiáticas, outrora sendo a "galinha dos ovos de ouro" de Bernie Ecclestone, estão agora a escapar das mãos do "anão tenebroso" por causa das cada vez maiores exigências da sua parte. Tanto que Malásia e Singapura já pensam em largar a Formula 1. A primeira a partir de 2018, e a segunda ainda discute a sua continuidade, mas não quer as crescentes exigências do "octogenário".

Para além disso, falei também sobre as lutas pelo poder e controlo da Formula 1, agora que a Liberty Media adquiriu a maioria das ações à CVC Capital Partners. Bernie não é muito fã dos novos donos, que por agora o deixam controlar as coisas, "business as usual", porque querem saber como é que funciona para depois poderem aplicar as suas ideias para rentabilizar ainda mais a competição. Mas eles sabem que não é só Bernie que mexe os cordelinhos, pois tem também o Grupo de Estratégia, e quem, entre as equipas, tem mais poder.

Toda a gente sabe que Bernie está agora está na idade em que pode morrer a qualquer momento, mas ele ainda é importante, principalmente quando falamos da renovação do Acordo da Concórdia, que vai começar a ser negociado em 2017 para que esteja concluído no ano seguinte, e entrar em vigor, o mais tardar, no final de 2019. A genialidade dele é colocar todos contra todos para que no final haja um acordo no qual ele saia a ganhar, mas que os outros também tenham alguma coisa, para dar a ideia que também ganharam algo. Daí que, por exemplo, a Ferrari tenha mais de cem milhões de dólares todos os anos... ainda antes de fazer o primeiro parafuso do carro do ano seguinte.

Mas no Grupo de Estratégia há atores novos - pelo menos em termos de idade - nesta engrenagem. Ron Dennis foi-se embora da McLaren, depois de 35 anos de bons serviços, e esta semana, foi anunciado como seu substituto o americano Zak Brown.

E vale a pena falar um pouco sobre Brown, por uma simples razão: este americano de 45 anos teve nas semanas antes à chegada à McLaren a adquirir vários orgãos de comunicação social especializados em automobilismo. Através da JMI, Just Marketing International, primeiro, comprou a Motorsport.com, depois comprou a Haymarket Group, que é dona da Autosport britanica, e este fim de semana que passou, adquiriu a Motors TV, por somas não reveladas, mas que não devem ter sido muito grandes, pois há uns meses se falava que o canal de televisão de origem francesa estava em processo de falência.

A entrada de Brown no universo da Formula 1 foi um pouco "bombástica", mas este anuncio criou um inesperado problema. Falava-se que Brown seria a pessoa que ficaria com o lugar de Ecclestone na Formula 1, quando ele morresse, mas sendo proprietário (ou testa de ferro) do conglomerado de revistas e sites especializados pode mostrar um potencial conflito de interesses do qual ainda não foi abordado. Para além disso, esta questão não está totalmente resolvida, pois a sua entrada na McLaren é vista como uma solução "interina" por parte dos outros dois sócios da equipa de Woking, nomeadamente Mansour Ojjeh e o fundo soberano barenita.

O que ele vai fazer por ali num futuro próximo é algo do qual vai ter de ser definido.

Outra personagem que anda por ali há mais tempo, mas que agora se viu como decisivo no Grupo de Estratégia e na Formula 1, é o austríaco Christian "Toto" Wolff. Também um antigo piloto, chegou à Formula 1 em 2009 como accionista minoritário da Williams, antes de em 2012 ter passado para a Mercedes (os motores da marca alemã são uma compensação pela transferência) com poderes executivos, ao lado de Niki Lauda. Os dois fazem uma boa parceria e são as pessoas que dão a cara pelo sucesso da marca alemã na Formula 1, mas mais do que isso, são os que conseguiram uma decisiva influência na categoria máxima do automobilismo, aproveitando a decadência da Ferrari.

Até que ponto existe essa influência? Quatro equipas - Mercedes, Force India, Williams e Manor - e pilotos como Pascal Wehrlein e Esteban Ocon. No caso do francês, que entrou na Formula 1 a meio da temporada, vai ser piloto da Force India em 2017, à custa de descontos nos motores alemães. E o talento de Ocon era tal que ele já tinha sido piloto de testes da Force India e este ano, era terceiro piloto da Renault, antes de ser titular na Manor. Se muitos pensam que a Red Bull poderá mandar na categoria, pensem melhor...

E nas últimas semanas, surgiu o rumor de que Ross Brawn, o engenheiro que saiu dos Flechas de Prata em 2014 para gozar a reforma, poderia fazer o regresso à Formula 1 como seu diretor, no lugar de Bernie. Claro, Brawn seria mais um dos muitos nomes dos quais é apontado para o lugar do octogenário anão, enquanto ele continua ali a rondar o "paddock", incontestável, mas ele passou pela Mercedes e poderia influenciar as coisas a seu favor. E ainda por cima, como também trabalhou na Ferrari, até poderia ser um elo de ligação entre ambas as equipas. Com o consentimento da Red Bull, até...

Contudo, no meio disto tudo, temos uma terceira personagem com aspirações a ser o "manda-chuva" da Formula 1, e também na casa dos 40 anos: Christian Horner. O britânico, ex-piloto de Formula 3 e Formula 3000, fundador da equipa Arden, entrou na Formula 1 depois da Red Bull ter comprado a Jaguar, no final de 2004. Nessa altura, Horner tinha 31 anos e tornou-se num dos mais jovens diretores de equipa de sempre na categoria máxima do automobilismo.

Ao longo destes doze anos de conhecimento como diretor de equipa, tornou-se num dos rostos do sucesso da Red Bull na Formula 1, especialmente com os títulos conquistados por Sebastien Vettel, entre 2010 e 2013. Hoje em dia, parece que a equipa dos energéticos poderá estar um pouco mais enfraquecida, mas a temporada de 2016 até vai ser boa para eles, pois vão conquistar as únicas vitórias fora da Mercedes esta temporada, e tem garantido o segundo lugar no Mundial de construtores, na frente da Ferrari. E isso tudo com um motor "TAG-Heuer"...

Contudo, Horner tem ambições de ficar com o lugar de Ecclestone. É frequentemente visto ao lado dele, mas muitas das vezes esse posicionamento faz com que os seus detractores falem que essas ambições existem porque dentro da Red Bull, a sua influência é o equivalente "à rainha de Inglaterra", comparado com a influência de Dr. Helmut Marko, por exemplo. E ter mais poder também seria forma de ele ser "levado a sério", caso não o seja.

Contudo, ter alguém como Horner a mexer os cordelinhos até seria ótimo para contrariar o domínio da Mercedes na Formula 1. Quando em 2015 as relações da Red Bull com a Renault deterioraram-se e a equipa de Milton Keynes viu-se vetada da chance de ter motores Mercedes, a ideia de ter Horner no lugar de Ecclestone poderia ser usada para alcançar... ainda mais vantagens para os energéticos. É que se a Ferrari tem cem milhões de dólares vindos da FOM, ainda antes de fazer o seu primeiro parafuso, a Red Bull tem também o mesmo preço (McLaren, Mercedes e Williams tem um pouco menos)

Mas toda esta gente está a mexer-se dentro do chamado "Grupo de Estratégia", o que indica que serão eles a deter o poder real quando Ecclestone "for ter ao colo do Capeta", e vai ser dentro dali que se cozerão as linhas para o futuro da Formula 1. Não só nas relações entre as equipas, no delineamento de um novo Acordo da Concórdia, como também nas relações com a Liberty Media e sobretudo, com a FIA.

Na terceira (e última parte), falaremos sobre os regulamentos para 2017 e que tipo de carros é que iremos ver.

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